Conselhos para iniciação nas observações astronómicas: o salto do binóculo para o telescópio

Após alguma prática regular de observações astronómicas com um binóculo (30 a 40 horas), o leitor estará preparado para utilizar […]

Após alguma prática regular de observações astronómicas com um binóculo (30 a 40 horas), o leitor estará preparado para utilizar um telescópio.

A prática anterior com o binóculo foi essencial, pois agora verá que o buscador do telescópio, que auxilia a pontaria, se comporta aproximadamente como meio binóculo, permitindo-lhe apontar facilmente o telescópio.

Nesta fase, o leitor já acumulou umas 65 horas de observação (olho nu + binóculo). Não largue o binóculo, que é e será sempre útil.

Na melhor das hipóteses, o campo coberto por um telescópio comum corresponderá ao diâmetro de uma ervilha grande, vista à distância de um braço estendido.

É por isso que o telescópio é de uso um pouco mais difícil que um binóculo e requer mais “horas de céu” por parte do utilizador. Seja persistente. Quanto mais vezes usar o telescópio mais à vontade se sentirá com o céu e com as observações. A sua satisfação será maior. Mas não abandone o hábito de também observar o céu a olho nu.

Quando utilizar um telescópio, não abuse da amplificação (é com 30 a 150 vezes que tem as melhores imagens). Ao diâmetro útil da objetiva de um telescópio chama-se geralmente “abertura”.

Se prefere um telescópio refrator (luneta) escolha uma abertura não inferior a 80 mm. Se for refletor, poderá ser maior.

Escolha um telescópio que não seja demasiado grande (ou demasiado pesado) para a sua idade ou estilo de vida. Um “primeiro telescópio” não deve ter mais de 200 mm de abertura. Mais vale um telescópio de 114 mm ou de 150 mm que possa usar com frequência do que um de 300 mm para o qual estará sempre a ”arranjar” desculpas para não o utilizar.

Para quem escolheu mais com a paixão do que com a razão, as desculpas a posteriori são clássicas: “este telescópio, afinal, pesa muito”, “esta noite está muito frio, fica para o próximo fim-de-semana”.

Tenha em mente que “o barato sai caro”: compre o telescópio só quando puder dispor de, pelo menos, 400 euros. Ou então procure telescópios em segunda mão.

Observe a Lua e os planetas, os enxames de estrelas, nebulosas, galáxias, por ordem de dificuldade crescente, à medida que o seu treino for aumentando.

Arranje bons atlas e livros de apoio à observação. Parta à descoberta do céu: já sabe voar com as suas próprias asas. Desfrute da vista e ensine outras pessoas a conhecer o céu, continuando o ciclo de partilha desta experiência fascinante.

 

Autor: Guilherme de Almeida
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 

Para saber mais:
Observar o Céu Profundo, 2.ª edição, Plátano Edições Técnicas, Lisboa, 2003.
Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas, 7.ªed., Plátano Editora, Lisboa, 2004.
Telescópios, Plátano Editora, Lisboa, 2004.

 

Guilherme de Almeida nasceu em 1950. É licenciado em Física pela Faculdade de Ciências de Lisboa e foi professor desta disciplina, tendo incluído Astronomia na sua formação universitária.

Realizou mais de 80 palestras e comunicações sobre Astronomia, observações astronómicas e Física, em escolas, universidades e no Observatório Astronómico de Lisboa.

Utiliza telescópios mas defende a primazia do conhecimento do céu a olho nu antes da utilização de instrumentos de observação.

Escreveu mais de 90 artigos de Astronomia e Física. É autor de oito livros: Sistema Internacional de Unidades; Itens e Problemas de Física–Mecânica (co-autor); Introdução à Astronomia e às Observações Astronómicas (co-autor); Roteiro do Céu; Observar o Céu Profundo (co-autor); Telescópios; Galileu Galilei; O Céu nas Pontas dos Dedos.

A obra Roteiro do Céu foi publicada em inglês, sob o título “Navigating the Night Sky (Springer Verlag–London). O livro Galileu Galilei também está publicado em castelhano e catalão.

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