Há arte no terraço do Mercado de Faro e é para todos

Há pranchas de surf, música a tocar, areia e conversas animadas por entre uma garrafa de cerveja, um refrigerante ou […]

Há pranchas de surf, música a tocar, areia e conversas animadas por entre uma garrafa de cerveja, um refrigerante ou um “cocktail”. Com tanta descontração, nem parecia que o que juntava tanta gente no terraço do Mercado Municipal de Faro era a exposição de arte contemporânea «A-Mar», realizada no âmbito do projeto algarvio «Labirinto Contemporary».

E ainda bem, pois o objetivo era mesmo colocar as pessoas o mais à vontade possível, para poder desfrutar das muitas obras de arte que podem ser vistas nesta exposição, que estará patente até ao próximo sábado. O tema, como o nome dá a entender, é o Mar e o desafio é dar a conhecer as interpretações artísticas bem distintas que a temática pode gerar.

Há uma semana, a exposição «A-Mar» juntou arte e pranchas de surf. Sexta e sábado, aproveitando a presença dos milhares de motõciclistas que visitam a cidade durante a Concentração Internacional de Motos do Motoclube de Faro, haverá um novo momento especial, que será relacionado com a cultura motard.

À conversa com o Sul informação, João Laborinho, um dos responsáveis pelo «Labirinto Contemporary», não quer estragar a surpresa. Ainda assim, avançou que o momento que se viverá no Mercado de Faro no próximo fim-de-semana vai centrar-se «em intervenções artísticas sobre algum objeto da Harley Davidson», emblemática marca de motos norte-americana.

O melhor é mesmo ir lá ver, pois todos são muito bem-vindos. «Às vezes as pessoas têm receio de vir a um evento de arte contemporânea, pois são coisas muito esquisitas. Não são! Estamos a beber aqui umas minis, estamos a ver algo diferente. As pessoas vêm da praia, de chinelos e é esse o espírito que se quer, um espírito o mais livre possível, ou não estivéssemos a falar de arte», disse João Laborinho,.

Assim, visitar esta exposição só requer mesmo vontade, uma mente aberta e subir os degraus que partem do passadiço de madeira que dá acesso à Loja do Cidadão de Faro, no Mercado Municipal. A entrada é livre e a exposição pode ser visitada de terça a sábado, das 10 às 13 e das 16 às 19 horas.

«Algo que nós procuramos mostrar, num espaço que está totalmente em tosco, que qualquer pessoa diria que aqui não se faz nada, é que isso não tem de ser assim. E o que é certo é que as pessoas vêm e ficamos com a sensação que pensam: porque é que está fechado? Quantas propostas já recebemos, nós que nem somos os donos do espaço, para desenvolver aqui atividades…», revelou.

«O Mercado de Faro começou o seu processo de remodelação em 2001, que terminou em 2007, mas foi só agora em 2013 é que se abriu a parte que faltava. E o que faltava era um terraço fantástico, que está virado para Faro, que pertence aos farenses e aos que visitam a cidade e estava fechado», acrescentou João Laborinho.

 

«Tudo o que for tela branca», é com a ilustradora Vanessa Teodoro  

No momento vivido na exposição «A-Mar», na passada semana, uma das protagonistas foi Vanessa Teodoro, ilustradora e “street artist”. Com um riso fácil, mas sem esconder uma boa dose de timidez, a jovem artista portuguesa considerou que cada vez faz mais sentido encontrar locais não convencionais, como o terraço do Mercado de Faro, para mostrar arte.

«As pessoas, hoje em dia, querem ver coisas diferentes, não têm paciência para ir a uma galeria. Esta é uma arte acessível a toda a gente, própria para um lugar como um Mercado, onde vem todo o tipo de pessoas», disse.

«Para além do local, que é muito diferente, temos artistas com estilos muito diversos. Eu trago algo mais ligado à street art, há outros mais abstratos e alguns mais “certinhos” (risos). Acho que isto vai ajudar as pessoas a cultivar as suas mentes», explicou.

A artista lisboeta é «das poucas ilustradoras e das poucas mulheres que fazem street art em Portugal». «Agora, estou a experimentar suportes diferentes», referindo-se à instalação que fez numa prancha de surf e que pode ser vista na exposição. Mas, aparentemente, este gosto por suportes não convencionais vem de longe.

«Sempre gostei de fazer desenhos…nas paredes das minhas casas (risos). Tudo o que for tela branca, é comigo. Também personalizava os meus ténis All Star, antes de ser moda», contou.

Vanessa tirou um curso de Design Gráfico e Publicidade, que complementou com uma formação em ilustração e banda desenhada, na escola ARCO, em Lisboa. Depois de alguns anos a trabalhar na sua área profissional, dedicou-se a tempo inteiro à sua arte.

 

Arte para todos, para combater elitismos

«O Labirinto Contemporary é uma plataforma de promoção e divulgação de arte e design. O nosso objetivo é levar a arte às pessoas e trazer as pessoas à arte. Achamos que deve haver um processo de democratização deste bem, combater um bocadinho as elites. Não se trata de banalização, mas sim de a levar ao maior número de pessoas possível, para que elas possam ter acesso a algo que nós achamos ser fundamental nos dias que correm: a inspiração», ilustrou João Laborinho.

Segundo o fundador da «Labirinto Contemporary», em parceria com João Apolónia, outro grande objetivo do projeto é «promover os artistas, os designers e o seu trabalho». «É fundamental, para nós, que os artistas possam continuar a produzir, nesta fase. Para isso, têm de continuar a vender, não é diferente de outras áreas de negócio. Portanto, é preciso encontrar formas diferentes para cativar pessoas para estes bens», referiu.

«Quem compra este tipo de produtos, está a comprar bens altamente valorizáveis. Hoje em dia, o investimento em arte é dos mais seguros. Julgamos que há condições para poder criar relações em que toda a gente ganha», considerou.

Até agora, o projeto «Labirinto Contemporary» tem conseguido dar a volta à crise, fruto de um trabalho prévio de busca de parcerias e apoios. «Somos um projeto auto-suficiente, que não vive de subsídios. Estamos a trabalhar com parcerias e conseguimos ter uma série de empresas que se envolveram no projeto e nos patrocinam. Pode ser apenas a empresa que vem aqui montar a luz, pode ser a que nos ajuda com flyers ou panfletos», disse.

Da parte do tecido empresarial tem havido uma grande vontade em associar-se ao projeto. «Basta dizer que, até hoje, não tivemos nenhuma nega a apoios que solicitámos», ilustrou.

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