Megaempreendimentos turísticos no Algarve são ameaça para a a biodiversidade

«Zonas húmidas costeiras ameaçadas por mais megaempreendimentos turísticos no Algarve, zonas agrícolas ricas em biodiversidade ameaçadas por regadios intensivos no […]

«Zonas húmidas costeiras ameaçadas por mais megaempreendimentos turísticos no Algarve, zonas agrícolas ricas em biodiversidade ameaçadas por regadios intensivos no Alentejo, aves marinhas mortas em redes de pesca na costa ocidental, aves de rapina mortas e linhas elétricas no interior norte e centro, espécies-cinegéticas, como rola-brava, em vias de desaparecer por excesso de caça e um enorme atraso na proteção e gestão muitas das áreas da Rede Natura 2000».

Estas são as principais ameaças para as aves em Portugal, segundo a avaliação feita pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) para marcar o Dia da Biodiversidade, que se assinala hoje, 22 de maio.

Mas também há, em Portugal, casos – como o da abetarda (Otis tarda) nas estepes cerealíferas de Castro Verde (Alentejo) ou o do priolo (Pyrrhula murina) – onde os projetos de conservação estão a dar bons resultados.

A SPEA sublinha que, segundo a última avaliação da IUCN (International Union for Conservation of Nature) em 2012, 1313 espécies encontram-se ameaçadas de extinção, isto é, estão incluídas nas categorias de Criticamente em Perigo (197), Em Perigo (389) e Vulnerável (727), o que representa 13% das cerca de 10.000 espécies de aves conhecidas mundialmente até à data.

A acrescentar a estes números, 880 estão consideradas como Quase Ameaçadas, e quatro estão Extintas na Natureza, o que representa um total de 2193 espécies de aves de conservação prioritária.

«Num Portugal marcado por problemas sociais e económicos, a falta de interesse e investimento na conservação da Natureza, e a sucessiva despromoção dos nossos problemas ambientais na escala das prioridades de investimento, continuam a deixar o país cada vez mais pobre», sublinha a SPEA.

Priolo (Pyrrhula murina)

Isso é, salienta esta ONG, «inaceitável, considerando que o preço a pagar por estas opções erradas vai cair sobre as gerações futuras».

A SPEA frisa que «as extinções de espécies de aves não são um fenómeno de outros tempos. Estão documentadas as extinções de 130 espécies de aves desde 1500, 19 desde 1975, e 3 desde o ano 2000. Algumas das espécies Criticamente em Perigo, não são vistas há vários anos, encontrando-se provavelmente extintas».

As principais ameaças às aves a nível mundial são «a expansão e intensificação da agricultura (afeta 87% das aves ameaçadas), e o uso humano dos recursos biológicos, tanto por exploração direta das populações de aves (caça), quer através de impactos indiretos, como a desflorestação, e outros fatores de degradação/perda de habitat».

Por outro lado, «espécies invasoras (especialmente predadores) afetam cerca de um terço das aves globalmente ameaçadas».

Problemas crescentes são aqueles causados pela «perturbação humana, mortalidade acidental (o caso das capturas acessórias de aves marinhas em artes de pesca), e poluição ambiental».

A maioria das espécies de aves necessita de «ações de conservação urgentes, de forma a inverter esta tendência», sendo as mais importantes, a proteção e gestão efetivas das IBAs (Áreas Importantes para as Aves), seguida de sensibilização ambiental e atividades de comunicação dos valores naturais às populações e decisores, e campanhas de controlo de espécies invasoras.

Mas, salienta a SPEA, «a maioria destas espécies necessitam ainda de pesquisa no que diz respeito ao número dos seus efetivos, tendências populacionais, distribuição, pelo que o investimento na sua monitorização é prioritário».

Em Portugal, e no que diz respeito às aves, o priolo (Pyrrhula murina), é considerado pela SPEA como «um caso emblemático de um investimento de sucesso na conservação da natureza».

Trata-se de uma espécie confinada à floresta Laurissilva do Nordeste da Ilha de S. Miguel que melhorou recentemente o seu estatuto de ameaça de “Criticamente em Perigo” para “Em Perigo” na atualização de 2010.

Abetarda (Otis tarda)

A população desta pequena ave duplicou, devido aos trabalhos de conservação liderados pela SPEA, estando agora estimada em 500 a 800 casais, e gerando um retorno estimado em 7 milhões de euros para a região, resultantes da criação de emprego, aquisições pelo programa, visitas de trabalho e turísticas geradas, pelo impacto positivo na redução da erosão e criação de reservas hídricas, entre diversas outras componentes.

Outro caso de sucesso é o da conservação da abetarda (Otis tarda) e das estepes cerealíferas de Castro Verde (Alentejo), promovida pela Liga para a Proteção da Natureza, que «foi um sucesso de conservação da natureza e desenvolvimento social e económico no nosso país».

No entanto, estas não são as únicas espécies de aves ameaçadas no nosso país, nem estes os únicos locais à espera de investimentos urgentes em conservação da natureza.

Em Portugal, existe uma rede de IBAs tanto terrestres (93) como marinhas (17), frequentadas por 11 espécies ameaçadas, entre continente e ilhas. «Em cada um deste locais é possível replicar o sucesso do Nordeste e de Castro Verde, desde que haja visão dos decisores políticos».

A nível global, diz a SPEA, «a falta de proteção legal e gestão eficiente da maioria destas áreas, a passividade dos decisores no sucessivo incumprimento de diretivas europeias, que apenas têm como resultados a apresentação de novos prazos para atingir as mesmas metas, a falta de consenso numa política de combate às alterações climáticas, a exploração desenfreada dos recursos vivos, tanto marinhos como terrestres, e medidas recentes como a Nova Lei das Sementes, continuam a ser exemplo de como não deve ser o futuro».

Tendo em mente os casos de sucesso na conservação, e em que foi possível com trabalho e investimento, inverter o curso de uma situação negativa, conservando a biodiversidade e gerando riqueza, «é imperativo uma maior consciencialização e investimento ambientais, a todos os níveis da sociedade portuguesa», conclui a SPEA.

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