Conselhos para iniciação nas observações astronómicas: observar o céu com um binóculo

Adquirida alguma prática regular nas observações do céu a olho nu, o leitor acumulou umas 25 a 30 horas de […]

Adquirida alguma prática regular nas observações do céu a olho nu, o leitor acumulou umas 25 a 30 horas de observação.

Já será capaz de localizar umas 20 constelações e identificar outras tantas estrelas pelos seus nomes, “apontando-as a dedo”.

A prática anterior a olho nu foi essencial, pois agora, quando pega no binóculo, sabe para que constelação o está a apontar e sabe servir-se de mapas do céu. Vamos ver os próximos passos a dar.

Chegou a altura de pensar na aquisição de um binóculo 7×50. O primeiro número indica a amplificação (7x) e o segundo número indica o diâmetro da objetiva em milímetros (50 mm), mas também pode ser um 10×50. Não queira “saltar já” para o telescópio.

A visão a olho nu cobria uma grande parte do céu ao mesmo tempo; o binóculo cobre-lhe o equivalente a uma bola de ténis segura na extremidade do seu braço estendido, que já é uma área celeste relativamente pequena.

Comece com o binóculo, utilizando um livro que tenha mapas com a localização dos enxames de estrelas mais fáceis de observar, as nebulosas mais brilhantes, as duas ou três galáxias mais óbvias e as estrelas duplas de separação mais fácil. Ilumine os mapas com luz vermelha fraca.

Vá-se habituando às técnicas de observação e se puder fale com pessoas que estejam em fases mais adiantadas. Os binóculos não são muito bons para observações planetárias, mas pode observar a Lua (que vai revelar-se uma surpresa) e Júpiter, em torno do qual poderá observar 4 pequenas luas. Saturno não revela pormenores nestas condições.

Nas mãos de quem conheça o céu, os binóculos são instrumentos com possibilidades interessantes para observar os chamados objetos do céu profundo: enxames de estrelas, nebulosas e galáxias (que se vêem às dezenas num céu razoavelmente escuro).

Lembre-se de que um binóculo com objetivas de 50 mm de diâmetro capta tanta luz como 51 olhos em simultâneo (e custa 60 a 140 euros). Há quem só use o olho nu e binóculo: não é “obrigatório” ter, para já, um telescópio.

Oriente-se pelas constelações que aprendeu a localizar na fase anterior; em seguida, baseado nos mapas celestes, encontre estrelas “quase ao lado” dos objetos que quer observar; a partir dessas estrelas de referência, conduza o binóculo até estes objetos: pode fazê-lo com o binóculo seguro nas mãos, mas verá que é melhor se o fixar num tripé fotográfico, com o suporte apropriado. Pratique bastante nesta fase até acumular umas 30 a 40 horas de observação.

Mas não abandone a visão do céu a olho nu. Será agora a sua vez de dar apoio a quem se encontre na fase 1. Não se esqueça de que também houve uma noite em que o leitor não sabia encontrar a estrela Polar, nem a Ursa Maior, nem o Leão.

Não pense que está a perder tempo com estas fases preliminares, pois não há atalhos para conhecer o céu. Esta “rodagem prévia” é essencial para tirar bom proveito de um telescópio e rende juros. Além disso, ter um bom telescópio (ou um telescópio grande) não é necessariamente sinónimo de saber muito de Astronomia, nem substitui o conhecimento do céu.

O telescópio é a sua janela aberta para o Universo, mas essa janela só se abre gradualmente. Pode estar certo de que vai aprender a abri-la mais depressa do que imagina, mas o processo não é instantâneo.

Quando for capaz de “apontar a dedo” e localizar com o binóculo (em céus medianamente escuros) os enxames abertos M45, M7 e M44, as nebulosas M42, M8 e M27, as galáxias M31 e NGC253, e for capaz de distinguir separadamente as estrelas duplas Niú do Dragão, Épsilon da Lira (neste caso só verá duas componentes) e Albireu (no Cisne), então estará apto para a fase seguinte: observar com telescópio.

 

Autor: Guilherme de Almeida

Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 

Para saber mais
Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas, 7.ª edição, Plátano Editora, Lisboa, 2004
Observar o Céu Profundo, 2.ª ed. Plátano Editora, Lisboa, 2003

 

 

Guilherme de Almeida nasceu em 1950. É licenciado em Física pela Faculdade de Ciências de Lisboa e foi professor desta disciplina, tendo incluído Astronomia na sua formação universitária.

Realizou mais de 80 palestras e comunicações sobre Astronomia, observações astronómicas e Física, em escolas, universidades e no Observatório Astronómico de Lisboa.

Utiliza telescópios mas defende a primazia do conhecimento do céu a olho nu antes da utilização de instrumentos de observação. Escreveu mais de 90 artigos de Astronomia e Física.

É autor de oito livros: Sistema Internacional de Unidades; Itens e Problemas de Física–Mecânica (co-autor); Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas (co-autor); Roteiro do Céu; Observar o Céu Profundo (co-autor); Telescópios; Galileu Galilei; O Céu nas Pontas dos Dedos.

A obra Roteiro do Céu foi publicada em inglês, sob o título “Navigating the Night Sky (Springer Verlag–London). O livro Galileu Galilei também está publicado em castelhano e catalão.

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