Tavira recebe o 1º congresso internacional sobre o Cão de Água Português

Bo e Sunny são os exemplares da raça cão de água português mais famosos do mundo ou não fossem eles […]

Bo e Sunny são os exemplares da raça cão de água português mais famosos do mundo ou não fossem eles os animais de estimação da família presidencial dos EUA.

Esta raça, que tem solar (origem) no Algarve, vai ser objeto do seu 1º Congresso internacional, marcado para Tavira, entre 25 e 29 de setembro.

O 1º Congresso Internacional do Cão de Água Português, que contará com a presença de 200 participantes de 14 países, incluindo a Austrália, tem como principal objetivo a uniformização do estalão (características) da raça, mas em discussão vão estar também questões relacionadas com a tosquia.

Temas como a história da raça, tanto em Portugal como nos EUA e na Escandinávia, o cão de água português enquanto cão de terapia e as questões genéticas ligadas à criação vão estar também em discussão.

O congresso, organizado pelo Clube Português de Canicultura, inclui ainda provas práticas de trabalho, que terão lugar na Praia do Barril, e demonstrações, como o salvamento de um homem no mar e a busca em escombros.

No domingo, 29, último dia, terá lugar, a partir das 14h00, nas Pedras d’El-Rei, a 26ª exposição monográfica, ou seja, apenas dedicada a esta raça canina, que contará com a presença de 50 exemplares de 12 países. Serão juízes Carla Molinari e Luís Catalan.

O cão de água português é uma das oito raças portuguesas reconhecidas pela Federação Cinológica Internacional.

 

Uma raça que esteve em vias de extinção

 

O Cão de Água Português, também conhecido como Cão d’Água Português ou Cão d’Água Algarvio, é uma raça de cães originária do Algarve. Estes animais foram usados como cães de trabalho por pescadores desde tempos imemoriais, mas no século XX tornaram-se uma raça rara.

Originalmente, o cão d’água – excelente nadador, até pela presença de uma membrana entre os dedos – foi utilizado pelos pescadores portugueses como ajudante nos barcos, guiando cardumes de peixes às redes, recuperando objetos caídos na água, levando mensagens entre barcos e entre a terra e o mar e outras atividades variadas.

O escritor Raul Brandão, na sua obra Os Pescadores (1932), descreve assim a atividade de um barco de pescadores de Olhão: “Tripulavam-no vinte e cinco homens e dois cães, que ganhavam tanto como os homens. Era uma raça de bichos peludos, atentos um a cada bordo a ao lado dos pescadores. Fugia o peixe ao alar da linha, saltava o cão ao mar e ia agarrá-lo ao meio da água, trazendo-o na boca para bordo”.

A partir do século XX, com as novas tecnologias da pesca, o trabalho dos cães d’água tornou-se progressivamente obsoleto. O número de animais da raça diminuiu muito e, na década de 1930, os poucos exemplares restringiam-se à costa do Algarve.

Em 1934, dois cães d’água de Sesimbra participaram pela primeira vez numa exibição canina, levados pelo criador de cães Frederico Pinto Soares. Estes animais chamaram a atenção de Vasco Bensaúde, um rico empresário açoriano, que também era criador de cães.

Bensaúde adquiriu quatro exemplares para seu canil Algarbiorum e iniciou um cuidadoso programa de seleção. O exemplar mais importante foi um macho chamado Leão, que viria a servir como padrão para a raça.

Em paralelo outro canil com cães d’água foi estabelecido em Alvalade (perto de Lisboa) pelo criador António Cabral.

Mais tarde, os cães de Bensaúde passariam a ser propriedade de Conchita Cintrón, uma matadora de touros e criadora de cães de origem peruana casada com um empresário português.

Conchita vendeu vários animais para o exterior, inclusive para uma criadora dos Estados Unidos, Deyanne Miller, que junto a seu marido Herbert foi fundamental no estabelecimento da raça na América do Norte.

Além de exemplares da linhagem de Bensaúde, Miller também adquiriu exemplares da linhagem de Alvalade, para diminuir a consanguinidade.

Em 1972, criadores dos EUA fundaram o Clube Americano de Cães de Água Portugueses (Portuguese Water Dog Club of America).

Em 1981, chegou a estar registado no Livro do Guinness como a raça de cães mais rara do mundo.

Recentemente, a raça ganhou publicidade inesperada após a família do presidente dos EUA, Barack Obama, ser presenteada pelo falecido senador Edward Kennedy (Ted), com um cão de água português como mascote.

O cachorro, chamado Bo, foi apresentado ao público a 14 de abril de 2009, no meio de grande interesse da imprensa.

Em agosto passado, a família canina presidencial foi aumentada pela oferta de Sunny, uma cadela também da raça cão de água português.

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