Festival Terras sem Sombra leva «Sinais de Fogo» à Basílica Real de Castro Verde

Monumento ímpar do Barroco joanino, a Basílica Real de Castro Verde oferece o cenário memorável para mais um concerto do […]

Monumento ímpar do Barroco joanino, a Basílica Real de Castro Verde oferece o cenário memorável para mais um concerto do Festival Terras sem Sombra, o quinto da edição de 2013, no sábado, 22 de junho, às 21h30.

As expectativas revelam-se muito elevadas, pois serão interpretadas, pelo mais internacional dos ensembles espanhóis de cordas, o Cuarteto Casals, três obras culminantes dos compositores Gyorgy Ligeti, Franz Joseph Haydn e Arnold Schoenberg.

Além disso, o espetáculo – dirigido por Giovanni Andreoli, maestro do Teatro Nacional de S. Carlos – assinala a estreia do Coro Terras sem Sombra, fundado por outro maestro bem conhecido do meio português, Sérgio Fontão de Carvalho, que já atuou várias vezes no Festival.

Lux Aeterna para 16 vozes, de Ligeti, As Sete Últimas Palavras do Nosso Redentor na Cruz para quarteto de cordas op. 51, de Haydn, e De Profundis, op. 50B para coro a capela, de Schoenberg, foram os desafios propostos pelo diretor artístico do Festival, Paolo Pinamonti, que assinala a importância dessas peças como marcos da escrita polifónica e coral.

«Sinais de Fogo» foi o título escolhido pelo diretor-geral do Terras sem Sombra, José António Falcão para este concerto. “As obras escolhidas por Pinamonti – explica ele – representam uma síntese do impacto da espiritualidade na criação contemporânea e elevam a um nível surpreendente o legado romântico; isto torna-as uma experiência estética, mas também existencial, muito especial”.

 

Cuarteto Casals: um quarteto para o novo milénio

 

“A quartet for the new millennium if I ever heard one”, escrevia o Strad Magazine depois de escutar o Cuarteto Casals pela primeira vez, pouco depois da sua formação, em 1997.

Tendo ganho os primeiros prémios nos Concursos Internacionais de Londres e Brahms (Hamburgo), este ensemble afirmou-se como um dos agrupamentos de cordas mais destacados da sua geração, sendo convidado regularmente dos festivais e ciclos de concertos de prestígio mundial.

Entre outros palcos de referência, já atuou com regularidade em Wigmore Hall, Carnegie Hall, Musikverein (Viena), Kölner Philarmonie, Cité de la Musique (Paris), Schubertiade Schwarzenberg, Concertgebouw Amsterdam e Philarmonie Berlin.

Realizou também uma importante produção discográfica, sob o selo de Harmonia Mundi, gravando compositores desde o período clássico até à música do século XX.

Críticas internacionais salientam o notável registo das sonoridades do Cuarteto Casals. Após receber o prestigioso prémio da Borletti-Buitoni Fondation, de Londres, começou a utilizar arcos do período clássico do Barroco para os compositores de Purcell a Schubert, o que trouxe ao agrupamento nova dimensão acústica, diferenciando ainda mais as suas várias linguagens estilísticas. Isto reflete, também, a profunda influência que lhe adveio do trabalho com compositores da nossa época, como György Kurtag. Fez igualmente a estreia mundial dos autores espanhóis mais destacados da actualidade.

Num sinal inequívoco de reconhecimento pela posição de primeiro quarteto de Espanha, com uma importante carreira internacional, o ensemble recebeu o Prémio Nacional da Música e o Prémio Ciutat de Barcelona.

Tem sido convidado para acompanhar os reis de Espanha em visitas diplomáticas ao estrangeiro e para tocar com os Stradivari da coleção do Palácio Real de Madrid.

Os concertos do Cuarteto Casals são frequentemente retransmitidos pela televisão e pela rádio, tanto na Europa como nos Estados Unidos. O agrupamento possui também uma temporada própria no Auditori de Barcelona.

 

Na senda da transumância – artistas promovem o património rural

 

O Campo Branco, designação de vasta área do Baixo Alentejo que compreende os concelhos de Castro Verde, Aljustrel, Almodôvar, Ourique, Mértola e Beja, é uma região moldada pela atividade pecuária.

Outrora foi o destino de extensos rebanhos de ovinos transumantes, provenientes da Serra da Estrela ou de áreas serranas espanholas que, a partir do século XIII – pelo menos –, aqui vinham passar o período de Inverno.

Estas práticas ancestrais, recentemente abolidas, por imposição pouco sensata da União Europeia, sob o pretexto da sanidade animal, têm associadas distintas vertentes patrimoniais, desde as raças pecuárias à gastronomia.

As aves estepárias, que hoje constituem o principal valor de biodiversidade do Campo Branco, foram também favorecidas pelas práticas pecuárias extensivas, que continuam a caracterizar a região, famosa pelos seus tesouros culturais e naturais.

O Festival Terras sem Sombra faz da recuperação do património associado aos antigos percursos da transumância peninsular uma causa prioritária.

Na manhã de domingo, dia 23, músicos, espetadores e voluntários locais partem para o terreno, numa actividade associada à pecuária extensiva, e vão intervir no maneio de uma exploração de ovinos e acompanhar um rebanho de ovelhas numa rota de microtransumância entre os campos de pastagem, a sul, e os restolhos, a norte.

Pretende-se, assim, chamar a atenção para a necessidade de preservar uma tradição em risco.

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