Bio Turismo

A empresa que gere a água que todos os algarvios consomem em suas casas, Águas do Algarve S.A., vai levar […]

A empresa que gere a água que todos os algarvios consomem em suas casas, Águas do Algarve S.A., vai levar a cabo uma obra na Lagoa dos Salgados que contempla uma conduta elevatória e ainda a requalificação do habitat lagunar de modo a promover as condições ideais para a nidificação da avifauna que habita este ecossistema.

A Lagoa dos Salgados apresenta uma riqueza biológica de extrema importância, o que, para os amantes da natureza e sobretudo de atividades como o birdwatching, constitui um importante atrativo turístico.

Esta situação, por muito que custe a acreditar aos grandes promotores turísticos, representa a mudança de paradigma no turismo algarvio, isto porque o turismo de massas, apesar de bastante rentável, não é o único tipo de turismo que o Algarve tem para oferecer.

O turismo de natureza é uma valência na qual o Algarve tem de apostar em força, e não é só porque sim, mas porque temos condições para que tal aconteça.

Ora faça-se um pequeno resumo dos locais de interesse para o turismo de natureza da região Algarvia: Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, Ria de Alvor, Lagoa dos Salgados, Ria Formosa, Sapal de Castro Marim, Serra de Monchique, Fontes de Estômbar, Rocha da Pena, Fonte Benémola, Serra do Caldeirão, entre outros locais.

Neste momento, já se abriram as mentes, sobretudo nos municípios do interior algarvio, nomeadamente o de Monchique, que criou uma marca territorial própria que contempla este tipo de turismo, estando patente na BTL deste ano a apresentação de uma campanha que revela a serra de Monchique como o «topo do Algarve», em que o Turismo de Natureza se assume como um dos pilares.

A Lagoa dos Salgados, não apresentando qualquer tipo de estatuto de protecção, encontra-se neste momento sob a sombra da construção de um mega empreendimento turístico, que, mais uma vez, está direcionado para o turismo de massas, à semelhança do empreendimento que já existe na margem nascente desta lagoa e que se encontra encerrado e ao abandono.

Este tipo de perturbação provocado não apenas em tempo de obra como com o funcionamento deste empreendimento põe em causa a sustentabilidade e o bom funcionamento deste ecossistema delicado.

A obra que foi apresentada pela empresa Águas do Algarve S.A. contempla cerca de 300.000 euros para a requalificação deste habitat, melhorando as condições de nidificação para a avifauna presente neste local, com a instalação de ilhotas e a interdição de parte das margens à circulação humana.

Esta empresa efetuou uma obra na ribeira de Odelouca, a jusante da parede da barragem de Odelouca (também uma obra desta empresa), na qual desenvolveu esta ideia de ilhotas para o aumento da biodiversidade, como se pode verificar na imagem.

Este tipo de abordagem, que pode ser entendida como uma intervenção de bioengenharia, revela-se não apenas eficaz do ponto de vista funcional, como bem implementada no que diz respeito ao valor cénico, não contrastando com a paisagem existente, e ainda no que diz respeito à sustentabilidade, visto que normalmente este tipo de ilhota é desenvolvida com materiais locais, evitando o transporte de outros materiais de locais longínquos.

Esperemos que a obra agora prevista seja uma mais valia para a Lagoa dos Salgados e para os seus pequenos habitantes, para que os amantes do turismo de natureza continuem a escolher a nossa região para o desenvolvimento deste “bio turismo” que o Algarve está a descobrir aos poucos, contribuindo também eles para o desenvolvimento económico do Algarve.

 

Autor: Tiago Águas é licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade do Algarve

 

 

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