Arquivo Distrital de Faro: 17 anos depois, à beira do encerramento?

O Arquivo Distrital de Faro, cujo novo edifício comemorou há dias 17 anos, tem visto a qualidade dos serviços prestados […]

O Arquivo Distrital de Faro, cujo novo edifício comemorou há dias 17 anos, tem visto a qualidade dos serviços prestados degradar-se nos últimos anos.

Sem diretor desde dezembro passado, a nova diretora toma posse esta segunda-feira, dia 3 de março. Trata-se de Maria Luísa Pereira, que era até agora arquivista da Câmara Municipal de Silves. Espera-se que possa dar um novo fôlego a uma instituição importante para a região.

A 25 de fevereiro de 1997 era solenemente inaugurado, em Faro, pelo então ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho, um moderno e modelar edifício destinado a Arquivo Distrital. Eram volvidos 27 anos desde a sua criação e, com ele, terminava um longo calvário no que respeita a instalações.

O novo edifício foi o resultado de incansáveis esforços e outras tantas amarguras de um dos seus mais diletos e incansáveis diretores, Salustiano Lopes de Brito.

O ministro da Cultura a discursar na inauguração, perante José Mattoso (então diretor do ANTT), João Guerreiro (presidente da CCDRA à data) e Luís Coelho (então presidente da Câmara de Faro).

O Algarve tinha agora o seu Arquivo, que ombreava com a casa mãe, a Torre do Tombo / Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, da qual depende diretamente.

A memória da região, vertida no seu espólio documental, ficava assim guardada em edifício próprio e disponível a todos os interessados, para consulta numa ampla sala de leitura. O Algarve tinha a sua “Torre do Tombo”, com salas de exposições e de reuniões e um vasto depósito documental.

Na verdade, as paredes do Arquivo Distrital encerram um espólio vastíssimo, sendo um dos mais ricos do país, comparativamente com outros distritos.

Nele se encontram incorporados os registos de batismos, casamentos e óbitos de todas as paróquias algarvias, de meados do século XIX à primeira década do século XX, os processos judiciais das comarcas da região, os documentos produzidos nos cartórios notariais (com datas extremas de 1590-1989), ou ainda o fundo documental do Governo Civil de Faro, com elementos anteriores à sua criação (1752-1981).

Inclui igualmente outros fundos, como o da 5.ª Circunscrição Industrial, da extinta Junta Autónoma das Estradas – delegação de Faro (1856-1969), da Direção de Finanças (1440-1936), dos Compromissos Marítimos, Companhia de Pescarias do Algarve (1816-1937), dispondo ainda de uma biblioteca de apoio e hemeroteca.

Todavia, e apesar deste riquíssimo espólio e de uma frequência assinalável de leitores (mais de 2000 por ano), a qualidade dos serviços prestados tem vindo a degradar-se nos últimos anos e de forma muito substancial ultimamente, mesmo apesar de um incremento significativo de leitores, que procuram elementos com vista à isenção da taxa de recursos hídricos.

Sem diretor desde dezembro passado, tomará posse amanhã a nova dirigente. Porém, e depois do enérgico Dr. Salustiano, não teve o Arquivo Distrital até ao momento diretores que pugnassem pelo engrandecimento do espaço, salvo raras exceções.

Hoje, o Arquivo, de modelar só tem mesmo o edifício, pois a sala de leitura não tem ar condicionado há vários anos, por este estar avariado, o mesmo acontecendo com o digitalizador, inoperacional desde maio passado, com prejuízo dos leitores e dos próprios documentos, funcionando apenas uma velha fotocopiadora.

Os elevadores também já não operam. A juntar a tudo isto a manutenção do espaço é bastante precária, ressaltando à vista o terraço exterior do primeiro andar, que evidenciava carência de conservação há largos meses, bem como a higiene das casas de banho, pois o Arquivo já não dispõe de serviço de limpeza, como aconteceu até muito recentemente.

São agora as duas técnicas profissionais que, além de fazerem o atendimento ao público, durante o horário normal de expediente, efetuam a limpeza, ao fim do dia, fora do seu horário de trabalho e sem qualquer remuneração adicional para o efeito.

No que toca a recursos humanos, estes são críticos, trabalhando naquele espaço apenas cinco pessoas: além das duas técnicas já referidas, acrescem somente dois técnicos superiores e um profissional, que fazem o tratamento arquivístico dos documentos (muitos ainda por inventariar).

Dezassete anos depois de inaugurado é este o estado do Arquivo Distrital de Faro. Face a tudo isto, só falta mesmo o seu encerramento.

Que os investigadores, forças vivas da cidade de Faro, autarquias, Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) e população em geral, em suma toda a região, sejam enérgicos no repúdio da situação atual, exigindo a operacionalidade e dignidade do Arquivo Distrital de Faro à Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas/Torre do Tombo, sediada em Lisboa, sob pena de muito brevemente se perder a história coletiva da região, e com ela a nossa própria história!

 

Autor: Aurélio Nuno Cabrita
(leitor do Arquivo Distrital de Faro desde 1996)
Aurélio Nuno Cabrita é engenheiro de ambiente e investigador de História Local e Regional

 

 

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