Passado divide, futuro (quase) une as propostas dos candidatos à Câmara de Faro

Em Faro, parecem ser mais fraturantes as queixas sobre o que foi feito mal no passado, do que a visão […]

Em Faro, parecem ser mais fraturantes as queixas sobre o que foi feito mal no passado, do que a visão que os diferentes candidatos autárquicos têm daquele que deve ser o caminho futuro do município.

Os seis pretendentes à cadeira de presidente da Câmara de Faro esgrimiram, esta quinta-feira, ideias num debate que foi promovido pela associação CIVIS, com o apoio do Sul Informação, no Club Farense, onde também se destacou a participação do público.

Durante cerca de quatro horas e perante uma sala cheia e muito quente, Vítor Silva (PPV), Paulo Neves (PS), Rogério Bacalhau (PSD/CDS-PP/PPM/MPT/MIM), José Vitorino (Independente), Vítor Ruivo (BE), António Mendonça (CDU) apresentaram propostas para Faro e a sua posição sobre temas na ordem do dia.

O tema mais quente, como tem vindo a ser hábito nas campanhas eleitorais de Faro, é a situação financeira da autarquia. Numa altura em que o município espera ainda a vinda de 21 milhões da parte do Programa de Apoio à Economia Local (PAEL), as visões para o futuro são diferentes.

Da parte do candidato apoiado pela coligação atualmente no poder, Rogério Bacalhau, a mensagem foi a de que, com a chegada desta verba para pagar a fornecedores e o trabalho feito no atual mandato, a situação financeira de Faro «fica controlada».

Uma visão que não é partilhada pela ainda oposição. Desde logo porque, acusaram, há uma dívida de cerca de 7 milhões de euros (falou-se também em 5 e 7,8 milhões de euros) que foi desorçamentada e irá transitar para o próximo ano, algo que irá baralhar ainda mais as contas de 2014, defenderam.

Para Paulo Neves, a solução passa por baixar as despesas em contratação de serviços externos e estimular a economia local, para aumentar receitas. José Vitorino disse, por seu lado, que as contas da Câmara estavam «em descontrolo absoluto» e quer ver dinheiro do Polis reinvestido na economia.

Vítor Ruivo falou em «enfrentar os buracos negros» das contas da autarquia e defendeu a alienação do Estádio Algarve. António Mendonça associou a situação de Faro à do país e defendeu o fim «dos grandes sorvedouros de dinheiro» no concelho, dando o exemplo da FAGAR e do sistema de transportes públicos Próximo, recentemente lançado.

Vítor Silva defendeu uma abordagem às Finanças quase exclusivamente pela via do estímulo das receitas, através de medidas económicas.

 

Propostas passam muito pelo turismo, urbanismo e pela ação social

No que toca a propostas concretas, muitas das ideias que foram lançadas eram partilhadas, com naturais nuances, por mais do que um candidato. O reforço do apoio social, por exemplo, foi uma ideia defendida por todos os candidatos. Mas, nas intervenções que foram sendo feitas por cada candidato, houve temas que sobressaíram.

Por candidato, foram propostas, entre outras medidas: uma aposta na resposta social aos idosos e aproximação à comunidade portuguesa no estrangeiro (Vítor Silva), aposta na Regeneração Urbana e na Investigação e Conhecimento, aproveitando as verbas disponíveis para estas áreas no próximo Quadro Comunitário de Apoio (Paulo Neves), estímulo à criação de hotéis e apoio ao empreendedorismo, através da desburocratização (Rogério Bacalhau), criação de um conselho de cidadania e procurar reorientar as verbas do Polis para demolições para outras intervenções na Frente Ribeirinha (José Vitorino) recuperação do Parque Habitacional, associada à criação de um sistema de arrendamento social em imóveis atualmente desabitados e ataque «aos buracos negros» nas finanças da Câmara (Vítor Ruivo) e a renegociação da dívida da autarquia e apoio ao crescimento da capacidade produtiva, na Ria e na Campina (António Mendonça).

Do público surgiu ainda o desafio aos candidatos sobre a escolha entre a privatização da gestão da água (a autarquia ainda detém 51 por cento da FAGAR) ou uma eventual municipalização. A opção pela municipalização foi defendida como a ideal, pelos diferentes candidatos, mas nem todos se comprometeram a avançar.

Neste campo, a posição tanto de Rogério Bacalhau como de Paulo Neves, que dividem o favoritismo na corrida pela presidência da Câmara, o caminho terá de passar pela renegociação do contrato, pois a municipalização custaria «15 ou 20 milhões de euros», tendo em conta o contrato feito aquando da criação da FAGAR.

Sala cheia no Club Farense para ouvir os seis candidatos

José Vitorino, presidente da Câmara à data da criação da FAGAR (e do contrato apelidado pelos seus oponentes como «ruinoso»), defendeu que essa era, na altura, «a única alternativa» pois havia «30 mil pessoas no concelho sem água e esgotos» e não havia dinheiro para fazer as obras necessárias.

Vítor Ruivo pegou nas palavras do antigo presidente da Câmara, considerando a mensagem de não haver alternativa como «uma mentira colossal», considerando que se pode renegociar com os parceiros privados da FAGAR «que nem cumpriram tudo o que tinham a cumprir».

Vítor Silva foi vago, neste campo, afirmando apenas que seria de avançar para a remunicipalização «se a população assim o desejar», enquanto António Mendonça considerou «essencial manter a gestão da água na esfera pública», defendendo que, «se não for possível renegociar, que se leve a questão às últimas consequências».

 

Acusações voaram, mas não foram esgrimidas

No final, acabou por haver pouca interação entre os candidatos, também pelo modelo que foi escolhido pela organização para o debate. Os candidatos tinham tempos bem definidos para apresentar as suas ideias, que foram sempre respeitados, bem como para responder a questões feitas pela moderadora de serviço, a diretora do Sul Informação Elisabete Rodrigues, numa primeira fase, e pelo público, numa segunda parte da sessão.

A maior tensão acabou por acontecer entre Paulo Neves e José Vitorino, que até estavam sentados lado a lado na mesa do debate (lugares escolhidos por sorteio prévio), que não ficaram indiferentes durante determinadas passagens da intervenção um do outro e não evitaram comentários e reparos.

Os candidatos, com a moderadora e os membros da CIVIS, que organizou o debate

De resto, os recados cruzados foram chegando durante as intervenções que cada um dos candidatos fez. Números e dados referentes à atual gestão e às anteriores foram sendo atirados para cima da mesa, com acusações à mistura.

Mas acabou por ser um debate bastante informativo e vivo, com muita participação do público presente e que pôde ser acompanhado também através da transmissão direta da RUA FM. Oiça aqui o podcast do debate.

 

Fotos de: My Clic Fotografia (fotos 2, 3 e 5), Assis Coelho (1) e Henrique André (4).

 

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