Paulo Serra transforma Foyer do Teatro das Figuras no «quarto onde se vê ao espelho»

O artista plástico farense Paulo Serra transformou o Foyer do Teatro das Figuras, em Faro, no «quarto onde se vê […]

O artista plástico farense Paulo Serra transformou o Foyer do Teatro das Figuras, em Faro, no «quarto onde se vê ao espelho», com a exposição «Luxo», que mostra obras pensadas propositadamente para aquele espaço.

A exposição foi inaugurada na quinta-feira e pode ser vista até 28 de setembro.

«Trata-se de auto-retratos, feitos a lápis. No fundo, trata-se de falar da qualidade do meu rosto.

À exposição está associado um «catálogo que a Direção Regional de Cultura apoiou», revelou Paulo Serra ao Sul Informação.

O artista farense foi desafiado pela diretora do Teatro das Figuras Anabela Afonso e aceitou criar de raiz uma exposição.

«Eu conhecia o espaço e, como já tinha idealizado a exposição, aconteceu que tudo se conjugou. Esta é mais que uma simples mostra de quadros, é uma instalação, uma apresentação daquilo que eu vivo como artista na cidade de Faro», referiu.

«Eu sou um caso raro. Este é o resultado do meu esforço e do meu caminhar perante as dificuldades que se apresentam. Mas é a prova dada que, ultrapassando dificuldades e falando com as pessoas com o coração nas mãos, tudo se resolve», acrescentou.

Já a diretora do Teatro das Figuras descreve a exposição como uma «viagem», que leva o observador a entrar «no quarto onde Paulo Serra se vê ao espelho». «E é através deste espreitar que vemos a mão que faz nascer o traço; vislumbramos memórias que desconhecemos, mas que em alguns momentos dançam com as nossas», segundo Anabela Afonso.

 

Texto de Paulo Serra sobre a exposição «Luxo» (escrito em dezembro de 2012):

«O ponto de partida conhecia-o bem: o agarrar firme o lápis que me continua. Manchava a folha de papel sem rumo aparente, sabendo que isso levar-me-ia a algo: território de memória. A sedução e o seduzir fazia avançar. Riscava como um cavalo alucinado guiado pelo movimentar da mão e do braço.

Muitas vezes o espelho que tenho no quarto parece mágico. Dá-me a cor e a luz e a sombra que trago hoje. E o tempo de hoje dói. E o desenho dói na verdade da dor que oscila entre o que fui e o ser agora. as memórias afunilam-se no espelho do quarto e o desenho é um passado tornado presente.

O primeiro espectador sou eu que me denuncio ao espreitar-me. Às vezes a força do desenho é serena, como aceitação de cada traço.

Espelho adentro e a poesia é o olhar. A mão transforma o visto em traços e manchas do interior de mim numa melancolia de mar. Em mergulhos submarinos como se visitasse o espelho do meu quarto».

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