Rota dos Descobrimentos lançada em Sagres a bordo de nau espanhola (com fotos)

No cais do porto da Baleeira, em Sagres, deveriam estar atracadas duas embarcações. Mas só lá está uma, a espanhola […]

No cais do porto da Baleeira, em Sagres, deveriam estar atracadas duas embarcações. Mas só lá está uma, a espanhola «Victoria», réplica da nau com a qual Fernão de Magalhães fez a primeira viagem de circum-navegação.

A portuguesa caravela «Boa Esperança» está fundeada a umas dezenas de milhas dali, em Lagos, de cujo porto não pode sair devido ao risco de afundar-se.

Por isso, a apresentação do projeto «Descubriter – Rota Europeia dos Descobrimentos», que em teoria engloba as duas réplicas de embarcações históricas, só pôde contar, esta sexta-feira, com uma delas.

Desidério Silva, presidente do Turismo do Algarve, admitiu que «a caravela não está em condições para estar aqui por razões que todos conhecem, mas pode ser visitada em Lagos». Ou seja, a «Boa Esperança» precisa de manutenção que há anos não é feita, precisa, por outras palavras, de investimento que a ERTA não tem agora capacidade para fazer.

Por isso, como revelou o responsável máximo pelo turismo algarvio, «estamos em contacto permanente com a Câmara de Lagos para ver qual o futuro da caravela. Há uma associação que está a ser formada, sediada em Lagos, integrada por gente com vontade e com vocação para tomar conta da Boa Esperança. Dentro de dois meses, espero que haja uma evolução positiva em relação a esta questão».

Por isso, a apresentação do projeto «Descubriter – Rota Europeia dos Descobrimentos» foi feita a bordo da nau espanhola, que navegou dia e meio desde Sevilha.

O projeto desta Rota dos Descobrimentos junta em parceria sete entidades do território ibérico: Fundación Nao Victoria, Prodetur (Diputación de Sevilla), Ayuntamiento de Palos de la Frontera, Turismo do Algarve, Direção Regional de Cultura do Algarve, Câmara Municipal de Vila do Bispo e a Promosagres, associação de empresas e empresários de Sagres.

Um museu virtual dos Descobrimentos, jornadas sobre o papel dos portugueses e andaluzes nas expedições marítimas da época e passeios a bordo de réplicas de embarcações históricas são as principais ações do projeto . A iniciativa junta o Algarve a Andaluzia e quer levar os turistas a navegar pela epopeia que envolveu as duas regiões entre os séculos XV e XVII.

«Queremos diminuir a sazonalidade do turismo no Algarve, aumentar o Verão, e isso só pode ser vendido se houver outros produtos que atraiam cá os turistas fora da época alta. Ora isso passa por oferecer novos produtos e o património, o turismo cultural, é um deles. Daí a importância desta Rota dos Descobrimentos», salientou Desidério Silva.

«Este é um projeto lúdico de grande envergadura, e com rigor histórico, que está a ser desenvolvido por uma equipa transfronteiriça que inclui entidades algarvias. É uma iniciativa que vai certamente valorizar o património luso-espanhol», sustenta o presidente do Turismo do Algarve, Desidério Silva.

Para já, a maior parte das ações ainda só está no papel, pelo menos do lado português da fronteira, mas todas terão de ser postas em prática até ao final de julho próximo. Desde um museu interativo online com documentos, imagens, vídeos e arquivos relacionados com os Descobrimentos até campanhas de sensibilização em barcos semelhantes aos usados nas viagens ultramarinas da época, muitas são as propostas.
Num investimento de cerca de 450 mil euros, cofinanciados a 75 por cento pelo Programa Operativo de Cooperação Transfronteiriça Espanha-Portugal 2007-2013 (POCTEP), esta rota turística pretende promover a cultura, a história e o património das navegações do território de onde partiram as primeiras expedições marítimas do mundo.

 

Museu virtual pode ser ponto de partida do roteiro

 

Rui Parreira, diretor de serviços de Bens Culturais da Direção Regional de Cultura do Algarve, explicou que «o projeto parte de um desafio feito pela Fundacíón Nao Victoria ao Turismo do Algarve».

O projeto, acrescentou, «parte do património da época dos Descobrimentos para delinear uma rota, que se pretende que seja uma Rota Europeia, como tal considerada pelo Conselho da Europa». Mas quando se fala em património, Rui Parreira esclarece que não se está apenas a referir a monumentos, a peças em museus. Há todo o lado do património imaterial, como as influências dos Descobrimentos «na gastronomia destes territórios do Algarve e da Andaluzia, ou nas suas festas e tradições».

Um dos projetos mais visíveis desta Rota será o Museu Virtual dos Descobrimentos, que está em fase de conceção. «Permitirá aos visitantes conhecer a rota através da internet» e incluirá também «um balcão virtual de informação sobre o património, mas também sobre a hotelaria e a restauração disponível, que permita a descoberta mais confortável desse roteiro».

Rui Parreira disse ainda que o Museu apresentará uma «coleção virtual», não só de peças, entre as quais as mais significativas peças existentes nos museus físicos, mas também de bens culturais,

Este Museu virtual, que terá que estar aberto ao público até finais de junho próximo, está a ser concebido e depois será gerido pela Direção Regional de Cultura. Rui Parreira defendeu que não se trata de uma «solução low cost», já que o Algarve não dispõe de nenhum museu físico dedicado aos Descobrimentos, mas antes «de uma solução diferente, um museu geração 2.0», que até poderá permitir ao visitante «ver, escolher e ter maior interatividade».

A tripulação da Nau Victoria, com a capitã (de camisola às riscas)

Quanto à Rota dos Descobrimentos, poderá começar a percorrer-se a partir desse museu virtual, mas terá também materiais de divulgação próprios, acessíveis nos postos de turismo, hotéis e restaurantes, que incluirão «o que se pode visitar, onde se pode comer e onde se pode ficar».

 

Nau Victoria aberta a visitas do público até dia 19

 

José Luis Hernandez, presidente da Fundacíón Nao Victoria, revelou aos jornalistas portugueses que, do lado espanhol deste projeto, já há uma página na internet a funcionar, ao mesmo tempo que tem sido implementado um programa educativo para as escolas.

No entanto, admite que do outro lado da fronteira também se está «numa fase muito inicial». O objetivo, salientou é criar a Rota dos Descobrimentos que ligue «Sevilha, Sagres, Lisboa, Málaga e Valência».

Quanto à nau Victoria, réplica da que, no século XVI, levou o português Fernão de Magalhães a fazer a primeira viagem de circum-navegação, ao serviço da Coroa de Espanha, ainda na semana passada esteve em Sevilha, onde recebeu a visita de 700 alunos.

Além da nau, a Fundação possui ainda uma outra réplica, de um galeão (século XVII), que neste momento está a atravessar o Atlântico, rumo a Santo Domingo, na República Dominicana, recordando as viagens que os galeões fizeram ao serviço de Espanha, tantas vezes carregados de riquezas incontáveis, obtidas nessas Américas quase míticas.

Por seu lado, a nau Victoria vai permanecer atracada na Baleeira, em Sagres, até quarta-feira, e está aberta ao público. As visitas são gratuitas e ocorrerão em dois períodos: de manhã (para as escolas) das 10h00 às 14h00, e de tarde (público em geral) das 16h00 às 18h30.

A nau deverá depois rumar a Lisboa, se o estado do mar o permitir. Na capital portuguesa, a Victoria permanecerá de 27 de fevereiro a 3 de março, também aberta a visitas.

A nau, que merece mesmo uma visita, tem uma tripulação de 13 pessoas. José Luis Hernandez salientou que, porque se trata de um barco-escola, a tripulação inclui profissionais, como a capitã, que é uma mulher, mas também formandos e voluntários. E até deixou um desafio: se alguém quiser aprender mais sobre as artes da marinhagem, a Victoria poderá receber voluntários para a viagem entre Sagres e Lisboa.

 

 

 

 

 

 

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