António Branco: Défice da UAlg também resulta de «problema político»

As eleições para a reitoria da Universidade do Algarve terão lugar a 27 de novembro e há três candidatos ao […]

As eleições para a reitoria da Universidade do Algarve terão lugar a 27 de novembro e há três candidatos ao cargo, todos eles professores da casa: Adelino Canário, António Branco e Efigénio Rebelo.

O Sul Informação e a Rádio Universitária do Algarve RUA FM entrevistaram os três candidatos, em conversas que são uma antecipação às audições públicas que decorrem a 26 de novembro. O nosso jornal irá lançar um a peça por entrevista, sendo esta a segunda, com António Branco.

Hoje à tarde haverá novo artigo com as propostas de Efigénio Rebelo, depois de ontem terem sido dadas a conhecer as ideias de Adelino Canário. As peças são lançadas pela ordem escolhida para a audição pública.

 

António Branco: Défice da UAlg também resulta de «problema político»

Parte do défice da Universidade do Algarve resulta de um problema «político» e não de gestão interna, pelo que deve ser resolvido nessa esfera, considera António Branco. O professor da instituição propõe-se, caso chegue a Reitor, a aproveitar mais os Fundos Comunitários destinados à promoção do conhecimento, colocar a academia a dialogar, numa lógica de governação participada, organizar a estrutura para evitar desperdícios e racionalizar a oferta, diminuindo «drasticamente» as vagas e cursos de licenciatura e Mestrado Integrado.

As propostas deste candidato a reitor, que vem da área das humanidades, passam por uma mudança na forma de ver e pensar a UAlg. É nesse sentido que aponta o lema da candidatura «Tomar consciência, Repensar, Fazer».

«Estes são os três eixos de ação de qualquer indivíduo muito ativo e tem sido feito. Mas considero que a situação particularmente difícil em que vamos entrar a partir de 2014, obriga a um esforço ainda maior por parte de quem vier a dirigir a instituição», disse.

António Branco quer «ajudar a tomar ainda mais consciência da situação que vivemos», bem como «repensar muitas coisas, algumas por causa da situação financeira, outras porque é necessário que o façamos». «E o fazer, que é absolutamente essencial, porque nós temos de concretizar muita coisa», acrescentou.

Com a UAlg numa situação financeira «estruturalmente insuportável», como afirma no seu programa de ação e reafirmou na entrevista, António Branco considerou prioritário resolver a questão do financiamento a curto prazo, já que a almofada financeira que tem permitido à universidade suportar os muitos cortes decretados pelo Governo está praticamente esgotada e não estará disponível em 2014.

«Na leitura deste problema temos de distinguir duas coisas. Uma, é perceber qual a parte desse défice que é da responsabilidade da UAlg. Ou seja, até que ponto é que nós, através de medidas internas, o podemos baixar», disse.

«Mas há uma parte que não é problema financeiro! O problema, é que nós estamos a gastar mais do que devemos, porque nos estão a cortar mais do que deviam. Por isso, uma dimensão importantíssima deste défice, é política. E essa parte tem ser tratada politicamente. Não podemos aceitar a ideia que o problema é puramente financeiro», defendeu.

«Acho que não é possível, até 31 de dezembro de 2014, gerar as verbas necessárias para garantir o normal funcionamento da UAlg, tendo em conta o estado da economia. Então, isso quer dizer que a situação tem de ser tornada pública, com contas muito transparentes e claras, fazer questão de atribuir a responsabilidade a quem a tem, mover a sociedade e um conjunto de personalidades e organismos, de maneira a fazer chegar à tutela a ideia de que não é possível uma instituição como a UAlg ser levada à insolvência, figura que nem sequer existe para as universidades», disse.

Neste campo, António Branco defende a criação de uma frente comum com outras universidades do Continente que estão «na mesma situação», nomeadamente «a de Évora, da Beira Interior e de Trás-os-Montes». Algumas destas instituições não têm saldo transitado, a tal almofada financeira, já em 2013, enquanto outras deixarão de o ter «em 2014».

Além destas medidas, que olham para o curto prazo, há que procurar formas de aumentar o financiamento. Estas passam, em grande medida, pelos Fundos Comunitários, a fonte «mais promissora» de receitas para os próximos anos.

Isto não significa que se deixe de fazer um esforço ao nível da prestação de serviços e da procura de outras fontes de receitas próprias, com maior enfoque no setor privado.

 

António Branco quer envolver toda a academia nos processos de decisão

Uma das principais bandeiras do programa de ação de António Branco é a promoção do diálogo e a instituição de uma governação participativa.

António Branco defende que as decisões não podem ser tomadas «sistematicamente de cima para baixo». «A Democracia dá muito trabalho, mas as decisões tomadas no plano da participação democrática tem uma capacidade muito maior de gerar ações», defendeu.

A ideia é promover um modelo de governação participativa, em que todos os afetados por uma determinada medida podem dar o seu contributo, «já que é possível envolver muito mais as pessoas.

Também prioritária é a revisão da oferta formativa da UAlg. «No prazo de dois anos temos de diminuir drasticamente o número de cursos e de vagas [no 1º ciclo e mestrado Integrado]. Parece-me que a nossa oferta é desadequada na relação entre a dimensão da Ualg em relação a outras universidades», afirmou.

António Branco defende, ainda assim, que há que ser cauteloso, para perceber o que «fica dessa diminuição e, sobretudo, onde se vai buscar novos alunos». «Acho que podemos aumentar nas pós-graduações e no 2º e 3º ciclo. E também noutra dimensão muito importante para o subsistema Politécnico, que são os Cursos Superiores de Especialização, que deverão ser lançados em 2014», disse.

 

Quando as dificuldades apertam, avança quem sente «força e capacidade»

«O que me leva a candidatar a Reitor é, justamente, o momento que vivemos. Creio que todos sabemos que vivemos um momento muito difícil e que é precisa uma grande determinação para evitar que esta situação agrave a condição de vida e de trabalho das pessoas. É neste momento que aqueles que sentem força e capacidade, que é o meu caso, devem avançar e defender as suas ideias, de forma a contribuir para que esta crise não afete de forma irreversível a Universidade do Algarve», revelou.

António Branco é Professor da UAlg e tem larga experiência em cargos diretivos, nomeadamente da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, da Biblioteca de Gambelas e do Arquivo Central.

 

Nota: A entrevista com António Branco foi originalmente para o ar na RUA FM ontem, quinta-feira, às 18h30. A conversa com Adelino Canário, já havia sido transmitida quarta, à mesma hora (basta seguir os links para as ouvir na íntegra). A entrevista com Efigénio Rebelo pode ser ouvida hoje às 18h30. As entrevistas podem voltar a ser ouvidas na íntegra no sábado, a partir do meio dia, em 102.7 FM ou no site da RUA FM. As entrevistas foram realizadas por Hugo Rodrigues e Pedro Duarte, diretor da RUA.

 

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