«É erro estratégico apoio à Cultura estar a desvanecer-se», diz maestro João Paulo Santos

A igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, em Beja, recebeu no sábado, 18 de maio, Dia Internacional dos Museus, uma […]

A igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, em Beja, recebeu no sábado, 18 de maio, Dia Internacional dos Museus, uma conferência do maestro João Paulo Santos, diretor de estudos musicais no Teatro Nacional de São Carlos, integrada no ciclo da 9.ª edição do Festival Terras Sem Sombra.

Partindo da temática da ópera em Portugal no século XVIII, o orador abordou também os desígnios da vida musical no nosso país, numa altura em que a cultura atravessa uma fase pouco favorável.

Como referiu João Paulo Santos, “cada vez mais, pensamos mais no «quanto vale, quanto custa», o que também conta, mas não podemos cair no erro de nos orientar exclusivamente por esse factor; deveríamos ponderar que a cultura, de certo modo, é uma espécie de investimento que não se pode contabilizar – e que esquecê-la seria perder uma identidade”.

De facto, Portugal viveu anos de ouro no período setecentista, assinalado por uma fortíssima produção artística, incluindo encomendas musicais a alguns dos mais importantes libretistas italianos, os quais serviram de inspiração aos compositores nacionais (ou estrangeiros ativos entre nós), o que catapultou Portugal para a linha da frente neste género musical.

Ópera e música sacra viviam então de mãos dadas e o generoso apoio da corte permitiu um grande desenvolvimento do estilo operático.

Algo que contrasta, inevitavelmente, com os dias de hoje, quando a cultura tem vindo a diminuir o seu espaço na sociedade e a focar-se, quase como um monopólio, em grandes centros culturais, excluindo muitas regiões do mapa português.

Fazendo da descentralização cultural um dos seus pilares de ação, o Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja, entidade promotora do Festival Terras sem Sombra, celebrou recentemente um protocolo de colaboração com o Teatro Nacional de São Carlos.

O objetivo é conseguir fazer irradiar ainda mais um trabalho permanente, ao longo de quase 30 anos, para salvaguardar o acesso ao património, muito especialmente ao património religioso (não só cristão, mas também judaico e islâmico) no território alentejano.

Como referiu João Paulo Santos em Beja, “julgo que o Festival assume, só pelo facto de existir, uma grande importância, porque num país e, sobretudo, numa zona onde não existe tanta atividade de divulgação cultural, estas iniciativas são de louvar”.

Esta edição do Terras Sem Sombra recai sobre a polifonia, algo transversal aos géneros musicais portugueses que se destacam no panorama mundial: o Fado e, mais recentemente, com a sua candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade, o Cante Alentejano.

João Paulo Santos reconhece a qualidade imposta pelo diretor artístico Paolo Pinamonti, à programação de 2013: “Tenho visto, pelos agrupamentos que aqui se deslocam, que é um festival extremamente variado, onde quem acompanha os concertos pode ficar com uma panorâmica muito acertada do que é a polifonia, a nível nacional e internacional”.

Termina, lançando um desafio: “Seria interessante perceber qual a influência da polifonia no Cante, e até que ponto este é uma manifestação espontânea ou com bastante influência da escrita polifónica, em especial a sacra”.

O próximo concerto daquele que é considerado pela crítica como “o maior festival de música sacra” do país está marcado para o dia 1 de Junho, numa co-produção com o Teatro Nacional de São Carlos, que trará à igreja matriz de Vila de Frades (Vidigueira) As Estações, de Joseph Haydn, com interpretação de Luís Rodrigues, Carmen Romeu e Mário João Alves, acompanhados pela Orquestra Sinfónica Portuguesa e pelo Coro do Teatro de São Carlos, sob a direção musical de Donato Renzetti.

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