AMAL aposta «no diálogo» para resolver problemas dos hospitais do Algarve

Os 16 presidentes de Câmara algarvios decidiram pedir uma reunião com o ministro da Saúde para «exigir» um maior investimento […]

Os 16 presidentes de Câmara algarvios decidiram pedir uma reunião com o ministro da Saúde para «exigir» um maior investimento na saúde da região.

Uma posição tomada por unanimidade pelo Conselho Intermunicipal da AMAL, que, apesar de consensual, não terá ido tão longe como alguns dos autarcas pretenderiam e praticamente deixa de fora a “guerra” interna vivida no Centro Hospitalar do Algarve (CHA). Em vez disso, dá-se prioridade «ao diálogo e à busca de soluções», a bem do turismo.

A moção aprovada esta segunda-feira, por unanimidade, fala de diversos problemas que têm vindo a ser denunciados pela população e pelos profissionais que trabalham na nova unidade de saúde, que resultou da fusão dos hospitais de Faro, Portimão e Lagos. A falta de meios humanos, quebras no «material corrente», o adiamento de consultas, exames e cirurgias e o processo de reorganização dos serviços feito à revelia das autarquias e outros agentes regionais são alguns dos problemas apontados.

Esta última questão, referem os autarcas na moção, é a que estará «a criar um manifesto conflito» entre médicos e administração do centro hospitalar, a única referência no documento à carta que 183 médicos da unidade de saúde tornaram pública, com fortes críticas à gestão que está a ser levada a cabo.

Antes de votar o documento, na manhã de ontem, os presidentes de Câmara ou seus representantes tinham ouvido as explicações dos presidentes do Conselho de Administração do CHA, Pedro Nunes, e da Administração Regional de Saúde do Algarve, João Moura Reis. Este último, entretanto, instou os médicos e a administração do CHA a «dialogar», para resolver os problemas internos.

Já os médicos acabaram por não ser ouvidos de viva voz, uma vez que as reuniões «foram realizadas em horário de expediente». Os profissionais mostraram-se, ainda assim, disponíveis para «esclarecer quaisquer dúvidas em horário pós-laboral» e reafirmaram, num email, a posição assumida na carta enviada à administração há cerca de duas semanas.

No documento final, os autarcas mostram «a sua preocupação pela falta de prontidão e qualidade na prestação de serviços de saúde» no Algarve e afirmam que «é hora de o Governo olhar para a saúde no Algarve com o propósito de resolver os muitos problemas existentes».

Um dos principais argumentos avançados para a importância de investir no setor público da saúde, que sofre de «suborçamentação», é o pendor turístico do Algarve.

A mesma realidade que justificará uma tomada de posição conjunta menos assertiva  por parte dos presidentes de Câmara. «Devemos olhar para este problema da perspetiva dos doentes, mas também contar com a dimensão turística», afirmou o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve Jorge Botelho

 

Consenso na votação não revela concórdia total

Uma abordagem «pela positiva» que, apesar do consenso, parece não deixar todos os membros do Conselho Intermunicipal satisfeitos. Na reunião, apenas a edil de Silves Rosa Palma deu voz ao seu desagrado e não poupou críticas à reorganização em curso nos hospitais públicos do Algarve, «como autarca e utente», uma vez que «raramente» utiliza serviços de saúde privados.

Na reunião onde a moção acabou aprovada por unanimidade, a autarca comunista de Silves foi das poucas a manifestar a sua visão quanto ao atual estado do CHA. Rosa Palma não esteve nas audições da manhã «com muita pena», mas deixou bem claro que ela própria já sofreu na pele o fecho de valências no Hospital de Portimão, ao qual recorre desde sempre como habitante de Silves.

«Não sei se o Dr. Pedro Nunes admitiu, mas o que se está a passar no Hospital do Barlavento é que há fecho de valências. Isto não é uma reorganização», começou por assegurar. «Pela minha experiência, sei que esta reorganização não nos vem dar resposta a nós, os utentes. Não está a ser prestado um serviço público digno para o utente», afirmou.

«Fui com o meu filho ao otorrino e já não existia. Tive de recorrer a uma clínica privada. No caso de Silves, estamos falar de um concelho de grandes dimensões, com muita gente sem transporte próprio», disse. Ou seja, se já havia dificuldades para muitos em aceder ao Hospital de Portimão, elas agravam-se com a deslocalização de valências para Faro.

Da parte de Jorge Botelho, chegou a garantia, durante a reunião e à margem desta, em conversa com os jornalistas, de que Pedro Nunes admitiu o fecho das valências de «psiquiatria e otorrinolaringologia» em Portimão e a sua concentração em Faro.

A justificação dada, como noutros problemas assumidos pelo CA do CHA, foi «a falta de meios financeiros e humanos».

Quanto às eventuais contradições no discurso de Pedro Nunes, que durante muito tempo afirmou que não haveria fecho de valências e adotou, muitas vezes, um discurso agressivo em relação aos críticos da sua política de gestão, por causa de acusações desta natureza, Jorge Botelho preferiu não se pronunciar, por não estarem «no campo político».

Ainda assim, admitiu que «é relevante que haja 183 médicos», em 220 que trabalham no CHA, a criticar a gestão de Pedro Nunes. «Parece-me que há um mal-estar latente, que não está tudo bem. Mas queremos contribuir pela positiva para a resolução deste problema», disse.

No que diz respeito às exigências que são feitas no documento ontem aprovado, algumas das quais bem antigas, Jorge Botelho mostra-se convicto que terá uma resposta em conformidade por parte do Governo, até «pela unanimidade» que o texto conseguiu.

 

José Amarelinho resume objetivos da Moção

A explicação resumida do que a moção pretende chegou da parte do vice-presidente da AMAL José Amarelinho, edil de Aljezur. O autarca explicou que, desde logo, o que se quer demonstrar ao Governo é que «é imprescindível o reforço de meios humanos».

«Também não abdicamos da flexibilização da Lei dos Compromissos, que está a afetar a qualidade dos serviços de saúde públicos. Por outro lado, o CHA está sub-financiado e a tutela terá de lhe destinar mais dinheiro», acrescentou.

Tanto José Amarelinho como Jorge Botelho consideraram que o processo de reorganização do CHA está a ser «feito à pressa» e sem o envolvimento das autarquias, o que leva a que haja questões «que causam alguns dissabores».

 

 

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