Dieta Mediterrânica: o trabalho só agora está a começar

A extensão a Portugal, tendo Tavira como comunidade representativa, da classificação da Dieta Mediterrânica como Património Cultural Imaterial da Humanidade […]

A extensão a Portugal, tendo Tavira como comunidade representativa, da classificação da Dieta Mediterrânica como Património Cultural Imaterial da Humanidade foi decidida a 4 de dezembro em Baku, no distante Azerbeijão, durante a sessão de um organismo da UNESCO que trata destas questões.

Para Portugal em geral, e para o Algarve e Tavira em particular, esta é uma grande vitória. É o reconhecimento, para já, do trabalho feito por Jorge Queiroz, que coordenou todo o processo por parte da Câmara de Tavira, e para Jorge Botelho, o autarca tavirense que sempre acreditou.

É também o reconhecimento máximo de uma certa forma de estar na vida, de conviver, de semear e colher, de pescar, de conservar alimentos, de os comer ou celebrar. Porque a Dieta Mediterrânica é muito mais do que um conjunto de pratos mais ou menos típicos, é, antes de tudo, uma forma de vida que se perpetua desde há milénios, à volta do grande mar interior e nas suas franjas.

Para mim, o que mais define a Dieta Mediterrânica nem são os produtos que a compõem, já que, com a globalização, até na China se pode comprar e usar azeite ou vinho. O que a define é antes esta festa que os povos do Mediterrâneo sabem fazer à volta da comida, festa que significa convívio e partilha, que significa música, rituais e muita conversa, por vezes bem regada. Isso é o que verdadeiramente nos distingue dos outros povos europeus, para quem a refeição pouco mais é do que um momento para comer.

Mas, além destas considerações mais ou menos filosóficas, há que ter em conta que o trabalho da Dieta Mediterrânica como Património Imaterial não termina aqui. Aliás, parece que só agora está a começar.

Para afirmar esta prestigiante classificação da UNESCO, é preciso agora que mais e mais restaurantes, pelo país fora, mas sobretudo neste Algarve que vive do Turismo, percebam que têm que valorizar este património e incluí-lo, de forma permanente, nas suas ementas. E não basta dizer que se tem peixe grelhado, porque a Dieta Mediterrânica é muito mais do que isso!

É preciso também criar roteiros para descobrir os produtos e os seus produtores, como a tão falada Rota do Vinho do Algarve, que nunca mais avança, sabe-se lá porquê… Ou uma rota do azeite, do xarém, dos enchidos, etc.

E voltar a ensinar aos algarvios e às algarvios – de nascimento ou adoção – as receitas tradicionais, levá-los a consumir os produtos cá produzidos e a integrá-los na sua dieta do dia a dia. Isto é válido para as famílias, mas também para as escolas, para acabar de vez com as cantinas abastecidas com douradinhos pré-congelados fornecidos por empresas de catering escolhidas pelo critério do preço e não pelo da qualidade.

O trabalho para continuar a preservar e a afirmar a Dieta Mediterrânica naquilo que ela tem de portuguesa só agora começa. Pela minha parte, todos os dias tento ser uma divulgadora e utilizadora militante!

 

Este é o texto da crónica radiofónica que todas as quintas-feiras assino na Rádio Universitária do Algarve (RUA) e
que pode ser ouvida em podcast aqui.

Comentários

pub