Desesperados por um emprego

Nas últimas semanas, um artigo publicado pelo jornal Sul Informação há quase um ano tornou-se viral e um caso de […]

Nas últimas semanas, um artigo publicado pelo jornal Sul Informação há quase um ano tornou-se viral e um caso de estudo. O artigo tem a ver com a contratação pela IKEA Portugal, de 300 pessoas, para a sua loja em Loulé.

O artigo, publicado em abril do ano passado, já foi lido por mais de 30 mil pessoas só este ano (aliás, sobretudo este ano), e todos os dias recebe entre 500 e 1000 novas leituras.

Além disso, têm-se multiplicado os comentários no dito artigo, assim como quase todos os dias recebemos, no email do Sul Informação, mensagens de pessoas a oferecer-se para trabalhar no IKEA de Loulé.

Para começo de conversa, esclareço já que a loja só vai abrir em 2015 e que a contratação de pessoal poderá começar, na melhor das hipóteses, lá para os fins de 2014, como se pode ler na nova notícia que ontem publicámos no Sul Informação.

O interesse constante por este artigo leva-me a dois comentários: primeiro, que esse interesse demonstra como as pessoas, em especial os algarvios, estão desesperadas à procura de emprego. É frequente que notícias do nosso jornal que falem de investimentos futuros e da criação de empregos tenham muitos leitores, embora nada se tenha comparado com este caso.

Depois, outro comentário: as pessoas, mesmo que oficialmente saibam ler e até escrever, não sabem compreender o que leem. É que a maioria dos comentários deixados na notícia publicada no nosso site ou a totalidade dos emails que recebemos são de pessoas a oferecer-se para trabalhar no IKEA, como se o jornal Sul Informação tivesse alguma coisa a ver com o recrutamento.

Já lá escrevemos, nos comentários, várias vezes, que nós somos apenas um jornal e que os interessados devem dirigir-se à empresa sueca ou ao Centro de Emprego da sua área de residência para pedir informações. Até já lá colocámos os contactos e o link para a página das candidaturas no site do IKEA Portugal. Isso mesmo é o que respondemos a todos e cada um das centenas de emails que temos recebido de candidatos a emprego…

Mas ainda assim as pessoas não percebem, não leem, e os comentários continuam a ser postados e os emails continuam a chegar… Se a nossa mão de obra está assim tão pouco qualificada, tão pouco letrada, o que se espera deste país?

É claro que, como também comentou por lá outro leitor mais avisado, se uns não percebem nada do que se passa, outros mantêm-se atentos. E aproveitam as oportunidades quando elas surgem, contactando quem devem contactar.

Fico perplexa quando vejo que há quem, dando-se ao trabalho de aceder a um jornal na internet, não percebe a diferença entre uma notícia e um anúncio. E não percebe que uma coisa é o jornal que dá a notícia outra a empresa a que essa notícia se refere.

Mas o que verdadeiramente me afeta é uma enorme angústia, por ver que neste meu país, neste meu Algarve, há gente tão desesperada por um emprego…

 

Este é o texto da crónica radiofónica que todas as quintas-feiras assino na Rádio Universitária do Algarve (RUA) e
que pode ser ouvida em podcast aqui.

 

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