Turismo e Paisagem

Muito se discute neste dias o turismo, com especial incidência no Algarve: novos mercados, novas tipologias, a componente residencial, entre […]

Muito se discute neste dias o turismo, com especial incidência no Algarve: novos mercados, novas tipologias, a componente residencial, entre outras questões. Contudo, uma questão continua a ser menosprezada ou mesmo ignorada: a sua relação com o ordenamento do território.

O turismo, enquanto ação reconhecida como tal, remonta à antiguidade e ganhou tal denominação com o Grand Tour, um preceito adotado pela aristocracia inglesa a partir do século XVI, no qual a família pagava, no fim dos estudo, uma viagem (que podia durar até cinco anos), para que os jovens pudessem ganhar experiência e complementar a sua formação académica.

A essa atividade sempre se associou e associa um denominador comum: a procura de novos territórios, de novas paisagens, que, de alguma forma, correspondam a um ideal de belo. Essa procura pode incluir paragens dominadas pela natureza (lembremo-nos de exemplos como Grand Canyon ou a Amazónia) ou pela ordem do homem (Paris ou Nova Iorque, pontos de referência para os dois primeiros classificados no ranking da OMT).

Qualquer que seja o enquadramento no qual se inclua o Algarve atualmente, reconhece-se que foi a partir do filão do Sol e Mar que esta região se converteu num destino de relevância europeia e mundial (Portugal ocupa a 25ª posição da classificação da OMT).

Porém, o turismo surge como uma atividade que se relaciona com o território: tanto pode ser uma relação “simbiótica” (que confere vantagem para as duas partes), como estabelecer uma relação de “parasitismo” (que compromete o “hospedeiro”).

Analisando aquela é foi a evolução e os cenários que se colocam para o futuro, rapidamente se chega a uma conclusão: as opções tomadas ao nível do ordenamento do território e da economia regional conduziram a um erro estratégico, a crença de que o turismo, por si só, suportaria uma região.

Adicionando o golfe ao cluster inicial, o turismo ganharia sustentabilidade para um novo ciclo de prosperidade. Contudo, ignorando-se todas as outras dinâmicas, a degradação urbana, rural e económica acelerou e hoje somos confrontados com uma região que, perante a sua desqualificação, perdeu qualidades diferenciadoras e competitividade (principalmente se comparado com regiões com que o Algarve compete).

A capacidade instalada é hoje largamente sobredimensionada, tendo em conta os fluxos anuais registados e a economia regional responde a tal realidade com a maior taxa de desemprego nacional (17,9% para o ano de 2012). A crise, apesar da sua dimensão inesperada, veio acelerar a constatação de tais erros.

Que soluções podemos explorar para este problema? Antes de tudo, definir uma visão integrada e ordenada para a região, abandonando a ideia de que serão planos setoriais que trarão a resposta a problemas estruturais.

Uma região sem agricultura, sem indústria, sem pesca, é uma região irremediavelmente condenada a um processo de obsoletização do turismo e ao ocaso económico e social.

 

Autor: João Rodrigues é Arquiteto Paisagista

 

 

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