Centro de Portimão deve ter trânsito ou ser fechado aos automóveis?

Abrir ou fechar ruas do centro da cidade ao trânsito? O que é melhor para o comércio, para os moradores, […]

Abrir ou fechar ruas do centro da cidade ao trânsito? O que é melhor para o comércio, para os moradores, para os automobilistas? Partindo dos casos da Rua Direita ou do Largo da Igreja, esta foi uma das questões que suscitou o interesse, na sexta-feira à noite, da plateia que debateu o tema «Trânsito e Acessibilidades», numa iniciativa da Associação Cívica Portimão Sempre.

Mas muito mais se discutiu na Black Box do Teatro Municipal de Portimão, que acolheu mais de 60 pessoas para falar sobre os problemas e as soluções possíveis para as questões da mobilidade dentro da cidade e no concelho.

João Cruz, da Escola de Condução Portimonense, mostrou uma série de casos, por vezes até caricatos, se não fossem perigosos, de erros, faltas e excessos da sinalética em Portimão. Na maioria dos casos, a solução é simples e barata.

João Nunes, delegado em Portimão da Associação Portuguesa de Deficientes, chamou a atenção para «o problema das barreiras arquitetónicas com que nos defrontamos em Portimão». Falou de casos que já referiu muitas vezes anteriormente e que, para alguns dos participantes no debate, até podiam soar a repetição. Só que, como João Nunes salientou, «há anos que falo disto e continuarei a falar porque os problemas não se resolvem».

Alguns dos problemas? «A Câmara de Portimão sofreu obras há poucos anos, mas se eu estiver de cadeira de rodas não posso assistir a uma reunião pública»; «O Vai e Vem tem uma rampa para cadeiras de rodas no Largo do Dique, mas depois entramos ali e não há hipótese, só podemos voltar a sair ali, porque, pelo caminho, não há mais nenhuma rampa. Se eu quiser ir ao Hospital e estiver de cadeira de rodas o que faço? Chego lá e jogo-me do Vai e Vem?»; «Há praias acessíveis em Portimão. Mas o que me interessa a mim que a praia seja acessível se não há transportes acessível e eu não consigo chegar lá?»; «Na Praia da Rocha, nas obras recentes que lá fizeram, colocaram um corrimão nas escadas, mas só de um lado. Posso descer apoiado, mas depois para subir, como faço? Venho de costas?».

João Nunes já fez estas mesmas perguntas em muitas outras ocasiões anteriores, mas, pelos vistos, terá que continuar a fazê-las. «Levaram a gritar que a legislação portuguesa sobre as barreiras arquitetónicas era a melhor legislação da Europa. O que me interessa. Até podia ser a melhor do mundo, porque não a cumprem».

Ricardo Palet, engenheiro civil com grande experiência em projetos e obras de infraestruturas rodoviárias, com a ajuda da GNR e da PSP, fez um levantamento dos chamados “pontos negros” nas estradas e ruas do concelho e da cidade, para concluir que, na maioria dos casos, obras relativamente simples que garantissem melhor ordenamento, melhor circulação e, sobretudo, esclarecessem as regras, poderiam diminuir de forma acentuada os problemas.

O especialista falou de uma série de cruzamentos e outros locais que são verdadeiras dores de cabeça para os automobilistas e para as autoridades, até pela quantidade de acidentes, alguns deles graves, que aí se dão.

Alguns dos casos referidos foram o entroncamento da estrada EM531-1 de Marachique para o HPA, a rotunda à entrada de Alvor, o cruzamento da Igreja da Penina, a curva da Adega da Torre «com pouca visibilidade e estreita, onde há choques frontais», o túnel de 2,5 metros de largura nessa mesma estrada, por baixo da linha férrea, no acesso ao Monte Judeu e a Alcalar, a pseudo rotunda da Avenida Paul Harris, o cruzamento da Avenida São João de Deus, junto ao Mercado Municipal, o Largo Gil Eanes e a Passagem de Nível, o Largo da Igreja de Portimão.

 

Trânsito de volta à zona da Casa Inglesa?

 

Um dos problemas que Ricardo Palet sublinhou é o da entrada nascente de Portimão, pela Ponte Velha. «Quem entra pela Ponte Velha para ir para a Praia da Rocha perde-se na cidade de Portimão».

A oradora seguinte, a arquiteta Lucinda Caetano, administradora da empresa municipal Portimão Urbis, onde é responsável por tudo o que tem a ver com o urbanismo, falou precisamente nas várias soluções que já foram pensadas para melhorar a circulação na zona ribeirinha de Portimão, em especial na área situada entre o Teatro Municipal Tempo, a Casa Inglesa e o Largo do Dique,.

É que o estrangulamento criado nessa zona quando o trânsito no sentido Praia da Rocha/Ponte Velha foi cortado por completo pelas obras na zona ribeirinha feitas nos anos 90 é um dos maiores problemas de circulação criados na cidade. Problema mais grave ainda por se tratar da zona que é a verdadeira sala de visitas de Portimão, junto ao rio, onde toda a gente que visita a cidade quer ir…mas onde nem sempre consegue chegar.

Para esta zona há agora cinco propostas de solução que passam todas por repor o trânsito em ambos os sentidos, ainda que isso possa causar algum embaraço na ligação mais direta entre a cidade e o rio.

Uma das soluções adiantadas por Ricardo Palet passa pela compra ou expropriação de dois ou três prédios, que até estão à venda e devolutos há anos, junto à Casa Manuel Teixeira Gomes e ao fundo do Jardim 1º de Dezembro (frente ao Tempo), de modo a permitir a criação de uma nova rua que ligue essa zona diretamente ao Largo do Dique, sem passar frente à Casa Inglesa.

Essa é uma solução que já vem sendo trabalhada há anos e que consta, nomeadamente, da proposta do Atelier Promontório para a zona ribeirinha de Portimão, datada de meados dos anos 2000 (o tal projeto que previa o Insetário, o Oceanário, o teleférico, etc), e que foi copiada na proposta mais recente, apresentada em Setembro de 2011 pelos arquitetos Miguel Arruda e Sidónio Pardal.

Há ainda a solução da construção de um túnel naquela zona, mas essa parece estar há muito posta de parte, seja pelas dificuldades técnicas de construir tal obra numa zona junto ao rio e na sua maioria constituída por aterros, seja, sobretudo, pelos custos enormes envolvidos.

 

Rua Direita: aberta ou fechada?

 

Na questão da circulação na baixa de Portimão entronca o problema da Rua Direita. Há anos, no âmbito das obras do UrbCom, e porque na altura, segundo lembrou João Rosado, presidente da ACRAL, se pretendia atrair para essa artéria o mesmo movimento de compradores e turistas que a Rua das Lojas tinha, por ser vedada ao trânsito, a Rua Direita foi repavimentada em calçada e fechada.

Uma das pessoas presentes no debate disse que essa solução foi então aprovada pela maioria dos comerciantes com loja aberta na Rua Direita. Parecia ser a solução para os seus problemas.

Mas a pedonalização não parece ter surtido o efeito desejado, até porque, entretanto, os hábitos se alteraram e (talvez pela abertura de tantos centros comerciais na periferia da cidade), o número de pessoas na zona diminuiu. Foi então decidido reabri-la, até porque o pavimento, em calçada, não é propício a grandes velocidades e, por isso, permite uma coexistência mais ou menos pacífica entre automóveis a passar e pessoas a circular a pé ou mesmo nas esplanadas dos restaurantes e pastelarias. «Era uma rua que estava completamente morta e que reviveu graças à reabertura do trânsito», garantiu João Rosado, da ACRAL.

António Costa, empresário com negócio aberto na Rua Direita e membro da Associação Comercial de Portimão, disse: «hoje, os comerciantes da Rua Direita estão agradecidos pelo facto de a rua estar aberta!».

O fecho da Rua Direita teve ainda um efeito perverso, como recordou João Miguel, um morador do centro histórico de Portimão: «Durante os anos em que essa rua esteve fechada, as pessoas que, como eu, moram nas ruas antigas, por onde os automóveis passaram a circular, viveram um inferno de trânsito e de barulho. Nem a janela podíamos abrir».

Momentos antes, Pedro Mota defendeu: «não tirem o trânsito do centro da cidade».

Mas o morador João Miguel tem uma opinião completamente contrária: «por favor, tirem o trânsito do centro de Portimão».

E até rebateu o argumento de que, sem automóveis a passar por lá, as ruas dos centros históricos perdem o seu movimento e veem o comércio e os restaurantes a fechar: «aquela zona do centro antigo de Portimão morreu e o trânsito passa por lá todos os dias, O trânsito não tem a ver com o florescimento da atividade económica, há outras razões e outras formas para promover esse florescimento económico», frisou João Miguel.

 

Avenida São João de Deus, um eixo estruturante

 

Outra artéria da cidade cujo reordenamento foi defendido é a Avenida São João de Deus, onde se situa o Mercado Municipal. Ricardo Palet preconiza a duplicação dos sentidos do trânsito, acrescentando ao que hoje se faz do centro de Portimão em direção à V6, também o contrário, por esta ser uma «via estruturante», que permitiria uma entrada direta para a zona antiga e de comércio, para mais servida por um parque de estacionamento subterrâneo (na Alameda).

Lucinda Caetano, da Portimão Urbis, mostrou os planos municipais que existem para a zona e que passam precisamente pela criação de dois sentidos de trânsito na Avenida São João de Deus. «Ao nível do planeamento tudo está pronto», garantiu. Falta agora a decisão política.

Aliás, no debate que se prolongou por três horas – e não foi mais longo porque o Tempo tinha que fechar à meia noite – ficou claro que, nos anos mais recentes, o problema de Portimão não é falta de planeamento ou de projetos, nem sequer de debate e diálogo.

Como salientou João Pires, dirigente da associação Portimão Sempre, no fim da sessão, em declarações ao Sul Informação, «o que falha é a passagem da informação para quem deve tomar as decisões e depois a concretização dos planos e dos projetos». Como foi referido por diversos intervenientes, «na Câmara de Portimão, a máquina está pêrra e não avança».

Um documento com o resumo da conferência será elaborado e divulgado pela “Portimão Sempre” para poder ser consultado por qualquer pessoa interessada.

Está já agendada para o próximo dia 25 de Abril mais uma edição «Portimão Sempre LIVE», com o tema a ser anunciado muito em breve.

 

Atualizado às 15h45, corrigindo as propostas de Ricardo Palet para a Avenida São João de Deus.

 

 

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