Algarve, o centro do país

Os destinos turísticos de Verão assumem sempre centralidade nesta época do ano. Pelas boas e más razões. No caso do […]

Os destinos turísticos de Verão assumem sempre centralidade nesta época do ano. Pelas boas e más razões.

No caso do Algarve, a conquista da centralidade estival desenvolve-se in misterious ways:

RYANAIR – ao seu estilo agressivo, esta Low Cost tenta condicionar publicamente o Governo a subsidiar a sua expansão em época baixa no Aeroporto de Faro.

O Governo assobiou para o lado. Se bem conheço estas operadoras, devem ter chantageado tudo e todos e queriam um negócio com risco zero.

O Governo fez bem em não ter aceitado, mas fez mal em não ter contraproposto, nos moldes que lhe interessavam e que deveriam pressupor riscos partilhados.

Não devendo aceitar chantagens, deveria ter tido a arte de encostar esta operadora à parede, com condições de assegurar o negócio para o Algarve, mas com garantias de cumprimento de tráfego. Perderam os dois, e o Algarve também.

 

LIFESTYLE, NOITE e BEACH BARS – a consolidação do lifestyle e da noite no Algarve veio para ficar. Passou a ser o modelo de Verão e até os players de ano inteiro se converteram ao mesmo, em vez de perderem tempo com guerras jurídicas e proteccionistas (como mencionado desde há 4 ou 5 anos).

Com esta vibração, estilo e glamour, espero que não apareçam dirigentes do sector a dar entrevistas em piscinas vazias e empreendimentos encerrados.

 

INATEL Albufeira – Os dirigentes do INATEL e os técnicos da Câmara de Albufeira deveriam ser admoestados pelo crime que é a recuperação do antigo INATEL. O que lá estava era vergonhoso, ao abandono, numa localização premium.

A reabilitação é um ultraje. Lá se foi a traça original e todo o storytelling do edifício. O que lhe dava valor único e posicionamento relevante.

Lá se foi o sabor a resort que qualquer hotel em cima do mar deve ter. Virou hotel urbano, igual a todos os outros.

Não admira que tenha virado 3 estrelas. Admira sim que Albufeira tenha perdido uma oportunidade de se reposicionar, com base na reconversão em alta desse ativo. Depois queixem-se que os preços estão baixos.

 

PICTURE PORTUGAL – envolto nas malhas da corrupção em Portimão, este projeto de desenvolvimento da indústria cinematográfica no Algarve, com impacto na economia do Turismo, virou assombração.

Mesmo assim, espero que a visão e as partes positivas do mesmo não sejam deitadas ao lixo. Corrupção à parte, este tipo de projetos são a forma correta (e uma das mais baratas!) de alavancar a imagem global dos destinos turísticos e de intensificar a concorrência com os concorrentes.

 

ALGARVE COM EVENTOS – a ERTA publicou os eventos distintivos da região para este Agosto. Do Festival do Marisco, da Sardinha ao do Frango do Guia, foi um elencar de eventos de base regional. Todos importantes, sem dúvida, e felizmente com muito público.

A questão é que a região continua a fazer bandeira com eventos não posicionadores e de baixo valor acrescentado, com custos inerentes para a sua imagem global.

Eles são muito importantes, repito, mas se o Algarve algum dia quiser ser uma região turística de ponta, vai ter que exorcizar a pobre estratégia do “burro, da velha e do chapéu de palha” (até ofereceu uns figos e compotas a David Cameron, primeiro-ministro britânico, que deve ter-se rido às gargalhadas, nas costas de quem lhos ofereceu).

 

LISTA ÚNICA para a ERTA – liderada por Desidério Silva, merece o nosso apoio. Nesta fase, não é fácil liderar o destino turístico, com fracos recursos e com o desnorte que é a gestão de turismo no nosso país.

Já em relação ao Conselho Consultivo de Marketing, a opinião muda. O Conselho devia ser composto por especialistas em Marketing de Destinos Turísticos, Estratégia, Economia, Gestão, etc. O que lá vejo são responsáveis pelas associações do setor, que destas matérias percebem pouco ou nada.

Lá se vai a oportunidade de ter especialistas a trabalhar tecnicamente assuntos sérios, no sentido de apoiar a Presidência nas suas decisões estratégicas. Mudou-se a legislação e ficou tudo na mesma. Triste.

 

AUMENTO dos TURISTAS ESTRANGEIROS – o Verão está aparentemente melhor que em épocas anteriores. O excedente (spillover) de destinos concorrentes, produzido pela conflitualidade social no Norte de África, está na génese disso.

Assim, esta procura não é natural, nem duradoura. É conjuntural. Melhor que nada. Que se aproveite agora para não vender barato e para fidelizar mais os que para cá vieram, porque não tinham mais nenhum sítio para ir. Estou curioso para ver as estatísticas de final de Verão.

Com o resto do país vazio e a política a entrar em modo “Manta Rota”, observar a centralidade do Algarve, ainda que por breves instantes e nem sempre pelas melhores razões, não deixa de dar o seu prazer.

 

Autor: Mário Candeias é Gestor Hoteleiro

 

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