Algarve deve ser região piloto do Turismo de Saúde e Bem Estar

O Algarve deve ser a região piloto nacional na definição de produto e promoção internacional do Turismo de Saúde e […]

O Algarve deve ser a região piloto nacional na definição de produto e promoção internacional do Turismo de Saúde e Bem Estar. Esta foi a ideia base defendida ontem, em Portimão, pelo painel de luxo de convidados para a tertúlia sobre o tema, promovida pela associação Teia d’Impulsos.

O Turismo de Saúde e Bem Estar será, precisamente, um dos temas centrais da visita de três dias que Adolfo Mesquita Nunes, secretário de Estado do Turismo, fará ao Algarve na próxima semana. Motivará mesmo uma reunião específica com empresários, investigadores, hoteleiros, responsáveis por hospitais, autarcas e outros players na tarde de terça-feira.

Desidério Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo do Algarve, João Bacalhau, presidente do conselho de administração do Grupo Hospital Particular do Algarve, João Viegas Fernandes, presidente da Associação Portuguesa de Turismo de Saúde e Bem-Estar, Luís Carito, vice-presidente da Câmara Municipal de Portimão, e Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, foram os convidados para uma tertúlia que encheu a sala da Casa Manuel Teixeira Gomes e se prolongou por três horas, tendo como tema “Turismo de Saúde – Uma alternativa à sazonalidade ou um negócio estratégico não explorado?”

João Bacalhau, presidente do conselho de administração do Grupo Hospital Particular do Algarve, começou por salientar que o Algarve tem «condições climáticas, paisagem e um bem receber» para poder desenvolver o tal Turismo de Saúde, até na sua vertente mais especializada, a do Turismo Médico, para o qual já há estruturas hospitalares.

Mas falta algo de fundamental: os clientes. «Para que este seja um setor relevante há muita coisa a fazer. Em primeiro lugar, querer que isso aconteça e agir nesse sentido». E para isso é preciso que Portugal se liberte «de uma teia de burocracia». Mas é necessário também «ir buscar as pessoas fora», acrescentou o empresário.

João Bacalhau acrescentou que o Turismo de Saúde é um setor que hoje fatura, no mundo inteiro, «100 mil milhões de euros» e que «aumenta todos os anos entre 10 e 20%. Mas nós estamos muito lá para trás».

Desidério Silva, presidente do Turismo do Algarve, defendeu: «nós temos a obrigação de liderar o turismo de saúde a nível nacional». «Temos que nos juntar todos, há um trabalho em parceria a fazer», mas «estamos já atrasados em relação à promoção e valorização do Turismo de Saúde».

João Viegas Fernandes, presidente da Associação Portuguesa de Turismo de Saúde e Bem-Estar, salientou que «ninguém pense que o Turismo de Saúde será a panaceia de todos os males de que o turismo sofre ou para resolver a situação económica do país. Mas pode e deve ser uma ajuda».

Uma ideia que foi partilhada por Elidérico Viegas, presidente da AHETA, para quem este é um «nicho de mercado que constitui uma oportunidade de negócio que pode ser um complemento, pode ajudar a esbater algumas fragilidades do turismo algarvio, das quais a maior é a sazonalidade».

«É um nicho de mercado que na Europa está em franco crescimento, mas no qual nós temos ficado um pouco à margem. Temos os ingredientes, mas temos que os saber cozinhar», salientou o dirigente dos hoteleiros algarvios.

E este é um cozinhado que tem que ser feito quanto antes. Na opinião de Viegas Fernandes, «o Algarve tem que avançar já! O Algarve devia constituir região-piloto nacional» no que diz respeito a este cluster.

Desidério Silva revelou que «com a secretária de Estado anterior isto já tinha sido falado, mas foi-nos dito que todas as regiões teriam de avançar ao mesmo tempo. Agora o atual secretário de Estado vem três dias ao Algarve e dedica uma tarde a falar do Turismo de Saúde». E o que lhes tem sido dito pela ERTA? Que «o Algarve tem todas as condições para liderar» este segmento de mercado. «Temos transportes, temos um aeroporto a duas horas das principais cidades da Europa, temos hospitais, temos segurança, temos clima, temos paisagem e hospitalidade, temos todas as condições! O produto está referenciado como importante, esperemos agora que a conversa de terça-feira com o secretário de Estado possa alavancar o Governo para que invista neste processo».

Viegas Fernandes reforçaria: «o Turismo de Saúde é uma realidade nacional, mas nem todas as regiões têm condições para partir já. O Algarve não prejudica as outras regiões por avançar primeiro».

 

Promoção internacional e menos burocracia

 

Se Portugal, no geral, e o Algarve, em particular, estão atrasados, quem é que vai já à frente? Luís Carito, vice-presidente da Câmara de Portimão, referiu a Turquia que é já «o segundo destino de Turismo Médico do mundo». «Mas para isso, o Governo turco gastou muitos milhões e fez uma campanha fortíssima pelo mundo todo». E, sublinhou Carito, «o turismo médico é onde está uma grande fatia do tal negócio estratégico não explorado. Mas aqui não basta o clima, não basta o sol. É preciso investir, nomeadamente numa boa campanha de promoção lá fora. E isso não é o Algarve que pode fazer, é o Governo».

Luís Carito elogiou mesmo o atual Governo, porque «existe pela primeira vez uma política de Turismo de Saúde bem definida. Mas agora é preciso implementá-la. E isso só se consegue com forte promoção internacional e com incentivos», nomeadamente para atrair profissionais de saúde altamente qualificados que garantam «credibilidade» à oferta.

Tal como as coisas estão, «se formos fazer promoção lá fora apenas com os nossos recursos algarvios, só podemos fazer umas cócegas no Turismo Médico. Mas tem é que haver uma campanha forte e uma estratégia nacional», sublinhou.

A este propósito, João Bacalhau recordou uma sua recente deslocação a um congresso internacional de Turismo de Saúde no Mónaco. «Nós pagámos tudo para lá ir: transportes, estadia, brochuras, tudo. Mas estavam lá empresas da Polónia, a quem o Governo polaco pagou tudo». E essa é uma grande diferença.

«O Algarve tem o 5º maior grupo hospitalar do país [Hospital Particular do Algarve], que fatura 50% com o mercado de estrangeiros. E quando faturamos mais é no inverno, não é no verão», acrescentou o médico e empresário, provando as potencialidades do Turismo de Saúde na região.

«Podíamos faturar muito mais se a burocracia portuguesa fosse igual à turca». E a este propósito recordou uma situação em que os seus hospitais do seu grupo poderiam ter recebido 130 líbios, mas para os quais não foi possível, em tempo útil, conseguir vistos. E esse grupo acabou por ir tratar-se na Alemanha, onde supostamente vigoram as mesmas regras de Schengen que terão impedido Portugal de conceder vistos aos cidadãos daquele país árabe…

João Bacalhau revelou ainda os investimentos que têm sido feitos nas unidades do seu grupo para esses clientes especiais. «Temos uma Unidade de Oncologia. Há muita gente que vem ao Algarve, com as suas famílias, e que se informa se pode fazer o seu tratamento semanal no Algarve. E pode. O Hospital Particular faz. Uma das pessoas que aqui foi tratada foi o homem mais rico da Arábia Saudita, que esteve cá um mês no Algarve».

Luís Carito recordou ainda uma outra oportunidade de que o Algarve pode tirar partido, se souber organizar-se e promover-se internacionalmente. «Este ano entra em vigor uma Diretiva Comunitária que preconiza a livre circulação das pessoas para poderem ser tratadas em qualquer país da União Europeia, sendo os tratamentos pagos pelo seu país de origem».

Mas para poder aproveitar isso é preciso fazer a «creditação internacional» das unidades de saúde (processo onde os hospitais privados estão muitos mais avançados que os públicos), e, no caso do Algarve, «implica que a região seja autossuficiente em todas as áreas de medicina, o que passa pelo tal Hospital Central que o Algarve ainda não tem». Mas é, sublinhou Carito, «um potencial de mercado brutal!».

É que é preciso esquecer que, atrás de um doente que venha ao Algarve tratar-se, vem sempre a família, pelo menos um acompanhante.

 

Esbater a sazonalidade

 

O Turismo de Saúde pode não ser a cura para os males do turismo algarvio, mas tem potencialidades para ser uma boa ajuda.

Elidérico Viegas, dirigente dos hoteleiros algarvios, salientou que «o segmento de mercado do Turismo de Saúde e Bem Estar é semelhante ao Golfe, pode contribuir para esbater a sazonalidade». É que, sublinhou, o golfe, apesar de muito importante, «só é responsável por 5% da ocupação hoteleira na região».

Viegas Fernandes acrescentaria: «não é apostar nisto ou naquilo, é apostar nisto e naquilo, é apostar em mercados turísticos tradicionais e mercados emergentes, é apostar nos diversos segmentos de mercado», no Turismo de Saúde e Bem Estar, mas também no de natureza, desportivo, cultural, de negócios, gastronómico, entre outros, como também salientou Desidério Silva, presidente do Turismo do Algarve.

Mas afinal, se temos todos os ingredientes, porque é que o Algarve não é já um destino de Turismo de Saúde e Bem Estar?

Segundo Elidérico Viegas, falta «criar uma lógica de produto, associada a uma lógica comercial e de promoção para vender o produto de forma integrada, que é o que até hoje não conseguimos».

João Bacalhau sublinha que «o nosso produto não é barato, não o podemos vender barato, mas podemos vender a qualidade que temos. O cliente tem em conta o valor, que não quer dizer preço».

Viegas Fernandes, por seu lado, diz que o Algarve não pode competir com os gigantes do Turismo Médico, como a Turquia e a Índia. «Mas pode competir e ganhar com um produto integrado: se vender spas, thalasso, termas, hospitais, com praias, gastronomia, tudo. É nesse produto integrado que ninguém nos vence. Daí a importância de aprendermos todos a trabalhar uns com os outros».

«Partimos atrasados, por isso temos que andar mais depressa que os outros, mas com passos seguros. De uma vez por todas é preciso que não fiquemos apenas pelas palavras, mas que haja ação, ou seja, que haja promoção e divulgação», disse ainda o presidente da AHETA.

Na terça-feira, durante a reunião com o secretário de Estado Adolfo Mesquita Nunes, ficará a saber-se se o Governo tem ou não planos – e condições – para passar das palavras aos atos.

 

 

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