Hamlet será “aberto” para lançar temporada no Teatro das Figuras

“Abrir” Hamlet pode ser como abrir uma caixa de surpresas, ou até mesmo a caixa de Pandora da mente de […]

“Abrir” Hamlet pode ser como abrir uma caixa de surpresas, ou até mesmo a caixa de Pandora da mente de uma personagem que, por vezes, é «diabólica e psicótica». É o que acontece em «Open Hamlet», de João Garcia Miguel, que lançará, hoje, sexta-feira e amanhã,  a nova temporada do Teatro das Figuras, em Faro, em duas sessões que começam às 21h30.

Uma peça que estreia em Faro com o objetivo de não deixar ninguém indiferente. Mais do que isso, «Open Hamlet» pretende ser um acontecimento de união entre intérpretes e público. «Venham com a mente aberta, para participar numa noite onde, de alguma maneira, nós esperamos não só o melhor de nós, mas também o melhor do público. Nós queremos um bom público, no sentido que faça, connosco, o espetáculo», avisou o criador e encenador da peça João Garcia Miguel, numa conversa com o Sul Informação.

O encenador português está a trabalhar pela primeira vez na região, fruto de um convite que lhe foi lançado pela associação algarvia «ArQuente». O Teatro das Figuras juntou-se a esta parceria e nasceu a peça, que há muitos meses anda a ser preparada, «com avanços e retrocessos» motivados pela crise.

«Gosto de trabalhar com os clássicos. A proposta da Ar Quente foi a de pegar num clássico e transformá-lo, torná-lo noutra coisa qualquer. Abri-lo, como na expressão que usamos, para dele nos apropriarmos e com ele nos relacionarmos… quase que foi uma proposta de construir um texto novo a partir do Hamlet», explicou.

Na base da peça, está uma faceta da personagem que Shakespeare criou. Na visão de João Garcia Miguel, Hamlet «está em constante reflexividade, em constante análise dele e dos outros e tem uma intuição, uma capacidade de se perceber a si próprio e aos outros muito profunda».

«Nós utilizámos um pouco isso, essa capacidade do Hamlet de se perceber a si mesmo, para construir esta peça e analisar a nossa relação com o mundo, bem como a relação que temos uns com os outros. Nesse sentido, o Hamlet serviu como mote, como exemplo», descreveu João Garcia Miguel.

«Acabamos por mostrar logo no nome que a nossa proposta é ultrapassar o Hamlet, mas, ao mesmo tempo, também lidar com o texto. Partimos com essa audácia, de que o Hamlet já foi feito muitas vezes, mas que nós também queríamos ter uma experiência nossa dessa obra, uma apropriação autoral, de um grupo», acrescentou.

Quem for esta noite ou amanhã ao Teatro das Figuras deve ir preparado para assistir uma peça que «tem tanto de surpreendente, que poderá haver pessoas que poderão pensar que passou mais além do teatro, para uma dimensão performativa, de difícil classificação». Mas a peça também tem «uma dimensão de entretenimento», onde não falta o humor.

«Há uma parte da peça em que a assistência é, de certa maneira, provocada e instada a participar, a construir na sua própria mente qual é a sua relação com estes objetos de arte contemporânea, onde existe um desafio à interatividade e até para uma inteligência comum. Discutir, gostar, odiar…enfim, preparem-se para serem invetivados a estar mais ativos do que numa peça normal», disse o encenador da peça. Em palco, o público irá interagir com os atores Ricardo Mendonça, Teresa da Silva e Vítor Gil Silva.

O facto de o Teatro das Figuras apostar numa criação de uma estrutura local, a partir de um texto e encenado por um português, para lançar a temporada «é positivo», mas João Garcia Miguel não se entusiasma em demasia, para já. «Era bom que esta fosse uma medida que ficasse instituída», tornando-se uma prática comum no Teatro das Figuras, disse, mas só o futuro o dirá, considerou.

Para já, apenas estão agendadas estas duas sessões, embora a ideia do encenador e da ArQuente seja tentar levar a peça a outros locais do país, possibilidade que já está a ser trabalhada. Os bilhetes para os espetáculos de hoje e amanhã no Teatro das Figuras hoje custam 7,5 euros.

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