Renascer

Neste último mês e meio, por causa da Rota do Petisco, tive oportunidade de percorrer as ruas do centro antigo […]

Neste último mês e meio, por causa da Rota do Petisco, tive oportunidade de percorrer as ruas do centro antigo de Portimão e deparei-me com duas situações: por um lado, a incrível quantidade de lojas fechadas e prédios entaipados. Por outro, o número, ainda incipiente, mas mesmo assim a crescer, de novas lojas, restaurantes e outros espaços, nomeadamente ligados à cultura e à criatividade, a abrir nesse mesmo centro da cidade.

A situação não é exclusiva de Portimão, acontece em todo o Algarve, nomeadamente em Faro, e no resto do país, por isso penso que estas minhas reflexões poderão ser úteis para todos.

Que o comércio de proximidade está moribundo toda a gente sabe. A explosão de centros comerciais nas periferias das cidades, os hipermercados, os impostos, a falta de dinamismo dos comerciantes, a desertificação – e desumanização – dos centros das cidades, a alteração dos hábitos sociais e de consumo, a crise, a diminuição do poder de compra, tudo isto são causas conhecidas e faladas para essa morte lenta.

Mas a verdade é que, perante tudo isto, há quem não baixe os braços e continue a insistir. Em Portimão, no seu centro antigo, abriram nos últimos tempos algumas lojas e restaurantes, todos apostados em produtos de qualidade e, na sua maioria, de fabrico e manufatura nacional.

Mas abriu também um novo espaço dedicado às indústrias criativas e ao empreendedorismo, a Bold.Ponto Criativo. Nesse mesmo centro, situam-se desde há alguns anos, não muitos, a escola ETIC-Algarve e o Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes, que se têm constituído como polos de animação da cidade.

Em Faro, há um movimento semelhante, que começou com a iniciativa «Estamos na Baixa», da associação Faro 1540 e levou à abertura de lojas, ateliês e outros espaços na zona antiga da capital algarvia.

O Palácio do Tenente, que tem albergado eventos diversos, é também exemplo desse esforço de revitalização. A Tertúlia Algarvia, perto da Sé, espaço de restauração, mas também de cultura e património, é outro exemplo.

Mais do que iniciativas de entidades públicas, trata-se de esforços da chamada sociedade civil, de associações e empresários locais. Alguns destes projetos irão talvez ficar pelo caminho, como é natural, mas muitos vingarão. E o que mais marca neste renascimento ainda ténue das nossas cidades é a vontade demonstrada por muita gente de fazer acontecer coisas, de não baixar os braços, de querer investir, de não parar de ter ideias!

Será certamente uma gota no oceano, mas a verdade é o que o oceano é feito de muitas gotas como esta!

 

Este é o texto da crónica radiofónica que todas as quintas-feiras assino na Rádio Universitária do Algarve (RUA) e
que pode ser ouvida em podcast aqui.

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