A diretora executiva do Agrupamento dos Centros de Saúde do Barlavento (ACES Barlavento) demitiu-se na semana passada deste cargo, alegadamente por não concordar com as mais recentes orientações da Administração Regional de Saúde para o setor.
Rosa Gonçalves, médica que é considerada uma referência histórica da instalação do Serviço Nacional de Saúde do Algarve, apresentou a sua demissão «por não aguentar mais a má relação com a atual presidência da ARS e por sentir falta de cobertura política aos seus atos», disse ao Sul Informação uma fonte próxima do processo.
A responsável demissionária, que era diretora executiva do ACES Barlavento desde 2009, não quer falar sobre o assunto, enquanto a ARS, instada pelo nosso jornal a comentar esta demissão, informou não querer também comentar o tema.
O certo é que, poucos dias depois da demissão de Rosa Gonçalves do direção do ACES Barlavento, os restantes membros do Conselho Clínico também se demitiram em bloco. O mais caricato é que, ao que o Sul Informação apurou junto de várias fontes ligadas ao processo, os médicos, enfermeiros e outros técnicos que faziam parte desse Conselho Clínico e se demitiram foram todos chamados a Faro, para reuniões separadas, um a um, com Martins dos Santos, presidente da ARS. «Foram chamados a Faro a horas diferentes, para lhes perguntarem porque se demitiram», garantiu uma das fontes.
Com esta demissão em bloco dos responsáveis pelo ACES Barlavento, ficam sem direção os Centros de Saúde dos concelhos abrangidos, ou seja, Portimão, Lagos, Lagoa, Aljezur, Vila do Bispo e Monchique.
«Desde que este conselho de administração está à frente da ARS, os ACES, em especial o do Barlavento, sentem-se jogados às feras. A abertura do Centro de Saúde de Portimão, no ano passado, por exemplo, foi um processo muito, muito difícil, com a Dra. Rosa Gonçalves a inventar soluções para todos os inúmeros problemas que surgiram. Mas conseguiu-se abrir este novo Centro de Saúde!», acrescentou a fonte contactada pelo nosso jornal.
Rosa Maria Silvério Gonçalves é considerada uma médica histórica do SNS no Algarve. Veio para a região em 1975, tendo instalado o Centro de Saúde de Monchique, numa altura em que os meios era escassos. Ao longo dos anos, foi estando sempre ligada à consolidação do SNS e da rede de cuidados primários na região algarvia.
Já como diretora executiva do ACES Barlavento foi a responsável, por exemplo, por encontrar soluções para dotar de médicos (cubanos e colombianos) os Centros de Saúde e respetivas extensões de Vila do Bispo e de Aljezur. Liderou também o difícil processo do novo Centro de Saúde de Portimão, onde, aliás, tem sede o ACES Barlavento.
Há cerca de um ano, em 3 de abril de 2012, foi publicado em Diário da República o despacho do Gabinete do Ministro da Saúde, que renovava, por novo período de três anos, a comissão de serviço de Rosa Gonçalves no cargo de diretor executivo do Agrupamento de Centros de Saúde do Algarve II – Barlavento.
O despacho invocava a «sua competência técnica, capacidade de gestão e formação específica adequada evidenciadas no exercício das suas funções de direção», salientando que a renovação era feita «sob proposta do conselho diretivo da Administração Regional de Saúde do Algarve».
Tudo indica que Martins dos Santos, com a criação do Centro Hospitalar do Algarve, que resultará da fusão dos hospitais de Faro, Portimão e Lagos, irá sair da presidência da Administração Regional de Saúde do Algarve precisamente para chefiar o novo mega Centro Hospitalar. A saída de Rosa Gonçalves do ACES Barlavento permitirá a Martins dos Santos deixar nesse lugar estratégico alguém da sua confiança.
Uma das fontes contactadas pelo Sul Informação especula, por outro lado, que, se tal se verificar, «Martins dos Santos ficará no controlo da saúde no Algarve, deixando os cuidados de saúde primários em causa, mas também a ARS na dependência hospitalar, em vez do contrário. Os hospitais estão falidos e sem perspetiva de financiamento adequado e resta apenas depredar os ACES, que são as Redes de Centros de Saúde».
Tudo questões para as quais o nosso jornal gostaria de ouvir a opinião do presidente da ARS do Algarve, mas que, face à sua recusa em comentar o assunto, ficam sem resposta.
Quanto à nova direção do ACES Barlavento, e após insistência do Sul Informação com uma nova questão, o Conselho Diretivo da ARS informou que «a Dra. Rosa Gonçalves mantém-se em funções, com as mesmas responsabilidades, até a nova Direção do ACES Barlavento ser nomeada e iniciar funções».
O Conselho Diretivo fez ainda questão de esclarecer uma questão de semântica, dizendo que não se trata de uma demissão, mas de uma «renúncia ao cargo».
E reforça aquilo que o Sul Informação já tinha escrito acima: «a Diretora Executiva do ACES Barlavento, Dra. Rosa Gonçalves, foi renomeada pelo CD da ARS Algarve IP em 2012 (Despacho nº4718/2012, 3 de abril de 2012)».
Atualizada às 17h30, acrescentando os esclarecimentos prestados pelo Conselho Diretivo da ARS Algarve, a pedido do Sul Informação.
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