Diretora regional de Cultura aposta nas parcerias porque «a soma das partes geralmente dá mais»

«Desenvolver a cooperação institucional é fundamental, de forma a trabalhar em rede e em parceria». É assim que Alexandra Rodrigues […]

«Desenvolver a cooperação institucional é fundamental, de forma a trabalhar em rede e em parceria». É assim que Alexandra Rodrigues Gonçalves, a nova diretora regional de Cultura do Algarve, anuncia uma das tarefas a que tem dedicado mais tempo, neste seu primeiro mês e meio de funções.

É que, acrescenta, em entrevista ao Sul Informação, «há de facto escassez de recursos, mas, se nos juntarmos, poderemos fazer algo. Esta pode ser uma ideia muito repetida, mas nem por isso deixa de ser importante: a soma das partes geralmente dá mais».

Alexandra Gonçalves tem apostado em «contactos e no conhecimento do território, para ver o que há de projetos em marcha», naquilo que considera ser o «ponto de partida para identificar caminhos para o futuro».

Nesse sentido, tem desenvolvido um intenso programa de contactos com as mais diversas instituições algarvias. Já se reuniu com a Região de Turismo do Algarve, com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, com as direções regionais de Economia e de Educação e ainda com algumas Câmaras Municipais.

Neste último caso, «por dificuldades de agendas deles ou minhas, só terminarei essas reuniões com os municípios no dia 11 de Fevereiro, mas estão todas agendadas. Houve mudanças em muitos executivos, pelo que as abordagens têm sido centradas na apresentação de competências e de atribuições, na discussão sobre o ponto de situação dos processos de planeamento, de classificação e salvaguarda dos bens culturais (classificados e arqueológicos), nos projetos de cooperação já existentes e na abertura de espaço para nova cooperação e trabalho em conjunto», explica a diretora regional de Cultura.

«Têm sido reuniões com alguma profundidade e de grande simpatia e abertura», garante Alexandra Gonçalves.

 

Parceria no Turismo Cultural avança

Esta intensa agenda de reuniões já está a dar resultados. Da reunião com o presidente da RTA, Desidério Silva, saiu uma definição de linhas de atuação em conjunto no segmento dos circuitos turísticos, religiosos e culturais.

Entre as parcerias já em curso ligando a Direção Regional de Cultura e a RTA contam-se a valorização da gastronomia pela Dieta Mediterrânica, recentemente classificada Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO, a dinamização da candidatura de Sagres a Paisagem Cultural da Humanidade com o Município de Vila do Bispo e a promoção de itinerários dedicados aos Descobrimentos e à presença islâmica.

A Direção Regional irá, no âmbito desta parceria, identificar os recursos culturais que podem potenciar a atividade turística. Do ponto de vista da RTA, tal como ontem anunciou o seu presidente Desidério Silva, a estratégia passará também pela «formação dos colaboradores» ao serviço dos postos de turismo, bem como pelo «ajustamento dos horários de funcionamento dos museus e monumentos» aos ciclos da procura turística.

Além disso, durante o primeiro semestre deste ano, está prevista a realização de um encontro ao mais alto nível para debater a união do Turismo e da Cultura, iniciativa que reunirá os dois responsáveis regionais, os secretários de Estado do Turismo e da Cultura e individualidades do meio académico, empresarial e jornalístico de ambas as áreas.

Nesta sua ronda inicial de contactos, Alexandra Gonçalves acrescenta que «as associações empresariais também estão na minha agenda próxima e, antes disso, a Universidade do Algarve».

 

CCDRA deve ser «elo regional» nos fundos de investimento

Em época de forte contenção financeira, uma das preocupações da diretora regional de Cultura é o financiamento deste setor.

«Há fundos temáticos, há fundos nacionais, há fundos regionais e até internacionais, cada um com as suas exigências, em termos de regulamentos, de candidaturas, de elegibilidade. O que não há é alguém que, na região, possa informar as entidades e os atores culturais sobre esses fundos que estão disponíveis, como os articular, como os utilizar», explica.

Por isso, acrescenta Alexandra Gonçalves, «já falei com o presidente da CCDRA para que possa existir um ponto de contacto na área dos fundos de investimento que possam privilegiar a cultura e o património. No outro Quadro Comunitário havia um ponto de contacto, mas sem ninguém cá em baixo, no Algarve, que fizesse esse trabalho e prestasse as informações. É preciso haver alguém cá, que esteja próximo, e que possa informar sobre os fundos disponíveis. Falta-nos esse elo, de alguém que, na CCDRA, esteja especialmente dedicado a prestar essa informação e apoio».

«No Algarve, por ser região em phasing out, as nossas contrapartidas têm que ser sempre mais elevadas, o que dificulta as candidaturas e o consequente acesso a fundos. Mas, por vezes, os fundos poderem ser acumulados entre si, assim permitindo maior investimento. Temos de tentar esgotar ao máximo os fundos disponíveis e assim ajudar os agentes culturais».

Entre as prioridades para a Direção Regional de Cultura, a nova responsável pelo organismo elege o «combate à exclusão social e à desertificação do interior do Algarve, a educação para a Cultura e para as Artes, a valorização do Património Imaterial», um desígnio que considera ter sido agora «reforçado com a Dieta Mediterrânica, recentemente classificada Património Humanidade, o que faz com que tenhamos aí uma oportunidade única, para a qual é necessário que nos unamos».

Outras prioridades são ainda «a revitalização dos Núcleos e Centros Históricos, a preservação das tradições e do património imaterial, preservação nem que seja apenas pela sua inventariação sistemática», bem como a «inovação cultural, que passa pelos projetos multidisciplinares, o trabalho em rede, as parcerias». Tudo isto, admite, «é extremamente ambicioso», pelo que nestes primeiros meses de trabalho «teremos de definir prioridades em relação a estas linhas fundamentais».

 

Hoteleiros e empresários serão chamados

Voltando ainda à sempre premente questão do financiamento das Artes, da Cultura e do Património, Alexandra Gonçalves sublinha, na sua entrevista ao Sul Informação, que o Algarve tem «cerca de 400 unidades hoteleiras e perto de 5 milhões de visitantes por ano. Temos de encontrar uma forma de potenciar a relação com estes empresários, uma vez que, do lado da Cultura e do Património, sabemos que as verbas são diminutas. Mas sabemos também que um dos fatores de distinção de um território turístico é a sua Cultura e o seu Património». Por isso, frisa, «há que maximizar esta relação e encontrar aí formas de colaboração e parceria».

Revelando a sua formação muito ligada às relações entre Cultura e Turismo, a diretora regional vê na atividade turística, que é a base da economia regional, muitas oportunidades. «O Turismo é uma oportunidade de internacionalização da nossa produção cultural e artística, porque, durante um período do ano, temos aqui mais 5 milhões de pessoas. Temos de aproveitar esse facto para dar a conhecer o nosso património, as nossas indústrias culturais, as práticas artísticas em geral».

No entanto, assegura, «quando falo em Turismo, não esqueço a comunidade. A comunidade é a base. Por isso é que digo que a Cultura tem que estar em todo o lado, tem que estar nas escolas, tem que estar nas associações, tem que estar na rua, tem que se mostrar. Se nós valorizarmos a importância do nosso património e da nossa identidade junto da comunidade, é meio caminho para que esta comunidade depois valorize o que cá existe perante os outros», nomeadamente perante os turistas.

 

Voluntariado nas artes e cultura deve desenvolver-se

Por falar em comunidade e não deixando de ter no horizonte a questão da falta de financiamento, Alexandra Gonçalves recorda a necessidade de apostar em desenvolver o voluntariado nas artes e na cultura, no Algarve.

Um estudo de 2012 indicou que o Algarve foi das regiões do país «com menos voluntariado nas artes e na cultura», pelo que essa é uma área em que a direção regional quer apostar, em parceria com outras entidades.

«Há muitas áreas que podem beneficiar – a organização de uma sala de espetáculos ou de visitas aos monumentos, a reabertura de alguns espaços, como igrejas, em colaboração, por exemplo, com as Misericórdias, as Paróquias e os Cabidos». «Se os recursos financeiros são escassos, não podemos ficar de braços cruzados a lamentar-nos, há que encontrar as soluções».

É na busca dessas soluções que a nova diretora regional de Cultura, que se afirma uma pessoa que gosta de «trabalhar com confiança mútua, em equipa, partilhando as minhas formas de pensar e sempre a ouvir os outros», se tem empenhado nestas suas semanas iniciais de trabalho.

«Não poderemos deixar de trabalhar com responsabilidade, com racionalidade na despesa, mas sempre com qualidade naquilo que oferecemos», conclui Alexandra Gonçalves.

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