Universidade está «a viver no osso» e não aguentará cortes decretados pelo Governo

«Já se falou de corte de gorduras, de desperdício, de tudo. Neste momento, nós estamos a viver no osso, já […]

«Já se falou de corte de gorduras, de desperdício, de tudo. Neste momento, nós estamos a viver no osso, já não há músculo, e é evidente que esta situação é absolutamente insustentável», garantiu esta quarta-feira o recém-empossado reitor da Universidade do Algarve.

António Branco voltou a afirmar que a solução para o equilíbrio financeiro da instituição passa, obrigatoriamente, pela vinda de mais dinheiro do Orçamento de Estado, algo que confia que virá a acontecer.

Uma solução «política» necessária não só para a UAlg, mas para todas as outras Instituições de Ensino Superior (IES) públicas do País, que podem chegar a meio do ano sem dinheiro suficiente para todas as necessidades que têm. Uma ideia que António Branco já tinha antes de ser reitor e que confirmou numa reunião do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), que teve lugar na terça-feira.

No cargo há menos de dois meses, o novo reitor encontrou a situação financeira «que já estava à espera». «Mas também encontrei algo que eu acho que não tinha consciência. É que, contrariamente ao que terá sido dito, todas as IES estão a correr graves riscos em 2014», disse.

«Por isso é que eu estou absolutamente confiante de que vai haver solução política para este problema. Não há outra solução», defendeu.

Na reunião do CRUP desta semana, «ficou mais uma vez evidente que, se o Governo não corrigir o corte injustificado que fez de 30 milhões, de que se tem falado muito nos últimos tempos, provavelmente, todas as universidades vão ter grandes dificuldades financeiras a partir do meio do ano».

«Senti-me menos sozinho, desse ponto de vista. Porque houve ali um momento que eu me perguntei: mas será que a UAlg está sozinha nas dificuldades financeiras que atravessa? – porque havia quem o defendesse. Não é verdade. O Algarve não está sozinho, apesar de cada universidade ter os seus problemas específicos e não exatamente os da UAlg», ilustrou.

António Branco foi o convidado desta semana do programa radiofónico «Impressões», dinamizado em conjunto pelo Sul Informação e pela Rádio Universitária do Algarve RUA FM. O programa foi para o ar, originalmente, ontem e pode voltar a ser ouvido na íntegra este sábado, às 12 horas, em 102.7 FM ou no site da RUA FM.

A Universidade do Algarve irá receber menos 2,9 milhões de euros do Orçamento de Estado do que foi originalmente acordado, numa negociação entre o CRUP e o Governo, em agosto de 2013.

«Depois de ter sido dada a informação às universidades sobre a dotação orçamental, em agosto, o Governo decidiu cortes nas tabelas dos vencimentos dos funcionários. Ao aplicar estes cortes, aplicou-lhes um valor médio de 6,5 por cento. Ao fazer isso, cortou mais 30 milhões do que devia ter cortado, corte que, na UAlg, atinge cerca de 3 milhões de euros. Isto resulta de um erro!», afirmou.

Pelas declarações do ministro da Educação Nuno Crato sobre esta matéria, António Branco acredita que a solução poderá mesmo vir do Governo. «Pelo que eu percebi das declarações do ministro, iria ser analisada a execução orçamental e, em função dela, ele iria ver quais os problemas causados por esse erro e resolvê-los. É nisto em que eu confio, em que acredito e que acho que vai acontecer», disse António Branco.

 

Orçamento da UAlg volta ao Conselho Geral em Março

O Orçamento da UAlg para 2014 volta a ser apreciado pelo Conselho Geral da instituição em março. Depois de, no final do ano passado e a pouco tempo das eleições de um novo reitor, o órgão de governação da UAlg não ter aprovado a proposta apresentada por João Guerreiro, um novo documento vai ser agora apresentado, já com o cunho da nova reitoria.

«Em março, ainda não sei em que data, haverá nova reunião do Conselho Geral, em que vamos apresentar novos dados. Já temos novos dados, já conhecemos a real dotação orçamental que foi atribuída à UAlg, com uma diferença entre aquilo que devia ser e o que foi atribuído de 2,9 milhões de euros. Não estamos a brincar, é muito dinheiro», revelou.

Estes novos dados terão a ver com as receitas próprias, que, juntamente com as transferências diretas do Estado determinam que a UAlg tenha um orçamento para 2014 na ordem «dos 50 milhões de euros», dos quais apenas «20 e tal milhões» são atribuídos pelo Governo. «De facto, tivemos receitas no final do ano superiores ao que estávamos à espera», disse.

 

Entrevista realizada por Hugo Rodrigues (Sul Informação) e por Pedro Duarte (RUA FM)

 

 

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