Mais um passo na luta contra o cancro: revelado mecanismo importante na formação de tumores

A atividade de genes que promovem cancro pode ser controlada pelo esqueleto das células. Na última edição da revista Oncogene, […]

A atividade de genes que promovem cancro pode ser controlada pelo esqueleto das células. Na última edição da revista Oncogene, Florence Janody e o seu grupo, no Instituto Gulbenkian de Ciência, identificaram um novo mecanismo pelo qual a atividade de um potente oncogene é limitada pelo esqueleto da célula, limitando o desenvolvimento de tumores.

O cancro é uma doença complexa, na qual as células passam por uma série de alterações que incluem modificações da sua arquitetura e maior capacidade de se dividirem, sobreviverem e invadirem novos tecidos, formando metástases.

Os oncogenes são uma classe de genes que codificam proteínas cuja atividade favorece o desenvolvimento de tumores. Uma destas moléculas, Src, está implicada num grande número de tumores humanos. No entanto, ainda não é clara a forma como as células saudáveis são capazes de travar a atividade deste oncogene, prevenindo que se tornem malignas.

Na última edição da revista Oncogene, Florence Janody e o seu grupo, no Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), identificaram um novo mecanismo pelo qual a atividade de Src é limitada pelo esqueleto da célula, o citoesqueleto, limitando o desenvolvimento de tumores.

Usando como modelo a mosca da fruta, Drosophila melanogaster, Florence Janody e o seu grupo foram capazes de travar o desenvolvimento de tumores induzido pela atividade de Src, através da manipulação genética do citoesqueleto, em tecidos deste organismo.

lorence Janody, Investigadora Principal do Grupo de Dinâmica da Actina, no IGC. Créditos: Roberto Keller, IGC

Um dos principais componentes do citoesqueleto, a actina, forma uma espécie de cabos que constituem uma rede por onde as moléculas se movimentam dentro da célula. Estes cabos estão em constante afinação: as suas extremidades crescem e encolhem por adição ou remoção de componentes através da ação de proteínas, as “actin-capping” (designação em inglês), que vão regulando este processo.

O grupo de Florence Janody mostrou que o desenvolvimento de tumores é travado na presença de elevados níveis do “afinador” actin capping protein. Este “afinador” restringe a atuação de proteínas que são normalmente ativadas por elevados níveis de Src.

Apesar do mecanismo molecular preciso ainda não ser conhecido, a  hipótese levantada por estes investigadores é de que o “afinador” cria uma tensão nos cabos do citoesqueleto que impede a ação destas proteínas. De modo inverso, a atividade do oncogene Src é aumentada quando os níveis de actin capping protein estão diminuídos, uma vez que as proteínas ativadas conseguem-se libertar do efeito bloqueador da rede do citoesqueleto e atuar na célula, resultando no desenvolvimento de tumores.

Assim, quando a rede do citosqueleto não é controlada com precisão, oncogenes como Src não ficam retidos, observando-se o desenvolvimento de tumores.

Florence Janody diz: “É como se o citoesqueleto funcionasse como uma rede de “arame farpado”. O vencedor da competição entre as moléculas do citosqueleto e o oncogene Src, que luta contra o “arame farpado”, irá determinar se a célula se manterá saudável ou se tornará cancerígena.”

Beatriz García Fernández e Barbara Jezowska, primeiras autoras do trabalho, acrescentam: “O nosso trabalho sugere que o aparecimento de mutações, em moléculas que regulam o citoesqueleto, pode ter um papel significativo na indução do desenvolvimento do cancro, durante os primeiros estadios da doença, por permitirem a libertação da atividade destes oncogenes.”
Src foi o primeiro oncogene a ser descoberto, na década de 1950, como sendo capaz de induzir o cancro. A importância desta descoberta foi reconhecida com o Prémio Nobel em Fisiologia e Medicina em 1989.

Este estudo foi desenvolvido no IGC e foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (Portugal).

 

Autora: Inês Domingues (IGC)
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

 

Referência artigo
García Fernández, B., Jezowska, B., and Janody, F. (2013) Drosophila actin-Capping Protein limits JNK activation by the Src proto-oncogene, Oncogene, May 6, doi:10.1038/onc.2013.155

 

Legenda da imagem principal:
A) Crescimento excessivo de tecido no disco da asa da larva da mosca da fruta (tecido que origina a asa na mosca adulta) devido à presença de níveis elevados da atividade de Src; B) Este crescimento é moderado devido a uma maior expressão do “afinador” actin capping protein. Créditos: Beatriz Gárcia Fernandéz, IGC.

 

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