Os cantores da «Grândola»

Na sua versão original, radiofónica, esta crónica começava com os primeiros acordes da «Grândola, Vila Morena», com o som dos […]

Na sua versão original, radiofónica, esta crónica começava com os primeiros acordes da «Grândola, Vila Morena», com o som dos passos e os primeiros versos. Como o tema desta crónica é mesma a música «Grândola, Vila Morena», achei por bem sugerir à produção da RUA que começasse a crónica com os primeiros momentos desta canção de Zeca Afonso.

A «Grândola» foi uma das senhas do início da revolução do 25 de Abril de 1974 e só por isso já figurava na História do país. Mas agora tornou-se “viral”, como agora se diz, com toda a gente a cantá-la, em Portugal e fora daqui, como na vizinha Espanha, quando a hora é de protesto.

Em 1987, tinha eu começado a trabalhar como jornalista há pouco tempo, por ocasião do Ano Europeu do Ambiente, fui convidada a visitar a então República Federal da Alemanha, integrando um grupo de jornalistas dos vários países do Conselho da Europa que escreviam sobre temáticas ambientais.

Uma noite, estávamos nós todos num hotel algures no meio da Alemanha, lembraram-se que, para estimular o convívio, cada um dos jornalistas deveria cantar uma canção do seu país, o mais simples possível, para que depois os outros acompanhassem.

E houve canções em alemão, inglês, grego, islandês, espanhol, francês, finlandês, italiano, holandês…quando chegou a minha vez, confesso que me deu uma branca e que a única canção de que me lembrava era o Hino Nacional, mas achei que não seria a mais apropriada para cantar ali, entre copos de cerveja e conversa fiada em várias línguas.

Estava eu a rememorar os meus parcos conhecimentos de canções, quando a jornalista finlandesa se levantou e começou a cantar, em português, a «Grândola, Vila Morena»… E eu acompanhei-a, até porque ela sabia a letra toda e eu, para minha vergonha, mais parecia o ministro Relvas a cantarolar uma palavra aqui, outra ali.

A minha colega da Finlândia, que me lembro que se chamava Annya, explicou-me depois que tinha trabalhado como cooperante em Moçambique, pouco tempo antes, onde tinha convivido com portugueses e moçambicanos, aprendendo aquela canção «revolucionária», como ela me dizia.

Mais de um quarto de século depois, a «Grândola» voltou à ribalta, como grito de gente que não se conforma com o atual estado das coisas neste nosso país e nesta nossa Europa. E, graças às facilidades permitidas pela internet, tornou-se “viral”.

Só espero que, de tão “viral”, a «Grândola» não se transforme numa coisa vulgar, a que ninguém liga. Só espero que tanta vontade de a cantar não desvirtue não só a música em si, mas sobretudo o seu significado mais profundo.

Mas lá que é uma bonita forma de protestar, ai isso é!

 

Este é o texto da crónica radiofónica que todas as quintas-feiras assino na Rádio Universitária do Algarve (RUA) e
que pode ser ouvida em podcast aqui.

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