Macário aproveita discurso do feriado de Faro para se despedir

José Macário Correia, presidente da Câmara Municipal de Faro, aproveitou este sábado, dia 7 de setembro, o discurso do feriado […]

José Macário Correia, presidente da Câmara Municipal de Faro, aproveitou este sábado, dia 7 de setembro, o discurso do feriado municipal para se despedir do cargo, ao qual não se recandidata.

Macário, que fez o balanço do seu primeiro e único mandato à frente da autarquia da capital algarvia, recordou as dificuldades, falou do que foi alcançado, deixou elogios e também falou do seu forçado abandono das funções de autarca, a breve trecho. E atribuiu a sua saída a «circunstâncias diversas e todas elas injustas».

«Por razões, porventura não totalmente conhecidas, não serei julgado e avaliado eleitoralmente pelos farenses com quem tenho trabalhado de forma muito intensa e franca», começou por dizer, para acrescentar, mais à frente, que «por circunstâncias diversas e todas elas injustas, com raízes diferentes, vou deixar todas estas funções dentro de dias».

Declarou mesmo que nunca mais voltará «a exercer nenhuma destas atividades» (presidência de Câmara e da AMAL e muitos outros cargos a isso inerentes). «Disso estou certo», garantiu.

Sobre a situação da Câmara de Faro, o ainda presidente salientou que «a crise de ordem financeira e económica que atravessou este mandato a todos e a tudo condicionou de modo drástico. Só que as dificuldades do Município de Faro, para pior, têm raízes e causas anteriores».

E lamentou que o PAEL ainda não esteja aprovado, admitindo que, «por dificuldades processuais longas e imprevistas, não se conseguiu até hoje desbloquear o empréstimo para acudir aos antigos credores, com anos de angustiante espera». No entanto, garantiu, «tomaram-se medidas adequadas ao reequilíbrio das contas municipais».

Entre a obra feita, da responsabilidade do investimento municipal, de iniciativas do Estado ou de empresas privadas, Macário Correia recordou as «melhorias no abastecimento de água e no tratamento de esgotos desde a Culatra aos Gorjões», a «rede de respostas sociais cresceu no Montenegro, Estoi, em Santa Bárbara de Nexe e na cidade«, os «espaços desportivos, na Penha, no Mercado, no Patacão, em Gambelas e outros locais», as «escolas secundárias modernizadas», o «aeroporto bastante melhorado», o «investimento privado no comércio, no turismo e na saúde», o Parque das Figuras que «é uma realidade» e o Parque Ribeirinho «que está em obra», bem como «a escola da Lejana», que se vai fazendo «aos poucos», e a ampliação das de Bordeira e de Vale Carneiros, e ainda a rede de transportes públicos que «está melhor».

Quanto ao que falta fazer, o autarca diz que «fica-nos a mágoa de ver a variante norte parada e os concursos para o cais comercial e para a doca exterior enrolados nas indecisões dos serviços do Estado».

Macário Correia admite que «a posição de Faro no contexto regional, na sua capitalidade, exige equipamento estruturante, que ainda não temos» e sublinha que «faltam hotéis, um pavilhão multiusos com dimensão, centros empresariais e áreas para realização de novas atividades que tenham efeito de âncora».

Alude ainda à falta de «estabilidade governativa nos órgãos do Município», que, «por circunstâncias variadas», «não se tem verificado» em Faro, município onde, em três décadas, apenas um presidente conseguiu ser reeleito.

A terminar, o carismático autarca afirma deixar «com saudade o Município de Faro» e confessa algumas mágoas: «dói-me profundamente a situação da FAGAR e dos jardins públicos (contra a minha opinião), preocupam-me os complexos dossiês que atravessam a Câmara Municipal e sei de quanto eles complicam os próximos tempos do meu sucessor que será livremente escolhido».

No entanto, garante, «onde quer que esteja, estarei sempre disponível para de modo desinteressado e discreto ajudar a tudo o que me solicitarem a bem de Faro e do Algarve».

«Muitas vezes as coisas não acontecem como desejamos. Temos que saber viver as realidades, fazer delas experiências positivas, naquilo em que permitem melhor conhecer as pessoas, os comportamentos e as instituições. Que o interesse público, as causas coletivas, estejam sempre acima dos nossos interesses pessoais e particulares. E que o nosso caráter nunca oscile em função dos poderes e influências das nossas missões», conclui José Macário Correia no seu discurso do Dia do Município.

Discurso de Macário Correia na íntegra:

«Exmº Senhor Presidente da Assembleia Municipal

Exmos Senhores

O Dia do Município, com a solenidade e as circunstâncias próprias, suscita, obviamente, algumas palavras de reflexão por parte dos seus principais responsáveis.

Estando o mandato a poucos dias do seu fim, não me caberá fazer aqui hoje, grandes promessas e estabelecer compromissos para os próximos anos. Por razões, porventura não totalmente conhecidas, não serei julgado e avaliado eleitoralmente pelos farenses com quem tenho trabalhado de forma muito intensa e franca.

Sei da minha original vontade e presumo não me enganar na de muitos deles, mas isso fica na consciência de cada um de nós.

A crise de ordem financeira e económica que atravessou este mandato, a todos e a tudo condicionou de modo drástico. Só que as dificuldades do Município de Faro, para pior têm raízes e causas anteriores.

Por dificuldades processuais longas e imprevistas, não se conseguiu até hoje desbloquear o empréstimo para acudir aos antigos credores, com anos de angustiante espera.

Todavia, tomaram-se medidas adequadas ao reequilíbrio das contas municipais.

E conseguiu-se algum equipamento público. Nuns casos, com investimento municipal, em outros com iniciativas do Estado ou de empresas privadas.
>Temos melhorias no abastecimento de água e no tratamento de esgotos desde a Culatra aos Gorjões;
>A rede de respostas sociais cresceu no Montenegro, Estoi, em Santa Bárbara de Nexe e na cidade;
>Criaram-se espaços desportivos, na Penha, no Mercado, no Patacão, em Gambelas e outros locais;
>As escolas secundárias foram modernizadas.
>O aeroporto bastante melhorado;
>Diverso investimento privado no comércio, no turismo e na saúde;
>O Parque das Figuras é uma realidade e o Parque Ribeirinho está em obra;
>Aos poucos vai-se fazendo a escola da Lejana e já se ampliaram as de Bordeira e de Vale Carneiros;
>A rede de transportes públicos está melhor.

Fica-nos a mágoa de ver a variante norte parada e os concursos para o cais comercial e para a doca exterior enrolados nas indecisões dos serviços do Estado.

A posição de Faro no contexto regional, na sua capitalidade, exige equipamento estruturante, que ainda não temos.

Faltam hotéis, um pavilhão multiusos com dimensão, centros empresariais e áreas para realização de novas atividades que tenham efeito de âncora.

O planeamento e a boa execução dos objetivos estratégicos de Faro, exigem visão, ambição e estabilidade governativa nos órgãos do Município. Mas por circunstâncias variadas, esta última não se tem verificado.

A cidade e o concelho fazem-se não apenas de obras físicas, mas também com valores, com atitude, com presenças e posturas.

Hoje, no dia nobre de Faro, têm lugar as distinções e os reconhecimentos.

Na parte que me toca, agradeço à Federação de Bombeiros do Algarve e à Liga dos Bombeiros Portugueses o gesto com que me quiseram distinguir.

Num momento de luto e de sofrimento dos bombeiros portugueses é para eles que o nosso respeito e as nossas homenagens se devem dirigir.

O que eu tenho dedicado às causas dos bombeiros, derivou do entendimento que faço das minhas funções e da motivação de ser útil a quem vive aflições e angústias.

Hoje também saudamos os funcionários municipais com mais de 20 ou de 35 anos de bons serviços. Nos tempos que correm, perante tantos problemas que caem sobre os servidores públicos, é de louvar os que persistem de forma dedicada e continuada ao serviço dos outros.

Os nossos homenageados de hoje, são também instituições sociais e ilustres cidadãos.

A missão da Santa Casa e da Cáritas Diocesana, sempre foi de grande relevo e de forte e exemplar e genuína dádiva ao bem dos outros. Nestes tempos difíceis ainda mais exigente e nobre se sentem as suas funções.

Carlos Simões representa uma dedicação à cultura e um saber histórico e bibliográfico excecional. Não sendo um académico, é um profissional que presta aos investigadores e aos amadores de todas as leituras os melhores conselhos e ajudas.

Afonso Dias na voz e em atividades multifacetadas, tem dado vida, desenvolvido e valorizado a cultura portuguesa. O Algarve e Faro, devem-lhe muito.

Francisco Lameira conhece a arte e a história de Faro como poucos. O que tem publicado e orientado constituem uma marca de elevado prestigio para todos nós.
Mas a mais sentida homenagem é para quem aqui não está!

O Prof António Rosa Mendes deixou-nos de modo muito doloroso há apenas três meses. Todas as nossas palavras são poucas para reconhecer e agradecer o que fez pela história do Algarve, por esta cidade e pela vida académica e cultural que abraçou de modo tão intenso e apaixonado.

Quero também nesta ocasião deixar uma palavra de agradecimento às instituições de Faro com as quais trabalhei nestes últimos anos, aos funcionários do Município e aos autarcas do concelho em geral.

Faro e o Algarve estiveram profundamente na minha vida.

Aqui fui estudante e daqui parti para Lisboa, há quase 40 anos, abrigado pelo Refugio Aboim Ascensão.

Fiquei por Lisboa cerca de 20 anos, onde fui estudante e presidente associativo, Diretor Geral na administração pública, docente universitário, deputado por Lisboa e por Faro, membro do Governo, Vereador da Câmara Municipal de Lisboa e dirigente desportivo do ciclismo.

Regressei ao Algarve, desiludido com a fraca produtividade da vida parlamentar e durante 16 anos fui presidente de duas câmaras municipais, dirigi durante uma dúzia de anos a AMAL e tive funções executivas de responsabilidade em quase todas as instituições de serviço público da região: nas Águas do Algarve, na ALGAR, na Entidade Regional de Turismo, na Agência Regional de Energia (a qual presidi 8 anos),na Comissão Regional de Autorização Comercial, no Centro de Arbitragem de Conflitos de Consumo, na Globalgarve, na Comissão Diretiva dos Fundos Europeus e em representação da região no Conselho Económico e Social em Lisboa ou no Comité das Regiões em Bruxelas, entre tantas outras missões associativas, desde a Federação dos Bombeiros, aos círculos culturais, à Orquestra Regional e a tantas outras tarefas.

Fiz tudo isso, numa alegre e motivante entrega, sem férias, nem descanso, todos os dias e a toda a hora.

Conheci muita gente e muita gente me conheceu a mim. Tem sido o período mais intenso e mais exigente da minha vida.

Por circunstâncias diversas e todas elas injustas, com raízes diferentes, vou deixar todas estas funções dentro de dias. Nunca mais voltarei a exercer nenhuma destas atividades. Disso estou certo.

Não estou arrependido de ter ajudado sempre os outros desinteressadamente.
Não estou arrependido de nenhum dos meus atos.

Disse sempre de modo claro e frontal o que pensava sobre os assuntos, sem hipocrisia, nem oportunismos cínicos.

Fui solidário com todas as causas públicas e ajudei a construir muitas soluções regionais fora dos concelhos que dirigi.

Sei como se tomaram as decisões para a conclusão das ligações ao Estádio Algarve, para a linha elétrica Tunes-Estoi, para a constituição da Orquestra Regional, para a unidade de radioterapia, para o Centro Regional da formação em saúde mental, bem como espaços comerciais que decidi tangencialmente, entre tantos outros.

Deixo com saudade o Município de Faro, dói-me profundamente a situação da FAGAR e dos jardins públicos (contra a minha opinião), preocupam-me os complexos dossiês que atravessam a Câmara Municipal e sei de quanto eles complicam os próximos tempos do meu sucessor que será livremente escolhido.

Onde quer que esteja, estarei sempre disponível para de modo desinteressado e discreto ajudar a tudo o que me solicitarem a bem de Faro e do Algarve.

Muitas vezes as coisas não acontecem como desejamos.

Temos que saber viver as realidades, fazer delas experiências positivas, naquilo em que permitem melhor conhecer as pessoas, os comportamentos e as instituições.

Que o interesse público, as causas coletivas, estejam sempre acima dos nossos interesses pessoais e particulares.

E que o nosso caráter nunca oscile em função dos poderes e influências das nossas missões.

Para cada um de vós e para as instituições que representam, para todos um grande abraço de agradecimento pelo prazer que me deram em trabalhar convosco.

Muito obrigado a todos».

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