A Unidade de Cuidados Paliativos do Hospital de Portimão, a única existente na região, vai ser fechada no âmbito da reestruturação em curso, resultante da criação do Centro Hospitalar do Algarve, apurou o Sul Informação.
Em Portimão, funcionam, desde 2009, as 10 únicas camas de cuidados paliativos existentes a nível regional, destinadas sobretudo a doentes terminais. E o serviço sempre funcionou bem, tendo como diretora a chefe da Anestesiologia do hospital barlaventino.
Mas, há algumas semanas, a direção da Unidade foi alterada, tendo passado para a responsabilidade de uma outra médica anestesista, do Hospital de Faro.
Agora, segundo garantiram ao Sul Informação várias fontes do pessoal médico e de enfermagem do Hospital de Portimão, a Unidade de Cuidados Paliativos será mesmo fechada. E esse serviço deixará de poder ser prestado no Algarve, «numa unidade própria, com todos os meios e com pessoal especializado».
A confirmar-se este fecho, caem por terra as garantias várias vezes dadas pelo presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve (CHA) ao Sul Informação e em comunicado, de que nenhum serviço seria encerrado em Portimão, na sequência da reestruturação.
Uma fonte hospitalar disse mesmo ao nosso jornal que «vai acontecer com esta Unidade de Cuidados Paliativos o mesmo que aconteceu com a Unidade de Convalescença que existia no Hospital de Faro, e que o Dr. Pedro Nunes fechou quando era apenas diretor da unidade de Faro».
Só que, acrescentou a mesma fonte, «para a Unidade de Convalescença até se pode considerar que há alternativas no Algarve, mas para a de Cuidados Paliativos não há!».
Das fontes contactadas pelo Sul Informação, apenas o médico Luís Batalau, que já foi presidente do Conselho de Administração do extinto Centro Hospitalar do Barlavento (Portimão), aceitou dar a cara. E fê-lo porque nunca teve papas na língua, está reformado e já não pode sofrer represálias. É que, garantiram os médicos e enfermeiros com quem falámos, o clima dentro do Hospital de Portimão é de «medo e ameaças, algumas veladas, mas outras bem concretas».
«A Unidade de Cuidados Paliativos, até por ser a única no Algarve, destina-se aos doentes terminais, mas tem também outras funções importantes. Um doente, oncológico ou não, dependente, pode aí ficar internado uns dias enquanto o seu cuidador descansa, para depois poder voltar a cuidar do doente em casa», explica Luis Batalau, que era o responsável pelo Hospital do Barlavento Algarvio quando a unidade foi inaugurada.
É um serviço «diretamente ligado às unidades de cuidados continuados. Para lá chegarem, os doentes passam por um crivo, por uma série de avaliações, e só depois são internados».
Luís Batalau diz não perceber onde é que o fecho da Unidade de Cuidados Paliativos servirá para poupar dinheiro, como parece ser o objetivo do presidente do CHA. «Funciona com enfermeiros normais, especializados, é certo, mas que pertencem ao hospital e ganham tanto como os outros. Tinha uma diretora, que era também a responsável pela Anestesiologia, bem como dois outros médicos anestesistas do hospital, e ainda assistentes operacionais da própria instituição. Onde é que isto gastava mais dinheiro ao Hospital?», garante Luís Batalau.
«Fechar esta Unidade, para mais única no Algarve, é inconcebível», disse uma enfermeira que também não quer ser identificada. «Os utentes dessa Unidade são, na sua maioria pessoas no fim da vida. Não há um mínimo de respeito! É preciso dar dignidade às pessoas, até na morte», acrescentou, revoltada, a mesma fonte.
«Uma das coisas que o presidente do Conselho de Administração [Pedro Nunes] já fez foi ir lá acima, onde havia uma sala de estar para ser usada pelos utentes e pelas suas famílias, e dizer que vai destruir tudo para fazer enfermarias. Mas esse era um espaço exclusivo para aquelas pessoas, um espaço onde muitas vezes se tomavam decisões de fim de vida, onde a privacidade, mais do que necessária, é fundamental. Chama-se a isso qualidade dos cuidados, chama-se a isso dignidade!», disse ainda aquela enfermeira contactada pelo Sul Informação.
A mesma fonte estranha também que, apenas quatro anos depois de começar a funcionar, um serviço útil e que funcionava bem seja agora desmantelado. Para mais porque, «esta Unidade foi criada com dinheiro da Rede de Cuidados Continuados, com financiamentos europeus, e agora vai ser tudo destruído».
«O que o Dr. Pedro Nunes parece não perceber é que os Cuidados Paliativos têm uma grande dependência dos cuidados permanentes de enfermagem, com apoio médico sempre que é necessário. E esse tipo de cuidados só é possível prestá-los em contexto hospitalar. As pessoas até podem ali estar só umas horas, mas durante essas horas a nossa obrigação é garantir-lhes a melhor qualidade de cuidados possível, para que tenham um fim de vida digno».
Para protestar contra este e outros cortes que têm estado a ser feitos de «forma mais ou menos escondida, a conta gotas, mesmo que depois digam na comunicação social o contrário e neguem o que está a acontecer», está a ser organizado mais um protesto para o próximo sábado, dia 5, às 14h00, junto à entrada do Hospital de Portimão.
Mas «há funcionários que têm medo de participar, por receio de serem prejudicados depois, de alguma maneira», acrescentou fonte hospitalar.
Comentários