Hospital recusa negligência médica no caso da criança que morreu de apendicite

Os médicos do Hospital do Barlavento Algarvio que atenderam uma criança de 8 anos, que veio a falecer de apendicite, […]

Os médicos do Hospital do Barlavento Algarvio que atenderam uma criança de 8 anos, que veio a falecer de apendicite, fizeram «o que era adequado» na altura em que tiveram contacto com a criança.

Esta é a conclusão de um inquérito interno feito à atuação da médica que atendeu Paulo Rafael Silaghi a 19 de outubro, seis dias antes de este falecer e o mandou para casa sem medicação, e à do cirurgião que o atendeu no dia 23, quando já estava com o apêndice perfurado e o enviou para Faro, a fim de ser operado.

Num comunicado hoje divulgado, a direção do Centro Hospitalar do Algarve (CHA) não encontra culpas internas, mas insinua que poderá haver culpados. «Vista “a posteriori”, o que é sempre mais fácil, pode especular-se que se a criança tivesse voltado ao hospital no intervalo de tempo de quatro dias que mediou entre a primeira e a segunda observação, o diagnóstico poderia eventualmente ter sido feito e a intervenção cirúrgica ter tido êxito», refere.

Uma consideração que garantem não se dirigir aos pais da criança falecida, «que tudo fizeram para garantir ao seu filho uma assistência médica adequada». O CHA considera que o facto de Célia Silaghi, mãe de Paulo Rafael, não ter regressado ao hospital «traduz descrença, suspeita, desânimo», algo que imputam aos «que não perdem uma oportunidade para denegrir a imagem do hospital, vilipendiando todos os abnegados funcionários públicos que nele trabalham».

 

Relato da família confere, a conclusão é que não

O hospital confirma o relato feito pela mãe de Paulo Rafael, que denunciou o caso salientando que «a descrição feita pela mãe e que consta da queixa é coincidente com o registo do hospital, o que permite confirmar a veracidade do relatado». Mas, ao contrário da família, a direção do Centro Hospitalar do Algarve, que integra os hospitais de Faro, Portimão e Lagos, não considera ter havido negligência médica.

Segundo revelou o CHA, o menino deu entrada no Hospital de Portimão às 13h37 de dia 19 de outubro, «por queixa de febre, dor supra-púbica e disúria (dificuldade / dor a urinar) com menos de 24 horas de evolução».

«À entrada encontrava-se apirético (sem febre) com bom estado geral tendo feito medicação com paracetamol cerca de 2 horas antes. Foi observado na urgência de pediatria onde permaneceu até às 19h13m (cerca de 6 horas) tendo tido alta sem queixas, sempre apirético (sem febre), análise de urina normal tendo realizado o exame físico adequado a descartar a hipótese de reação peritoneal sequente a apendicite. Foi-lhe dada alta para domicilio após terapêutica e indicação para nova observação caso persistissem queixas», descreveu.

Perante os factos apurados pelo Conselho de Administração do CHA, «considera-se adequado o comportamento da médica de serviço à urgência de pediatria da unidade de Portimão que atendeu a criança».

Fora da esfera deste relatório está a visita da criança, dois dias depois (dia 21), ao Centro de Saúde de Portimão, onde a apendicite também não foi detetada, tendo sido diagnosticada à criança uma «infeção urinária».

O CHA só volta a ter registo da criança a 23 de outubro, altura em que deu entrada naquela unidade de saúde, enviada de um hospital privado de Alvor, onde a apendicite foi, finalmente, diagnosticada e onde se percebeu que a criança corria risco de vida.

«À entrada era possível estabelecer diagnóstico de quadro séptico secundário a abdómen agudo por eventual apendicite. Fez colheita de sangue para análises e iniciou de imediato terapêutica antimicrobiana sendo observado pelo cirurgião de serviço».

«Foi entendimento da cirurgia que dada a gravidade do quadro a criança deveria ser intervencionada em hospital dotado de cuidados intensivos pediátricos a fim de garantir as melhores condições de sobrevivência no pós-operatório», revelou a direção do CHA.

Tendo em conta que «o único hospital quer público quer privado dotado desta infraestrutura no Algarve é, que tenhamos conhecimento, a unidade de Faro deste Centro Hospitalar», foi para aí que a criança foi enviada.

«A cirurgia confirmou o diagnóstico, foi realizada apendicectomia e limpeza de abdómen e a Unidade de Cuidados Intensivos desencadeou de imediato os procedimentos necessários tendo inclusivamente sido possível recuperar de duas paragens cardio-respiratórias (7h30 e 16 horas).

«Perante a gravidade do caso com choque refratário a catecolaminas e falência de vários órgãos foi decidida transferência para Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos com tecnologias de exceção pelo que o transporte foi conseguido para o Centro Hospitalar Lisboa Norte onde a criança veio a falecer», concluiu.

Nesta segunda passagem de Paulo Rafael pelos seus serviços, o CHA considera que «tudo o que era humanamente possível foi feito». «O Conselho de Administração quer particularmente enaltecer a adequação do comportamento da equipa cirúrgica de Portimão que compreendendo a gravidade da situação providenciou a transferência da criança para unidade dotada de cuidados intensivos pediátricos abstendo-se de uma intervenção cirúrgica de consequências seguramente funestas», consideram.

«É entendimento deste Conselho de Administração que o comportamento dos vários intervenientes nas duas ocasiões em que a criança acedeu ao hospital foi o adequado, estando de acordo com o “estado da arte” e não seria diferente em qualquer outro hospital», conclui a direção do CHA.

Os responsáveis pelos hospitais públicos do Algarve acrescentam que para além das conclusões que divulgou, «o Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve procedeu ao envio de toda a documentação atinente ao caso para a Inspeção Geral das Atividades em Saúde, estando os profissionais do hospital igualmente disponíveis para avaliação da sua conduta por parte das entidades técnicas ou judiciais consideradas adequadas».

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