Há 45 anos a terra tremeu em Portugal, em especial no Algarve

Assinalam-se hoje os 45 anos do sismo de 28 de Fevereiro de 1969. Este sismo ocorreu às 02h40 (TU), com […]

Assinalam-se hoje os 45 anos do sismo de 28 de Fevereiro de 1969. Este sismo ocorreu às 02h40 (TU), com uma magnitude de 8.0 (MW) e epicentro localizado a sudoeste do Cabo de São Vicente, cerca de 230km a sudoeste de Lisboa.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera, que hoje recorda esse acontecimento, salienta que este pode ser considerado como «o último grande sismo a ocorrer em Portugal Continental, tendo em atenção a conjugação entre a magnitude e os efeitos macrossismicos».

Como o sismo foi sentido em todo o país

Atingiu principalmente a região Sul do país, tendo-lhe sido atribuída uma intensidade máxima VIII (Escala de Mercalli Modificada, 1956) no Algarve, e VI-VII na região de Lisboa e noutras localidades do país.

Esta ocorrência provocou alarme e pânico entre a população, cortes na telecomunicações e no fornecimento de energia elétrica. Registaram-se oficialmente 13 vítimas mortais em Portugal Continental, duas como consequência direta do sismo, e 11 indiretas. Em Marrocos, estão igualmente reportadas algumas vítimas. Foi sentido até 1300 quilómetros do epicentro, particularmente em Bordéus e nas Canárias.

O sismo teve várias réplicas, tendo a estação WWSSN da Serra do Pilar, Vila Nova de Gaia, registado 47 réplicas entre 28 de Fevereiro e 24 de Março.

O evento foi também sentido em vários navios, principalmente nos que navegavam próximo da zona epicentral, tendo um deles sofrido danos estruturais significativos.

Fotografia do Relatório do Serviço Meteorológico Nacional, mostrando estragos em Portimão, com a legenda: «Praticamente todas as ruas da cidade apresentam este aspeto»

Foi ainda gerado um pequeno tsunami que foi observado em diversos marégrafos situados ao longo das costas portuguesas, espanholas e marroquinas, tendo sido registadas amplitudes máximas de 40 centímetros em Lagos e 45 centímetros em Cascais.

No entanto, recorda o IPMA, «a rede sísmica nacional que operava na altura tinha uma dimensão bastante reduzida (apenas três estações sísmicas e uma estação acelerométrica)», pelo que este sismo funcionou como «fator motivador» para um processo de desenvolvimento dessa rede, o qual foi feito em diversas etapas até à atualidade.

 

Efeitos no Algarve

A Igreja de Bensafrim não mostrava muitos danos exteriores, mas por dentro estava muito danificada

Os estragos nas construções no Algarve foram apreciáveis, em particular nas localidades algarvias de Vila do Bispo, Bensafrim, Portimão e Castro Marim.

Nestes locais, o sismo foi violento, tendo-se verificado o aparecimento de rachas em paredes, chaminés e tetos, quebra de vidros, deslocamento de telhas.

Foram várias as zonas atingidas, nomeadamente as povoações de Bensafrim e Barão de S. João. Na primeira destas localidades, caíram mais de 20 casas. Em Vila do Bispo e em todas as povoações deste concelho, os prejuízos foram avultados, com muitas casas derrubadas e outras gravemente danificadas.

Em Lagos, muitos edifícios ficaram danificados e as rachas apresentadas obrigaram a escorar alguns, nomeadamente na Rua Afonso de Almeida e na Rua Direita. O edifício da Câmara Municipal ficou danificado com o piso superior fendido e em risco de derrocada.

Calcula-se que, em Lagos, cerca de 400 casas foram derrubadas ou arruinadas. Algumas pessoas mais amedrontadas utilizaram os seus meios de transporte para, rapidamente, se colocarem a salvo na zona de Santo Amaro.

Na cidade de Lagos houve a lamentar a perda de uma vida, devido a desabamento de uma das paredes da habitação degradada onde vivia. Seguiram-se várias réplicas, uma das quais sobressaltou toda a gente.

 

O seaquake e o tsunami

Segundo o Relatório “Os 45 Anos do Sismo de 28 de Fevereiro de 1969”, elaborado por M. Miranda e F. Carrilho, um navio em trânsito no Atlântico, na posição 36°31´ Norte, 12°33´ Oeste, sofreu uma vibração repentina quase simultânea com a ocorrência do sismo. O capitão do Esso Newcastle reportou: «Um incidente completamente fora do comum e assustador ocorreu esta manhã. Fui atirado para fora da cama por um grave tremor, um ruído surdo e uma vibração, tendo ficado com uma sensação como se o navio se tivesse levantado para fora da água. A minha primeira reação foi a de que tínhamos perdido a hélice ou quebrado uma lâmina (ou) que tinha atingido algum objeto submerso».

Por seu lado, João Rocha, terceiro piloto da embarcação Manuel Alfredo, igualmente localizada na região do epicentro, descreve um acontecimento semelhante ao Diário de Lisboa publicado no dia seguinte: «parecia que estávamos a andar por cima de rochas, que o navio subia escadas. Não recebendo ordens de cima parei as máquinas por julgar que encalháramos … Não sabia onde mas dava a sensação de que o barco trepidava em cima de lajes».

O navio Ida Knudsen, com 32000 toneladas, construído em 1958 relatou um violento choque vertical às 2h 45m UTC, quando estava na posição 36.12ºN 10.70ºW. Sofreu danos estruturais significativos e teve que ser docado em Lisboa (Ambraseys, 1985).

O mesmo tripulante da Manuel Alfredo continuava, a propósito do tsunami gerado: «ondas descomunais envolveram o barco, submergindo a proa. Era uma água castanha e espessa. E logo depois do tremor o mar ficou picado, com uma ondulação miudinha na crista das ondas, que também não é habitual … Entretanto e durante horas, vagas anormalmente grandes balançaram o Manuel Alfredo. Eram ondas diferentes das usuais, mesmo as alterosas».

O sismo de 1969 gerou um pequeno tsunami que foi observado em diversos marégrafos localizados ao longo das costas portuguesas, espanholas e marroquinas.

Capa do Relatório do Serviço Meteorológico Nacional, sobre o sismo de 28 de Fevereiro de 1969

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