Exposição mostra a Escrita do Sudoeste nas ruas de Salir…e depois vai para Benafim e Ameixial

A exposição de rua itinerante «Quem nos escreve da Serra», que tem como tema as estelas com escrita do Sudoeste […]

A exposição de rua itinerante «Quem nos escreve da Serra», que tem como tema as estelas com escrita do Sudoeste e a Idade do Ferro na serra do Algarve, será inaugurada em Salir, no dia 9 de maio, às 18h00, que ficará patente ao público até ao dia 5 de junho.

No âmbito desta exposição será ainda exposta ao público, no Pólo Museológico de Salir e pela primeira vez, a estela com escrita do Sudoeste encontrada no Viameiro (Salir).

A mostra irá depois ser apresentada na Penina-Benafim (10 de junho a 10 de julho) e terminará no Ameixial (13 de julho a 18 de agosto).

A escrita do Sudoeste é uma realidade histórica de cariz excecional, uma imagem de marca da serra e um símbolo privilegiado da herança histórica do Algarve, pois trata-se da mais antiga manifestação de escrita da Península Ibérica que, ainda hoje, está por decifrar.

Na Península Ibérica, há mais de 2500 anos, numa época de grandes inovações tecnológicas e transformações culturais, os povos do Sul de Portugal e da Andaluzia, a partir do alfabeto fenício vindo do Mediterrâneo Oriental, criaram uma escrita própria da língua falada na região: a escrita do Sudoeste.

Concentrados na serra do Algarve, existem poucos vestígios desta escrita, cerca de cem, e a maioria é encontrado em estelas: blocos de pedra fixados no solo, onde o texto era gravado e escrito em arco, na direção contrária à nossa: de baixo para cima e da direita para a esquerda.

É nesta região que autores da Antiguidade Clássica referem a existência de gente especialmente culta e desenvolvida. Segundo Estrabão (historiador e geógrafo grego do século I d.C.) “possuem uma gramática e escritos de antiga memória, poemas e leis em verso”.

A distribuição espacial das estelas, no atual território português, assinala que a serra de Mú e Caldeirão, entre o Algarve e o Baixo Alentejo, é um dos epicentros deste fenómeno. Aqui, podem ser assinaladas dois conjuntos, um a Sul, na transição da Serra com o Barrocal, entre Benafim e Salir, onde foram encontradas as estelas da Fazenda das Alagoas, Viameiro e Barradas e que com as estelas encontradas em Bensafrim (Lagos) e São Bartolomeu de Messines (Silves) traçam o limite Sul da concentração de estelas com escrita do Sudoeste.

Viameiro: O fragmento da estela do Viameiro foi encontrado por José Viegas Gregório na década de 60 do século XX.

E o outro, a Norte, em torno das Ribeiras do Vascãozinho, Vascanito e do Vascão, confirmando este local com uma das três principais concentrações deste tipo de vestígios epigráficos, que engloba sítios arqueológicos hoje localizados em Loulé e em Almodôvar.

O primeiro fragmento de uma estela com escrita do Sudoeste do Concelho de Loulé foi encontrado em 1897. Mais de uma centena de anos depois, a identificação destes monumentos epigráficos deve-se ao precioso contributo de inúmeros louletanos, investigadores e apaixonados pela arqueologia, como o Prior de Salir, José Rosa Madeira, José Viegas Gregório, Isilda Martins e Victor Borges.

A eles se juntam ainda investigadores como Ataíde de Oliveira, José Leite de Vasconcelos, Manuel Gómez de Sosa, Caetano de Mello Beirão, que contribuíram para a identificação de dez estelas repartidas pelos conjuntos de Benafim/Salir e do Ameixial e para a investigação da escrita do Sudoeste.

A escrita do Sudoeste é a voz que nos aproxima dos pensamentos e modos de vida do passado, um dos mistérios e um dos maiores tesouros da arqueologia europeia, uma realidade arqueológica de cariz excecional, uma imagem de marca desta serra e um símbolo privilegiado da herança histórica da região. Ela é, afinal, a primeira manifestação de escrita da Península Ibérica e uma das mais antigas da Europa e que está, ainda hoje, por decifrar.

Pretende-se agora divulgar os materiais arqueológicos provenientes do concelho de Loulé e dar a conhecer a investigação realizada sobre este período, a escrita, o modo de vida e da morte.

A exposição está concebida de modo a mostrar como este fenómeno resulta de um processo histórico e patrimonial e vai interagir não só com os espaços públicos das localidades, mas também com os espaços envolventes, pois a paisagem serrana é o ambiente onde estes valores culturais se revelam.

Localizada nas vias públicas, a exposição apresenta conteúdos escritos devidamente ilustrados e está organizada em seis partes: a Idade do Ferro, a escrita do Sudoeste, o mundo dos vivos, a morte, os investigadores e os conjuntos de estelas de Benafim/Salir e do Ameixial.

Corte Pinheiro: A estela de Corte Pinheiro foi a última “pedra com letras” a ser encontrada no concelho de Loulé.

No âmbito desta exposição vão acontecer em paralelo as seguintes ações: em Salir, a estela do Viameiro (Salir) será apresentada pela primeira vez ao público no Pólo Museológico, na Penina- Benafim, a estela de Barradas regressa temporariamente à freguesia de origem e no Ameixial será apresentada uma réplica da estela de Corte Pinheiro, uma das estelas daquele conjunto.

Os conteúdos são sucintos e concentrados na transmissão das ideias principais, num discurso contemporâneo e criativo que satisfaz mais do que um tipo de visitante, ou seja, é transversal nas faixas etárias, no nível de conhecimento e nos graus de interesse.

Assegurou-se ainda que a exposição não tem constrangimentos de acessos e horário, proporcionando ao visitante uma curta duração no tempo de visita. Refira-se ainda que esta é bilingue (português e inglês), permitindo uma compreensão dos conteúdos por visitantes além-fronteiras.

A exposição faz parte de uma colaboração da Câmara Municipal de Loulé com o Projeto ESTELA. Este projeto tem a preocupação de transformar o conhecimento científico adquirido no reforço da identidade das pessoas com o seu património e de criar com esta informação uma paisagem cultural.

Nascido em 2008, tem por primeiro objetivo a sistematização da informação das estelas com escrita do Sudoeste, através da caracterização dos contextos, da cultura material e do território dos sítios arqueológicos da serra do Algarve e do Alentejo, contribuindo para a revisão e produção de conhecimento sobre a sociedade que aí habitou, nos meados do 1º milénio a.C..

A exposição faz parte de uma colaboração da Câmara Municipal de Loulé com o Projeto ESTELA e conta ainda com o apoio da Direção Regional de Cultura do Algarve, da Junta de Freguesia do Ameixial, da Junta de Freguesia de Benafim, da Junta de Freguesia de Salir, do Museu Municipal de Faro, da Direção Geral do Património Cultural e do Museu Nacional de Arqueologia.

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