Requalificação de 1 milhão de euros começa na Lagoa dos Salgados

As obras de requalificação da Lagoa dos Salgados, uma zona húmida no litoral entre Silves e Albufeira, arrancaram esta quarta-feira […]

As obras de requalificação da Lagoa dos Salgados, uma zona húmida no litoral entre Silves e Albufeira, arrancaram esta quarta-feira à tarde, representando um investimento de um milhão de euros.

Os trabalhos começaram com a abertura da barra da lagoa ao final da tarde de ontem e o seu fecho logo às primeiras horas de hoje, explica a empresa Águas do Algarve em nota de imprensa. O objetivo é conseguir o rebaixamento da cota da água, através da «abertura temporária da barra de ligação da lagoa ao mar».

As obras, em termos de calendário, conciliam os vários interesses em presença, ou seja, «a utilização da praia adjacente à lagoa», «o período de nidificação das aves aquáticas», e as «especificidades da empreitada», pelo que têm de decorrer entre setembro  e março. Na zona lagunar, a empreitada decorre entre 17 de setembro e 16 de janeiro de 2014.

A requalificação da Lagoa dos Salgados, que, apesar de não ter ainda qualquer estatuto de proteção, é considerada como uma das mais importantes zonas para observação de aves no Algarve, resulta de uma parceria entre a Águas do Algarve SA e a APA (Associação Portuguesa do Ambiente, Faro). O projeto, mais vasto, inclui mesmo a construção de uma conduta elevatória de águas residuais, da responsabilidade da empresa Águas do Algarve.

A empreitada inclui diversas ações, como a «formalização de um caminho pedonal na margem direita da lagoa, com proibição de veículos motorizados, balizado por toros de madeira com alturas variáveis entre os 0,7 e 1,0 metro, criando condições para a existência de pontos de observação informais da lagoa, devidamente protegidos».

Será ainda feita a «modelação dos fundos para criação de alguns fundões e ilhotes, aumentando a diversidade de zonas de abrigo e de nidificação para a avifauna», ao mesmo tempo que será feita a «extensão do plano de água atual, mediante a construção de um açude-ilha no extremo norte da zona húmida».

À volta, serão feitas «plantações de espécies arbustivas autóctones típicas destes ecossistemas, ao longo de um corredor de cerca de 4 metros de largura, marginal à lagoa».

O projeto, salienta a Águas do Algarve na nota de imprensa, «tem sido acompanhado e discutido, desde o seu início, pelas diversas entidades com interesses ou competências na matéria, nomeadamente os municípios de Albufeira e Silves, a Capitania do Porto de Portimão, ICNF, CCDR, ONG e proprietários dos terrenos envolventes».

Entre as ONG envolvidas, destaque para a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), a Liga para a Proteção da Natureza (LPN), a Quercus, a Almargem e A Rocha, que há anos defendem a classificação da Lagoa dos Salgados como IBA (Important Bird Area), esbarrando com a oposição do ICNF.

A Lagoa dos Salgados, como reconhece a Águas do Algarve, «é uma lagoa costeira de reconhecido interesse para a estada e reprodução de uma importante comunidade de avifauna».

 

Obras visam resolver problemas crónicos

As obras que começaram esta quarta-feira pretendem, «de forma equilibrada, melhorar a utilização sustentável daquela zona húmida e assegurar a continuidade das funções ecológicas que lhe estão associadas».

Assim, o projeto visa dar resposta à «perturbação decorrente da atividade e presença humana na lagoa e zona envolvente» e às «limitações do atual habitat lagunar para a avifauna, tendo em conta que a topografia do terreno, típica de áreas com uso agrícola, proporciona poucos abrigos e irregularidades geradoras de diversidade biológica».

Outros problemas a que a intervenção quer dar resposta é o «comportamento hidrodinâmico incerto» da Lagoa dos Salgados, «com possibilidade de variações repentinas de nível de água, que podem colocar em causa o sucesso da reprodução das espécies nidificantes, nomeadamente quando ocorre a abertura de barra de ligação ao mar» e ainda a «valorização dos recursos hídricos e dos ecossistemas aquáticos, criando condições para a fruição pública destes espaços o desenvolvimento sustentável de atividades económicas ligadas à conservação da natureza, nomeadamente a observação de aves».

 

Uma lagoa rodeada de casas, hotéis e golfes

Depois da construção do empreendimento dos Salgados, no lado leste da Lagoa dos Salgados, concelho de Albufeira, integrando hotel, apartamentos e um campo de golfe que invadiu parte do leito da zona lagunar, complexo que desde há mais de um ano está fechado devido à falência da empresa proprietária, a polémica voltou a acender-se com a divulgação do projeto da Praia Grande, do lado de Silves.

Mais uma vez, trata-se de um mega projeto turístico, implementado pelo Grupo Galilei (ex-Sociedade Lusa de Negócios/BPN), a que a Plataforma dos Amigos da Lagoa dos Salgados se opõe. Inclui mais de 4000 camas, três hotéis, dois aldeamentos, zonas comerciais e um campo de golfe.

Só que a Plataforma considerou, durante o recente período de discussão pública do Estudo de Impacte Ambiental, que «este é um plano que, a efetuar-se, afeta o último troço de costa natural do centro do Algarve» e por isso é «um mega-atentado ambiental, territorial e social».

 

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