Herança islâmica colocada ao serviço da cultura e do turismo na Rota Al-Mutamid

O seu objeto é a cultura e o património material e imaterial deixado pelos árabes na Península Ibérica, mas a […]

O seu objeto é a cultura e o património material e imaterial deixado pelos árabes na Península Ibérica, mas a ideia é que seja também uma forma de estimular a economia, atraindo turistas. A rota turístico-cultural Al-Mutamid foi apresentada quinta-feira em Loulé, um dos locais por onde este itinerário cultural transfronteiriço irá passar, já a partir de junho.

A primeira fase da rota, que será em parte implantada em território algarvio, foi apresentada pela Direção Regional de Cultura do Algarve, o parceiro nacional deste projeto transfronteiriço e apoiado por fundos europeus.

A entidade aproveitou o Dia Mundial dos Monumentos e Sítios para mostrar, na Alcaidaria do Castelo, em Loulé, o que será esta rota, cuja inauguração está marcada para a mesma cidade, em junho, «durante o Festival MED».

Loulé é uma das localidades algarvias que são pontos de passagem oficiais, à semelhança de Aljezur, Sagres, Silves e Tavira. Faro e Albufeira, nomeadamente Paderne, apesar de não serem parceiros oficiais, também serão incluídos na rota, devido ao relevante património islâmico que o seu território possuiu e «forneceram informação».

O nome escolhido para a rota remete para o rei Al-Mutamid, que nasceu em Beja e reinou na Taifa de Sevilha entre 1069 e 1091. Uma figura histórica que ligou ambos os lados da fronteira, daí ter sido escolhida.

A Rota Al-Mutamid coloca, literalmente, o Algarve no mapa dos percursos culturais europeus, já que os oito percursos do projeto liderado pela fundação pública andaluz «El Legado Andalusí» fazem parte do Grande Itinerário Cultural do Conselho da Europa “Rotas do Legado Andalusino”.

Estes percursos turístico-culturais «atravessam mais de 200 localidades do Sul da Península Ibérica, no território que os árabes chamaram Al-Andaluz», segundo a diretora regional de Cultura do Algarve Dália Paulo.

O ponto central do projeto é a cidade espanhola de Córdoba, a sede do antigo califado, mas a principal atração é Granada, o último bastião islâmico na Península Ibérica e uma cidade que mantém muita desta herança bem viva.

«Granada é o ponto de chegada de todas as rotas, que provêm de pontos distantes do antigo reino Al-Andaluz», referiu Rui Parreira, da Direção Regional de Cultura. A Rota Al-Mutamid, nesta primeira fase, ligará Huelva a Aljezur, num percurso com conteúdos integrados.

Esta é a única rota que se estenderá ao território português e, numa fase posterior, irá subir até Lisboa e voltar ao Sul através de Vendas Novas, Évora, Beja e Mértola, reentrando em Espanha para atravessar a serra de Huelva em direção a esta cidade da Andaluzia. «Pode ser vista como uma rota com dois percursos ou uma rota circular», ilustrou Rui Parreira.

A rota será apoiada por um livro-guia, cujos conteúdos até já foram desenvolvidos pela fundação «El Legado Andalusí», que será complementada com um encarte que dará indicações de locais a visitar em toda a região, onde ficar e onde comer, de modo a estimular os que fazem este percurso a partir à descoberta não só dos sítios que ela atravessa, mas outros locais com interesse cultural e ambiental.

Museu de Loulé vai ser o ponto nevrálgico da rota Al-Mutamid na cidade

O Museu de Loulé, que acolheu a apresentação da Rota Al Mutamid, terá três novos espaços de exposição com ela relacionados, nas três torres do castelo que o acolhe. Espaços que visam «complementar e não repetir» o conhecimento que este museu arqueológico já divulga.

«A primeira torre vai ser um ponto de informação, de descoberta e de convite para a rota. Ou seja, é uma sala dedicada a todo o património islâmico que está na Rota Al-Mutamid. É o enquadramento geral, mas sobretudo o convite para sair para o território», revelou Dália Paulo ao Sul Informação, à margem da sessão.

«A segunda sala já é dedicada ao local onde estamos, a cidade de Loulé e a sua importância no contexto regional. Esta sala será complementada com um leitor de paisagem, no terraço da torre, que nos vai permitir, ao mesmo tempo que o temos à nossa frente, perceber, visualizar e fazer uma caminhada no tempo ao passado para perceber onde estavam os sítios na cidade islâmica. Esta também nos leva para a rua», acrescentou.

Um dos locais que fará parte do roteiro dentro de Loulé são os banhos públicos, um sítio arqueológico que ainda hoje está a ser desvendado por técnicos da autarquia. Este sítio de interesse foi visitado na quinta-feira, no âmbito do Dia dos Monumentos e Sítios, e ficou a garantia da parte da autarquia de que, apesar de as escavações estarem neste momento paradas, em breve prosseguirão, para desvendar mais segredos desta herança do passado que, apesar de enterrada (ou por causa disso), está muito bem conservada.

«A terceira sala passa para o interior, para o quotidiano islâmico e para aquilo que nós queremos que também seja valorizado, a ligação do antigo com o contemporâneo, através do património imaterial. Passa para a gastronomia, para os sabores, para o que era a cozinha e os seus rituais», descreve, com paixão, a diretora regional de Cultura.

Apesar deste olhar para o interior das tradições e do legado islâmico, a ideia é, igualmente, levar as pessoas a descobrir a cidade, neste caso «a nossa gastronomia atual».

Este desafio para sair à descoberta pretende também dinamizar a economia. Como ilustrou o vereador da cultura de Loulé Joaquim Guerreiro, esta rota alia «a educação, o património, o turismo e a cultura».

Uma das grandes vantagens que traz, na visão do autarca, é o «ganhar de escala que sozinhos não conseguimos ter». «Vamos ganhar escala na divulgação e na atração turística da nossa cidade. Quem visitar um dos pontos da rota vai ter sempre interesse em conhecer os restantes», considerou.

Outra vantagem que poderá surgir da Rota Al-Mutamid é que «podem nascer novos produtos turístico-culturais, como noutras regiões, nas áreas da animação e gastronomia». «Temos um passado muito rico. Devido ao terramoto, não temos muito património edificado, mas temos a memória e alguns vestígios que podem ser valorizados», disse Joaquim Guerreiro.  

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