Como conhecer o céu de Inverno

As noites frias de Inverno são longas e favoráveis à observação do céu, se as nuvens não o obstruírem. A […]

As noites frias de Inverno são longas e favoráveis à observação do céu, se as nuvens não o obstruírem. A transparência do ar pode ser fantástica e a descoberta das constelações pode servir-nos como fonte de fascínio ou recurso de orientação. Depois servirá para melhor referenciar as posições dos planetas e de outros objetos interessantes para observar.

As estrelas e constelações características de Inverno são visíveis (das nossas latitudes) aproximadamente entre as 21 h e as 23 h, numa qualquer noite a meio desta estação.

A rotação da Terra faz desfilar sobre as nossas cabeças heróis, mitologias e aventuras que os nossos antepassados imortalizaram.

À medida que as horas passam, mais estrelas se elevam a nascente, enquanto outras se escondem a poente, de tal modo que se observarmos o céu de Inverno muito mais tarde, digamos às 3 h, já estaremos a ver as estrelas que serão observáveis na próxima Primavera, por volta das 21 h-23 h.

Olhando acima do horizonte norte (Figura 1), veremos a Ursa Maior, à direita da estrela Polar, com a cauda voltada para baixo.

À esquerda da estrela Polar recorta-se a Cassiopeia, com os bicos do “W” virados para a nossa esquerda, apontando a constelação de Andrómeda, que mitologicamente representava uma princesa Etíope, filha de Cefeu e de Cassiopeia.

A principal referência no céu de Inverno é a constelação de Orionte (Figura 2), uma das mais fáceis de reconhecer e bem visível quando o observador se volta para sul.

Na Antiguidade, esta constelação representava um caçador lendário que (enfrentando o Touro) nos aparece acompanhado pelos seus dois cães, o Cão Maior e o Cão Menor, companheiros de caçadas inesquecíveis.

Na constelação de Orionte, encontramos três estrelas quase perfeitamente alinhadas, que marcam o cinturão do Caçador e são popularmente conhecidas como as Três Marias. A rodear este trio podemos ver quatro estrelas mais brilhantes, Betelgeuse, Belatrix, Rígel e Saiph, desenhando um grande quadrilátero quase retangular.

A mais avermelhada, ocupando o vértice superior esquerdo é Betelgeuse, uma estrela supergigante do tamanho da órbita do planeta Marte. No extremo oposto dessa diagonal destaca-se Rígel, uma estrela gigante branco-azulada. Belatrix ocupa o vértice superior direito e na posição oposta encontramos Saiph.

Seguindo o alinhamento celeste marcado pelas três estrelas do cinturão de Orionte, para cima e para a direita (nas nossas latitudes) encontrar-se-á uma estrela alaranjada, Aldebarã, a mais brilhante da constelação do Touro, marcando um dos olhos deste animal. No sentido oposto chegaremos a Sírio, a estrela mais brilhante de todo o céu, bem evidente na constelação do Cão Maior.

Acima de Orionte evidencia-se Capela, a estrela mais notável do Cocheiro. Um pouco mais baixa, no prolongamento definido de Rígel para Betelgeuse, encontra-se a constelação dos Gémeos, onde se destacam duas estrelas muito brilhantes: Castor e Pólux.

A sul dos Gémeos veremos o Cão Menor, que se reconhece principalmente pela sua estrela mais brilhante, Prócion. Muitas outras estrelas e constelações podem ser localizadas com facilidade, utilizando técnicas de alinhamento simples e eficazes (veja-se a caixa “Para saber mais”).

Se houver pouca poluição luminosa, a Via Láctea, a galáxia onde nos encontramos, mostra a sua faixa mais brilhante e majestosa desde a Cassiopeia e Perseu, percorre o Cocheiro, atravessa parte dos Gémeos e de Orionte, serpenteando entre o Cão Maior e o Cão Menor, seguindo para o hemisfério celeste austral.

Os planetas mudam de posição relativamente às constelações, mas as suas posições mensais podem ser vistas em http://www.platanoeditora.pt/?q=C/BOOKSSHOW/7595 , accionando o link “Localização dos planetas”.

 

Texto e mapas de Guilherme de Almeida
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 

Para saber mais
Guilherme de Almeida — “O Céu nas Pontas dos Dedos”, Plátano Editora, Lisboa, 2013.
http://www.platanoeditora.pt/?q=C/BOOKSSHOW/7595

Guilherme de Almeida — “Roteiro do Céu”, Plátano Editora, Lisboa, 5.ª Edição, 2010.
http://www.platanoeditora.pt/index.php?q=C/BOOKSSHOW/17

Guilherme de Almeida e Pedro Ré — “Observar o Céu Profundo”, Plátano Editora, Lisboa, 2.ª Edição, 2004.
http://www.platanoeditora.pt/index.php?q=C/BOOKSSHOW/18

 

LEGENDAS DAS FIGURAS

 

 

Figura 2 – O céu visível no Inverno, a sul (A MEIO DO COMPRIMENTO DO MAPA). À direita mostram-se as estrelas e constelações que mergulham no horizonte nas primeiras horas da noite, nas primeiras semanas de Inverno. À esquerda vêem-se as que aparecem, do lado nascente, a horas já muito tardias. A linha vermelha marca as estrelas que passam sucessivamente pelo zénite (ponto imaginário do céu, na vertical acima do observador.

 

Figura 1 – Aspeto simplificado do céu acima do horizonte norte, numa noite de Inverno. O alinhamento das Guardas da Ursa Maior aponta a posição da estrela Polar. As setas indicam o sentido do movimento aparente do céu.

 

 

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