Maria do Mar, a loja de conservas que vende a imagem de Portugal

É mais do que uma loja que vende conservas portuguesas. É mais do que uma tasca para petiscar. É mais […]

É mais do que uma loja que vende conservas portuguesas. É mais do que uma tasca para petiscar. É mais do que uma loja de produtos tradicionais portugueses e objetos ligados ao mar e às sardinhas. A Maria do Mar é um local onde se vende um pouco de Portugal.

A Maria do Mar tem duas lojas – a original, em Lagos, e a segunda a abrir, em Portimão, na Rua Direita – e resulta da enorme força de vontade de uma mulher – a empresária Ana Costa Franco – que, em 2012, se desempregou do ramo imobiliário e resolveu apostar num setor totalmente novo para ela.

«Não fui eu que criei este conceito da loja de conservas, já existia noutras partes da Europa e mesmo em cidades como Lisboa. Mas pensei: será que resulta no Algarve?».

E isso é empreendedorismo? «Empreendedor é também pegar em algo que já existe e refazê-lo à nossa imagem», sublinha, convicta.

A empresária Ana Costa Franco foi uma das convidadas da Beta Talk de agosto, a conversa sobre empreendedorismo que, no mês passado, teve como palco o terraço do Teatro Municipal de Portimão, com a vista sobre a cidade e o rio como pano de fundo. Uma conversa ao ar livre, numa cálida noite de verão, acompanhada, no intervalo, com petiscos da Maria do Mar e bons vinhos algarvios.

Foi durante essa Beta Talk que Ana partilhou a sua experiência. Com o impulso do marido, Pedro Costa Franco, Ana lançou-se num mundo que diz ter «descoberto»: «não tínhamos noção de que em Portugal ainda se fazia tanta conserva, com embalagens tão bonitas».

Tendo em conta que as conservas de peixe são um «produto de excelência português e uma tradição infelizmente quase perdida no Algarve», Ana Franco pensou que «fazia todo o sentido ir buscar essa tradição».

Mas a abertura da primeira loja, a de Lagos, em abril de 2012, não foi um percurso fácil. «As empresas conserveiras estão mais voltadas para a exportação e para a venda em massa, não para a venda em pequenas quantidades para uma loja como a nossa». Mas esta dificuldade acabou por ser ultrapassada.

Em Lagos, o que Ana Franco ainda não conseguiu ultrapassar é a impossibilidade de a sua loja ser também uma tasca, um local de degustação de conservas, em tapas acompanhadas por um bom copo de vinho português. Esta vertente, que estava pensada desde o início, por razões burocráticas, acabou por só se concretizar na segunda loja Maria do Mar, que abriu em outubro de 2012 em Portimão, numa parceria com amigos, nomeadamente Pedro Estorninho e a sua mulher.

A empresária, que garante que as duas lojas, em Lagos e em Portimão, têm sido um sucesso, acrescenta que «o negócio arrancou com o mínimo de dinheiro possível. Foi preciso ter alguma imaginação e criatividade, até porque fui eu que decorei a loja de Lagos com peças de família, até restaurando alguns móveis».

«A seguir, fui procurar microcrédito, para alguns equipamentos e para constituir stock. Fui super bem acolhida nos bancos, devido ao facto de não ser mais um cabeleireiro, mas tratar-se de um negócio inovador», explica a empresária.

 

Mais do que vender conservas, vender ícones

 

As coisas correram tão bem em Lagos, que, seis meses depois, a Maria do Mar abriu a sua segunda loja em Portimão, mas aqui tendo já também a vertente de tasca para petiscar. Aliás, quem quiser conhecer as iguarias desta tasca especial, pode aproveitar, até 13 de outubro, para provar a tiborna de sardinha com copo de vinho tinto, que integra a Rota do Petisco que está a decorrer em Portimão.

«Tendo em conta a crise, se calhar esta não seria a melhor altura para abrir uma loja e logo outra, seis meses depois. Mas se pensarmos assim, quando é que seria a altura certa?». É que, faz questão de sublinhar Ana Franco, «ser empreendedor não é fácil, nunca foi e provavelmente nunca será!».

Com esta certeza, a empresária meteu mãos à obra e tem vindo a consolidar a sua Maria do Mar, que desde o princípio percebeu poder ser muito mais que uma «mercearia com conservas expostas para vender».

«Há todo um espaço enorme que podemos explorar em termos de merchandising, a partir da imagem das conservas, de uma certa imagem vintage das latas. Estamos neste momento a planear isso, até com a ajuda da Zinc, a empresa de design que já nos ajudou a definir a nossa imagem».

Entretanto, Ana Franco, respondendo às solicitações dos clientes, em especial dos estrangeiros, já começou a vender outros produtos ligados à imagem das conservas, do mar, na sua loja de Lagos. «A sardinha para os turistas é um ícone de Portugal», adianta. E por isso já começou a vender sardinhas em pano, que se têm vendido muito bem. Mas há outras ideias em desenvolvimento, como fotografias das fábricas conserveiras algarvias a preto e branco, posters antigos de algumas marcas.

«Há clientes, sobretudo estrangeiros, que compram determinadas latas, com embalagens muito bonitas, e me dizem: isto é tão bonito que eu nem vou comer. Por isso, há que “inventar” outros objetos que eles possam comprar, a partir dessa imagem». No fundo, explica, entre conservas, azeites em lata, flor de sal, vinhos, tudo bem português, objetos ligados ao mar e às conservas, o que os clientes da Maria do Mar compram é mais do que uma lata de sardinhas. «É a imagem de Portugal!».

 

Ampliar a loja de Lagos e expandir a marca

 

Quanto aos planos de futuro, para já Ana Franco quer ampliar a loja de Lagos e acrescentar-lhe a vertente de tasca, que até agora não foi possível abrir devido a uma questão de licenças, que está quase resolvida.

Depois, mostra-se aberta para a expansão da marca. «Não posso dizer que a Maria do Mar ficará apenas por Lagos e Portimão. Estamos abertos a que surjam pessoas que se associem à marca Maria do Mar, para abrir lojas noutros locais do Algarve. Mas não será através de franchising».

Para possibilitar esta expansão com parceiros, «já temos um plano delineado, para fornecer às pessoas uma ideia muito concreta de valores de investimento. Para nós, a aposta correu bem e as coisas estão a andar ao seu ritmo».

Tendo duas lojas em cidades muito próximas, Ana Franco explica que «o tipo de cliente em Lagos não tem nada a ver com o de Portimão. Em Portimão, curiosamente, funcionamos muito com residentes, em especial no inverno. Aqui os portugueses acolheram melhor a ideia, aderiram logo. Até houve pessoas que foram à nossa loja da Rua Direita oferecer-nos coisas, como latas vazias de fábricas antigas. Identificaram-se com este negócio. Em Lagos, a maior parte dos clientes são turistas estrangeiros».

E qual foi, ao longo de todo este percurso de dois anos o maior desafio? A empresária Ana Costa Franco responde que foi conseguir o microcrédito. «Quando queremos ir por um caminho um pouco diferente as dificuldades surgem a toda a hora. Mas há que ser persistente, há que acreditar e ter vontade. Ser empreendedor envolve, de facto, muita dor», concluiu Ana, brincando com as palavras.

 

Hoje há mais uma Beta Talk

 

Hoje, segunda-feira, dia 16 de setembro, em Portimão, haverá mais uma Beta Talk, durante a qual dois empreendedores cuja persistência e capacidade de dar vida aos seus projetos serão o mote para mais um final de tarde empreendedor.

A partir das 19h00, o Café Concerto do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão será ponto de encontro para uma conversa inspiradora com Pedro Águas, fundador da “We Make Produtions”- Agência de Publicidade e Produtora de Conteúdos Audiovisuais, e João Amaro, o sonhador executivo do projeto Tertúlia Algarvia, um espaço de restauração e animação cultural recém inaugurado na Vila Adentro na cidade de Faro.

A entrada é livre e a boa conversa é garantida!

 

Fotos de: Etic_algarve/Duarte Costa (à exceção da última)

 

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