Um Bem Comum

Hoje venho aqui falar de cortes! Não, não vou bater na mesma tecla com que o Gaspar e companhia nos […]

Hoje venho aqui falar de cortes! Não, não vou bater na mesma tecla com que o Gaspar e companhia nos têm massacrado, mas sim dos cortes com que, ultimamente, algumas árvores do nosso país têm sido atormentadas.

Nos últimos tempos, tem sido notícia a morte de alguns exemplares de árvores de arruamento, com o intuito de dar espaço para a plantação de novas árvores, isto segundo justificação das autarquias onde está a ocorrer tal flagelo, primeiro em Lisboa, na Ribeira das Naus, e, há duas semanas,um pouco mais a Sul, em S. Brás de Alportel.

No caso da Ribeira das Naus, a explicação anunciada foi de que as árvores existentes “entram” em conflito com a nova proposta para este espaço.

Como licenciado em arquitetura paisagista que sou e, defensor da ideia de que o progresso acontece naturalmente, sou paralelamente defensor do direito à vida de todos os seres vivos, incluindo as árvores (sim são seres vivos!).

Talvez a solução passasse pelo o transplante dos ditos exemplares conflituosos com a proposta ou até a adaptação da proposta às árvores que já lá estavam (algumas delas com 40 anos, segundo um morador daquela área), mas pelos vistos o abate foi uma tarefa muito mais simples e barata, ou então foi mesmo só porque sim!

No caso de S. Brás de Alportel, a remoção das árvores da Avenida da Liberdade, ou melhor o abate dos exemplares de Melia azedarach, prende-se, segundo a autarquia local, com o facto de as raízes das árvores estarem a danificar o pavimento e os exemplares serem já muito velhos e estarem a cair, podendo provocar acidentes.

A Al-Portel, associação local de defesa do ambiente e do património cultural, classifica como absurda esta manobra da autarquia, nomeadamente quando o objetivo é a substituição das Melias por ameixeiras (substituem-se árvores características de arruamento por árvores características de horta ou de parque lúdico).

Importa aqui frisar a importância da árvore nas nossas vilas e cidades, nomeadamente de espécies como a Melia ou o Jacarandá, características dos arruamentos um pouco por todo o país.

Este tipo de árvore de folha caduca permite o sombreamento das ruas nas estações quentes e a passagem do sol nas estações frias, o embelezamento das ruas com a sua floração, ou até o controlo da humidade relativa e da poluição. Conclui-se, desta forma, que a árvore é de extrema importância no meio urbano, tanto esteticamente como na melhoria das condições ambientais.

Gostaria ainda de deixar aqui uma frase dos dois grandes mestres da arquitetura paisagista em Portugal, Francisco Caldeira Cabral e Gonçalo Ribeiro Telles, a qual pode ser encontrada na obra de sua autoria “A Árvore em Portugal”: “Todos os anos no fim do Inverno saem ao campo, das mais diversas procedências, brigadas de homens armados de serrotes e tesouras a podar os arvoredos das ruas das Cidades e das Vilas…” (a obra é de 1999 e a frase aplica-se hoje em dia, será que estamos a progredir?).

Concluindo: o abate ou a poda desmesurada das nossas árvores pode dar muito jeito a alguns, mas não é de certeza para o bem comum.

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