LPN: Central de painéis solares perto de heliporto é risco para a segurança aérea

Riscos para a segurança e para o ambiente levaram a Liga para a Proteção da Natureza (LPN) a questionar a […]

Riscos para a segurança e para o ambiente levaram a Liga para a Proteção da Natureza (LPN) a questionar a construção de uma central fotovoltaica e uma linha de torres eólicas na zona de Morgado do Apra, em Loulé.

A proximidade de um heliporto utilizado pela Proteção Civil à infraestrutura de produção de energia levanta questões sérias de segurança, avisou a LPN Algarve, uma vez que as reverberações dos painéis, a determinadas horas do dia, podem afetar a visão dos pilotos, na aproximação ao local de aterragem.

Uma situação que levou à mobilização da população local, que, além dos incómodos causados pelas reverberações, coloca em causa a destruição de valores ambientais naquela zona do barrocal, pertencente à Rede Natura 2000. Os moradores da zona lançaram uma petição online, que recolheu mais de 500 assinaturas e terão já avançado com uma queixa à União Europeia.

Segundo revelou ao Sul Informação Fernando Pessoa, presidente da Assembleia Geral do Núcleo do Algarve da LPN, a associação já endereçou pedidos de esclarecimentos sobre este investimento tanto ao Instituto Nacional de Aviação Civil (INAC), como à Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) , aos quais ainda não obteve «qualquer resposta».

A central estará a ser construída em três fases, a primeira das quais já está instalada. «O heliporto está rodeado por dois campos de painéis solares, que constituem a Central Fotovoltaica de Apra, um para 4 MW que está por construir, situado a norte do heliporto, mas contíguo a ele, e outro para 6 MW, contíguo também ao heliporto, mas situado a sul e nascente», salienta a LPN Algarve na carta enviada àquelas entidades e a que o Sul Informação teve acesso.

A associação ambientalista questionou o INAC sobre este investimento, perguntando se o instituto aprovou a instalação da central naquele local e se «esta forte reflexão de raios solares não causará problemas sérios ou mesmo impeditivos da aproximação dos helicópteros para utilizarem o heliporto».

Já a questão colocada à DGEG está relacionada com a eventual instalação de uma linha de torres eólicas, associada à mesma central elétrica e a instalar nas imediações. Neste caso, são as questões ambientais que preocupam a LPN, já que as infraestruturas vão ser instaladas «numa zona de Águia-de-Bonelli, que é uma espécie ameaçada». «Queremos perceber se há, efetivamente, um pedido para instalação das torres», revelou Fernando Pessoa.

 

Moradores apresentaram queixa à União Europeia

Quem parece não ter dúvidas quanto aos planos da empresa promotora para aquele local é a população residente na zona, que se mobilizou para tentar parar o projeto.

Depois de tentar junto das autoridades portuguesas, sem sucesso, parar a instalação da central elétrica, os queixosos terão exposto o caso à União Europeia, já depois de lançarem uma petição. Neste momento, a perspetiva será mais evitar o alargamento da central e a instalação das torres eólicas.

Neste documento, os signatários alegam que a central acarreta «riscos para a saúde pública», nomeadamente, «sombreamento, emissões acústicas, ruído audível e infrassonoro, que podem afetar o sono e provocar depressão e problemas neurológicos». Os habitantes locais queixam-se de que não foram adequadamente informados sobre o projeto e que as obras avançaram sem o devido respeito pela consulta aos residentes afetados.

«As energias renováveis são o futuro e nós aplaudimos todos os Estados-membros por seguirem esta iniciativa da União Europeia, mas pedimos que seja assegurada a proteção da paisagem campestre e que estes equipamentos sejam colocados em locais que não afetem a população local, a fauna, a flora e a paisagem», salientam.

Por isso, apresentaram «uma petição aos Ministros e à Direção Geral de Energia e Geologia, para reconsiderarem a decisão que foi tomada. Queremos uma paragem imediata das obras e a participação da população afetada em todos os assuntos relativos a estes projetos, assim como informações corretas permanentemente», exigem os signatários do documento.

Também empenhado em, pelo menos, limitar este projeto, está o ainda presidente da Junta de Freguesia de Querença Manuel Viegas dos Santos, na qualidade de cidadão. Morgado do Apra pertence a uma outra freguesia de Loulé, a de São Clemente, mas o autarca tem estado a acompanhar a situação.

Embora admita que já tenha sido enviada queixa à União Europeia, Manuel Viegas dos Santos coloca-se do lado da LPN e outras organizações ambientalistas e alerta para a necessidade de fundamentar bem qualquer posição que venha a ser tomada.

Viegas salienta a possibilidade de enviar uma queixa à União Europeia, mas defende que esta deve ser baseada em estudos já em curso, por técnicos. A LPN já estará a trabalhar em conjunto com a associação «A Rocha», para tentar parar a extensão da central, revelou Viegas dos Santos.

«Sei que os pilotos dos helicópteros já foram obrigados a escolher outra rota para aterrar, mais perigosa, pois, na que usavam antes, são, por vezes, encandeados pela reflexão da luz nos painéis», disse. Isto numa altura em que só a parte de 6 MW está instalada. Considerando que a central «tem uma extensão demasiado grande de painéis», defende que o seu alargamento para norte tornará a tarefa dos pilotos ainda mais difícil e arriscada.

«Sem dúvida que há sítios melhores, perto dali, para instalar uma infraestrutura deste tipo», considerou Manuel Viegas dos Santos, opinião partilhada por Fernando Pessoa, que frisa que isso é verdade «tanto para os painéis, como para as torres eólicas».

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