Alexandre Soares dos Santos queixa-se de ser «mais bem recebido na Colômbia que em Portugal»

Começou por avisar: «estou aqui porque me convidaram e não porque sou o presidente-sombra da Jerónimo Martins». Estava dado o […]

Começou por avisar: «estou aqui porque me convidaram e não porque sou o presidente-sombra da Jerónimo Martins». Estava dado o tom para uns minutos de conversa sem papas na língua de Alexandre Soares dos Santos, que já não é o responsável máximo do Grupo Jerónimo Martins, depois de ter passado a pasta em Dezembro ao seu filho Pedro Soares dos Santos, mas que continua truculento e frontal como sempre.

O seu alvo, perante uma plateia cheia de chefias do Grupo, autarcas, fornecedores, outros parceiros de negócios, empresários, foram os jornalistas…e estavam lá muitos, esta quinta-feira, para a inauguração do Centro de Distribuição do Grupo Jerónimo Martins em Algoz, no Algarve, boa parte deles vindos de propósito de Lisboa num autocarro a convite da empresa.

Garantindo estar a falar «como cidadão», Alexandre Soares dos Santos, de 80 anos, disse-se farto do que «alguns senhores jornalistas escrevem sobre nós», nomeadamente de que são uma «máquina trituradora que mata fornecedores» e lembrou que o Grupo investiu «1,5 mil milhões de euros nos últimos 10 anos em Portugal e criou 10 mil empregos», enquanto nos últimos cinco anos, já com o país em crise, «investiu 540 milhões de euros e criou 1200 empregos. Não andamos aqui a matar ninguém!»

Depois, acrescentou, «nós temos ajudado a agricultura de uma forma extraordinária». E deu exemplos: «há pessoas a criar o chamado Angus Beef estimulados pelo Jerónimo Martins». E «quantas e quantas empresas agrícolas» melhoraram a sua produção porque são fornecedoras do Grupo, disse.

O Grupo Jerónimo Martins , «como outras empresas portuguesas, como a Sonae, contribuíram para a baixa dos preços ao consumidor, para a baixa da inflação em Portugal, para a melhoria da qualidade dos produtos. Isto é bom que se diga!», garantiu Alexandre Soares dos Santos.

«Precisamos de lucros? Precisamos! Se não tiver lucros, não posso investir! E estou a falar em Portugal, não estou a falar na Polónia ou na Colômbia», onde o Grupo tem também importantes negócios no setor da distribuição e do retalho. E onde, pelos vistos, Soares dos Santos se sente mais bem vindo que em Portugal.

O que o patriarca do Grupo não gosta, como já disse várias vezes e hoje repetiu, é que se diga que as empresas de distribuição destroem o tecido económico do país. «Vamos de uma vez acabar com esta noção de que quem investe em distribuição presta maus serviços. Nós só prestamos bons serviços, por isso somos líderes de mercado na Polónia que é um país com 45 milhões de habitantes, onde temos 2300 lojas».

O empresário criticou ainda o destaque que, na sua opinião, é dado a empresas que já nem são portuguesas e foram para o Brasil, como a PT ou a Cimpor, em detrimento da sua própria. «Empresas nacionais como nós, como a Sonae, que ficam cá, são mal vistas. A minha família nunca vai vender a Jerónimo Martins, isto pertence à minha família há 100 anos. Não andamos aqui a fugir aos impostos, como os jornais e a televisão tantas vezes dizem. Nós não fugimos aos impostos, cumprimos a lei, temos um código de conduta severo que vem do meu avô. Investimos na Fundação Fundação Francisco Manuel dos Santos sete milhões de euros por ano!».

Por tudo isso, frisou Alexandre Soares dos Santos, sempre apontando as baterias aos jornalistas, que até estavam ali a fazer o seu trabalho mas a convite do próprio Grupo, «gostaria que os senhores jornalistas pensassem um pouco mais maduramente nas leviandades que tantas vezes escrevem».

É que, lamentou, «sou muito mais bem recebido na Colômbia, onde praticamente não conheço ninguém, que em Portugal». «Somos portugueses, amamos o nosso país. Também custa que, depois de tanto trabalho, de criarmos empresas de tanta categoria, não vejamos reconhecido este trabalho em prol do país».

A terminar, o patriarca do Grupo Jerónimo Martins, afirmou ter «muito orgulho que a gente contribua para o desenvolvimento de Portugal» e avisou: «dentro de algumas semanas, os senhores vão ver o que temos para anunciar em Portugal». Ou seja, mais investimentos estão na calha, e provavelmente em áreas diferentes da atual. Mas isso é matéria para outro artigo.

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