Pedro Nunes: «só sou administrador hospitalar por sentir que posso ser útil»

«Só estou a trabalhar como administrador hospitalar no Algarve porque sinto que, neste papel, a minha experiência, o meu conhecimento, […]

«Só estou a trabalhar como administrador hospitalar no Algarve porque sinto que, neste papel, a minha experiência, o meu conhecimento, podem ser muito úteis. Não é por motivos de carreira, porque não é ser administrador de um hospital que me vai, curricularmente, por à frente de tudo o que já fui na vida, não é economicamente, nem é por não gostar de viver com a família, que está em Lisboa, enquanto eu tento administrar o Centro Hospitalar do Algarve», assegura Pedro Nunes.

O presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), cuja gestão tem merecido fortes críticas de profissionais de saúde, utentes e representantes de vários setores da sociedade algarvia, garante que não está “agarrado” ao lugar e dá a entender que até estaria melhor se voltasse à vida que tinha antes.

Numa entrevista ao programa radiofónico «Impressões», dinamizado em conjunto pelo Sul Informação e pela Rádio Universitária do Algarve RUA FM (102.7 FM), Pedro Nunes garantiu que tudo o que está a ser feito no CHA, que junta os hospitais de Faro, Portimão e Lagos, é no sentido de melhorar o serviço à população e reafirmou que os ataques de que tem sido alvo são gerados, de uma maneira geral, pela falta de conhecimento ou pela ação de «10 ou quinze médicos», que o querem «ver pelas costas», por estar a mexer com interesses instalados.

«Neste momento de crise, acho que todos temos de ajudar a enfrentá-la. É isso que eu espero dos meus colegas [médicos], com todas as críticas – que têm todo o direito a fazer, pois sabem que não há retaliação nenhuma – dos autarcas e das pessoas com responsabilidade local. Espero que estejam à altura de levar as suas populações a perceberem as dificuldades dos momentos que atravessamos», considerou.

Num discurso em que alternou, como é o seu estilo, elogios aos médicos e às anteriores administrações, com críticas mais ou menos diretas aos mesmos destinatários, Pedro Nunes falou de diversos temas quentes da atualidade.

Nos elogios, não deixou de mencionar especificamente os 183 clínicos que assinaram, recentemente, uma carta a denunciar situações de recorrente carência de material, bem como chantagens e pressões, entre outras acusações. Como já havia afirmado antes, Pedro Nunes considera que a maioria destes médicos são «bem intencionados» – ainda que, na sua opinião, mal informados – e que não se reveem em todas as críticas que lhe são dirigidas.

Apesar de ter procurado passar a ideia que tudo se resolve «com bom senso», o presidente do Conselho de Administração do CHA depressa passou ao ataque, justificando muitos problemas existentes com o que não foi feito no passado. Além disso, deixou uma palavra para aqueles que contestam as suas políticas.

«Estes movimentos são desajustados, particularmente injustos, porque, no momento em que vivemos, o Algarve não tem sido prejudicado, até foi beneficiado [financeiramente, pelo Governo] e estamos a apostar que continue a sê-lo. Por conseguinte, há aqui um movimento que não consigo compreender bem. Alguém decidiu colocar o hospital no alvo, quiçá para esconder ou para desviar a atenção de qualquer outra problemática. Mas não há nenhuma razão», defendeu.

Dias depois de uma primeira manifestação junto ao Hospital de Portimão, convocada pelo PCP, e a poucos dias de duas novas manifestações, desta vez cordões humanos convocados por cidadãos para sábado e domingo nos hospitais de Faro e Portimão, Pedro Nunes também fez questão de focar estes protestos.

«Fazer manifestações e cordões humanos é facílimo, fazer abaixo-assinados fiz muitos quando estava no Sindicato. Foi o que eu disse aos meus colegas: se tivesse promovido um abaixo-assinado nas circunstâncias em que o país está, não tinha tido 50 por cento, tinha tido 90, por isso vocês até foram pouco eficazes», afirmou.

Apesar destas críticas, o responsável máximo pelo CHA preferiu, em muitos momentos, dar uma tónica positiva ao seu discurso, apontando «o grande esforço» dos profissionais de saúde, entre os quais os seus detratores, na melhoria dos serviços e contenção de custos. E apela a que a população tenha confiança.

«Esta preocupação que se nota da parte das pessoas, de descrença e preocupação, nomeadamente no Barlavento e em Portimão, em relação aos seus hospitais é profundamente injusta, em relação ao centro hospitalar. No último ano, o CHA contratou muitos mais médicos do que perdeu, tem concursos permanentemente abertos, não teve nenhum corte significativo», disse.

Estes foram apenas alguns dos muitos temas abordados nesta entrevista, em que o presidente do Conselho de Administração do CHA voltou a negar, apesar dos testemunhos de doentes, que alguma vez tenha havido falta de medicamentos, «a não ser uma hormona de tratamento do cancro», reafirmou que não houve fecho de serviços, falou das «10 consultas por mês» de alguns clínicos que agora saíram e alegou que os problemas nos serviços de cirurgia e de neurologia, entre outros, estão ligados ao abandono de médicos «atraídos pelo setor privado», alguns dos quais, diz, não chegou a conhecer.

Nos próximos dias, poderá ler aqui no Sul Informação a posição de Pedro Nunes em relação a outros temas quentes que têm agitado o CHA.

 

Hugo Rodrigues (Sul Informação)/ Pedro Duarte (RUA FM)

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