Projeto Barril aposta nos jovens para combater a sazonalidade

Dificilmente se poderá comparar os problemas económicos e sociais vividos numa  zona balnear bem conhecida e muito frequentada nos meses […]

Dificilmente se poderá comparar os problemas económicos e sociais vividos numa  zona balnear bem conhecida e muito frequentada nos meses de época alta, com os que se vivem no interior de Portugal. Mas, colocando na equação o problema da sazonalidade, percebe-se bem os pontos comuns entre o Projeto Barril, que está a ser agora lançado, e outros projetos nacionais de desenvolvimento local que têm jovens licenciados como elemento central, localizados em zonas de baixa densidade.

O empreendimento turístico «Pedras d’el Rei» e a Universidade do Algarve criaram um consórcio, ao qual já se juntaram muitas outras entidades, que visa replicar nesta zona do concelho de Tavira um modelo que foi lançado originalmente em Querença, num projeto com o nome da aldeia louletana.

No Barril, a ideia original foi, como seria de esperar, adaptada à realidade local, mas a metodologia é semelhante e o mentor é o mesmo, o professor universitário António Covas. O docente da Universidade do Algarve (UAlg) e o diretor do empreendimento «Pedras d’el Rei» António Almeida Pires falaram com o Sul Informação e explicaram o que é o Projeto Barril.

Este é um projeto de desenvolvimento turístico desta zona de veraneio do concelho de Tavira, que tem como polos de referência o empreendimento «Pedras d’ El Rei», a antiga armação de atum e atual espaço comercial da Praia do Barril, a ela ligado, a vizinha vila piscatória de Santa Luzia e a Estação Agrária de Tavira.

Junte-se a estes elementos a «amenidade natural» da zona de implantação da iniciativa e consegue-se «o colar de pérolas» em que assenta o Projeto Barril, ilustrou António Covas.

Identificadas a matéria-prima e as ferramentas disponíveis, procurou-se encontrar pessoas para colocar de pé projetos. E candidatos não faltaram.

Foram cerca de 170 os jovens licenciados que se propuseram a um estágio profissional de um ano, ao longo do qual tentarão idealizar, desenvolver e implantar projetos de negócio. Desta mais de centena e meia de candidatos, estão a ser escolhidos neste momento dez jovens, que se irão instalar no Barril a partir de setembro.

Aos estagiários que forem escolhidos, licenciados em diferentes áreas, pedir-se-á criatividade e arrojo, sob a orientação dos coordenadores do projeto. «Será criada uma espécie de incubadora de pequenos negócios, que eles podem idealizar», referiu António Covas.

Neste momento, «está-se na fase de pré-projeto» e o processo está a ser dirigido por «uma comissão instaladora» da qual António Covas e Almeida Pires fazem parte.

O consórcio fundador é composto pelas entidades representadas pelos entrevistados, bem como a Agência Portuguesa de Ambiente, Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, Câmara de Tavira e Associação Almargem.

Num segundo anel, há outras entidades públicas e privadas já contactadas (a CCDRA e grupos que gerem hospitais privados na região são exemplos) e haverá ainda «um terceiro anel, que são as redes sociais».

 

Sol e Praia com aproveitamento temporal «extremamente escasso»

Na manhã nem sempre soalheira (mas bem quente) de verão em que o Sul Informação entrevistou os principais impulsionadores do projeto, os problemas da sazonalidade parecem ser menos dramáticos do que na realidade são.

A cada viagem de ida para praia, o pequeno comboio que serve a zona balnear vai cheio, um prenúncio de bons negócios na zona comercial e nas concessões.

O problema é que a realidade não é esta, dois terços do ano. «O produto Sol e Praia tem um aproveitamento temporal extremamente escasso», ilustrou Almeida Pires

O objetivo do Projeto Barril é esbater a sazonalidade e criar um modelo que assente não apenas no sol e praia, mas numa oferta diversificada, muito dirigida para os oito meses de época baixa. E isso será possível, acreditam os coordenadores do projeto, através de uma forte aposta em dois setores: «o turismo sénior e acessível e a dieta mediterrânica».

Ali, bem perto das âncoras da antiga armação, hoje uma instalação artística permanente, que lembra a história do local, os dois entrevistados usam a imagem das âncoras, estas metafóricas, para dar a ideia do que se quer ao apostar nestas duas áreas.

Com estas duas âncoras e usando as pérolas como «pivots de visibilidade», tentar-se-á criar negócios variados. «Olhando para este espaço, muita gente não sabe o que acontecia aqui até 1966», salientou Almeida Pires. Assim, a «história e a cultura» associada a este antigo arraial de pesca do atum, bem como as da vizinha Santa Luzia, são um campo a explorar.

Outros são «as ricas fauna e flora» desta zona, em Pleno Parque Natural da Ria Formosa, o desenvolvimento da componente náutica, serviços de saúde e bem-estar e também a produção agrícola.

O campo é vasto e tem tendência a alargar assim que chega sangue jovem, com a irreverência e criatividade que lhe está associado. Colocar vários jovens licenciados no mesmo local, a discutir ideias, tem-se mostrado extremamente proveitoso nos demais projetos de cooperação territorial em que António Covas está envolvido (são já seis), que também se inspiraram no projeto Querença.

«Há que romper com a tendência de fazer igual, em tempos diferentes», considerou Almeida Pires. Quem melhor do que os mais jovens para lançar uma visão fresca sobre os problemas?

 

Projeto quer promover simbiose entre turismo e outras áreas

No Projeto Barril, o conceito de turismo funciona como agregador e não como um limite, já que se pretende que surjam projetos nas mais variadas áreas. A ideia é que estas atividades diversas se conjuguem com a atividade turística já existente, potenciando a oferta e tirando partido de um eventual aumento da procura. Uma simbiose, portanto.

Neste campo, a dieta mediterrânica é um bom exemplo. Debaixo deste “chapéu de chuva” cabe a produção e a investigação agrícolas, a gastronomia e restauração e até a saúde, já que esta é considerada uma dieta muito saudável.

Por outro lado, também entra a projeção internacional, já que Tavira lidera a candidatura portuguesa da Dieta Mediterrânica a Património Mundial, que deverá ser aprovada «em dezembro, na reunião da UNESCO no Azerbeijão».

 (Corrigidas às 17h19 as entidades pertencentes ao consórcio do Projeto Barril) 

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