Alunos de todo o Algarve regressam às origens partilhando experiências sobre as suas hortas

«Emprestas-me um bocadinho do teu cabelo?», perguntou Nuno Silva a uma menina. Ela abriu muito os olhos e disse que […]

«Emprestas-me um bocadinho do teu cabelo?», perguntou Nuno Silva a uma menina. Ela abriu muito os olhos e disse que não com a cabeça. Ao seu lado, um rapazinho encheu-se de coragem e deu um passo em frente: «pode usar o meu…mas é para quê?». «Já vais ver», respondeu o técnico do Museu de Portimão.

Nuno Silva agarrou numa pequena madeixa do cabelo do jovem e, com uma lâmina de sílex, cortou com facilidade um tufinho. O miúdo olhou para ele com ar desconfiado e logo passou a mão pela franja, para ver se o penteado elaborado não tinha ficado estragado.

«Estão a ver? Esta lâmina é feita de pedra, mas corta melhor que muitas facas», explicou Nuno Silva aos alunos que se tinham reunido à sua volta para o ver talhar o sílex, usando técnicas da arqueologia experimental, que permitem recriar a forma como os antigos habitantes do povoado de Alcalar, há 5000 anos, fabricavam os seus próprios instrumentos.

A cena passou-se na quinta-feira, no exterior do Museu de Portimão, e Nuno Silva era o orientador de um dos muitos ateliês e oficinas que esta estrutura montou para acolher as centenas de jovens estudantes e professores de todo o Algarve, que participaram no Encontro de Partilhas “Regresso às Origens: as Hortas”.

Os jovens alunos, de várias idades, os seus professores e mesmo alguns pais apresentaram, perante um auditório cheio, projetos de hortas urbanas, familiares, sociais, biológicas.

A eles juntaram-se entidades oficiais, como a direção regional de Agricultura, cujos técnicos falaram, por exemplo, do projeto de propeção, recolha, conservação e caracterização de variedades de fruteiras algarvias com interesse para a agricultura.

Ou ainda a própria equipa do Museu de Portimão, que apresentou o seu projeto da horta pré-histórica, que já está a dar os primeiros passos e começará a ser concretizado em setembro, com o início do novo ano letivo.

Lá fora, no exterior do museu, decorriam então os ateliês e oficinas, que tiveram grande sucesso. Todos queriam experimentar como caçar um veado ou um javali com arco e flecha, «à moda dos pré-históricos», como dizia um aluno de Loulé. Ou meter as mãos no barro para fazer uma peça de cerâmica. Mas havia muito mais para fazer, ver, provar e cheirar, já que por ali também estavam em exposição plantas aromáticas cultivadas nas escolas. Foi um verdadeiro regresso às origens.

 

O importante retorno à terra

Perante um auditório repleto de alunos e docentes de toda a região algarvia, na sessão de abertura, a presidente da Câmara de Portimão Isilda Gomes, deu o mote para o encontro, ao sublinhar que, «nos tempos difíceis que atravessamos, é cada vez mais importante e justificável o retorno à terra e às suas mais-valias, comendo aquilo que produzimos nas nossas próprias hortas».

A autarca realçou o significado comunitário que poderão ter as hortas sociais, não deixando de enaltecer também o facto de a iniciativa representar que «agricultura e educação estão de mãos dadas, pois é nas escolas que devemos começar a trabalhar estas virtualidades».

Para Fernando Severino, diretor regional de Agricultura e Pescas do Algarve, este segmento «tem um grande relevo para o setor económico nacional, nomeadamente devido às exportações, mas também em termos de uma agricultura de proximidade que contribua para a economia local, através daquilo a que se chama circuitos curtos».

O responsável aproveitou a ocasião para divulgar alguns números regionais relativos aos últimos quatro anos, período durante o qual terão sido investidos 232 milhões de euros ao abrigo do PRODEP, os quais geraram dois mil novos postos de trabalho, registando-se o início de atividade de mais 430 jovens agricultores e cerca de 1500 projetos aprovados, em explorações direcionadas para a citricultura, os frutos vermelhos, a apicultura, a horticultura e a floricultura

Também destacou a relevância das hortas sociais e a importâncias das autarquias nesse processo, tendo lembrado a existência em Portimão do projeto situado no Cabeço do Mocho, em terrenos cedidos pela própria Direção Regional de Agricultura e Pescas.

Na sua intervenção, o delegado regional de Educação Alberto Almeida referiu o «papel da comunidade educativa para a salvaguarda da memória do nosso povo, uma vez que através de ações como esta, que visam um salutar regresso à terra, seremos capazes de ultrapassar diversos constrangimentos, tanto atuais como futuros».

O Encontro de Partilhas “Regresso às Origens: as Hortas”, promovido no âmbito do ano internacional em que se comemora a importância da agricultura familiar, foi composta por várias comunicações temáticas, uma mostra e diversas outras atividades, constituindo-se como um subprojeto inserido no movimento “Viver a terra em afetos” do Programa Regional ENPAR (Encontro de Partilhas – Práticas Educativas de Cidadania), dirigido às escolas da região.

 

Partilhar experiências para fomentar a cidadania

Lídia Ramos, responsável pela coordenação do ENPAR, explicou ao Sul Informação que este Programa Regional começou há seis anos, «para promover encontros de partilhas, tendo como elo comum a cidadania transversal à educação». No início, recordou, foi promovido um concurso, mas depressa foi abandonada essa «faceta da competição, optando-se pela partilha».

Ao longo do ano, «há uma rede de professores em escolas e agrupamentos de todo o Algarve, que estão ligados através de uma plataforma e aí vão partilhando as suas experiências».

«Uma coisa muito importante é que o ENPAR não mexe em dinheiro, só envolve parcerias e apoios, nomeadamente em recursos humanos. No fundo, aproveitamos o que cada entidade parceira tem para oferecer», acrescenta Lídia Ramos.

Nestes Encontros de Partilhas, mais do que colocar os professores a falar, a ideia é que os próprios alunos, enquanto participantes ativos nos projetos da sua escola, mostrem o que andam a fazer, os seus sucessos e dificuldades. Isso foi o que aconteceu no Museu de Portimão.

A 7 de Maio, em Tavira, haverá um novo ENPAR, em parceria com os cursos de hotelaria e cozinha, para tudo culminar em maio, entre 28 e 30, com um encontro de partilhas final, no IPJ em Faro.

Este ENPAR foi organizado pela Direção de Serviços da Região Algarve da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares em parceria com os Agrupamentos de Escolas Júdice Fialho e Nuno Mergulhão e a Câmara Municipal de Portimão.

 

Veja aqui mais fotos deste Encontro de Partilhas.

 

 

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