Moeda de ouro romana regressa a Portimão 43 anos depois

Quarenta e três anos depois de ter sido descoberta no fundo do rio Arade, a moeda de ouro romana classificada […]

Quarenta e três anos depois de ter sido descoberta no fundo do rio Arade, a moeda de ouro romana classificada como sendo uma “Aureus” de Faustina, do século II, regressa a Portimão e ao seu primitivo contexto histórico, para integrar a título definitivo as coleções do Museu de Portimão, por despacho da Secretaria de Estado da Cultura, publicada no Diário da República desta segunda-feira, 18 de fevereiro.

A moeda foi descoberta em 1970, durante as dragagens para criar uma bacia de rotação para os navios que demandavam o porto de Portimão, situado no estuário do rio Arade.

No dia 23 de Outubro de 1970, o Diário de Noticias divulgava a descoberta “de dois barcos possivelmente romanos naufragados do século II, no porto de Portimão” e dos inúmeros vestígios trazidos à superfície, destacava fragmentos de cerâmica, peças de metal e uma moeda de ouro.

José Gameiro, diretor do Museu de Portimão, sublinhou, em declarações ao Sul Informação, que a devolução da moeda de ouro romana à sua origem só foi possível pelo facto de a estrutura museológica da cidade algarvia integrar a Rede Portuguesa de Museus e por isso ter «condições adequadas para alojar um objeto deste valor patrimonial».

Aquele responsável acrescentou que, depois de concluído o processo burocrático de incorporação, a moeda, considerada como importante testemunho da presença romana e do património arqueológico e cultural deste Município e do Algarve, será integrada e exibida na exposição “Portimão – Território e Identidade”. «Talvez consigamos ter a moeda cá para o aniversário do Museu, em Maio», adiantou.

Este exemplar foi o único no seu género encontrado num conjunto de alguns milhares de moedas recuperadas na sequência daqueles trabalhos de dragagem, juntamente com muitos fragmentos de cerâmica e várias peças em metal, atestando todo esse acervo o importante movimento comercial que existiu na foz do Arade durante o período de influência romana.

Pouco depois da sua descoberta, a moeda cunhada entre os anos de 152 e 156 da nossa era em honra de Faustina Junior, esposa do imperador Marco Aurélio, foi entregue pela então Junta Autónoma dos Portos do Barlavento Algarvio, responsável pelas obras de dragagem, à guarda da Caixa Geral de Depósitos, onde permaneceu até agora.

Helder Mendes, cineasta e mergulhador amador que fez as primeiras filmagens subaquáticas dos vestígios arqueológicos encontrados no fundo ao Arade nos anos 70, contou ao Sul Informação que a a moeda foi encontrada «pelo holandês da empresa da mesma nacionalidade contratada pela Junta Autónoma de Portos para fazer as dragagens»

As dragas, recorda Helder Mendes, «trouxeram para cima várias coisas, nomeadamente essa moeda, mas também madeiras de barcos antigos, fragmentos de cerâmica. O holandês, que era uma pessoa culta e com visão, foi entregar a moeda de ouro na Junta dos Portos. Daí, a notícia espalhou-se e as pessoas diziam que havia um tesouro de moedas de ouro no fundo do rio Arade». Mas, tanto quanto se sabe, de ouro só esta pequena “Aureus” de Faustina.

«Nós, ou seja, a Federação Portuguesa de Atividades Submarinas, da qual eu fazia parte, e o Centro Português de Atividades Submarinas, que éramos mergulhadores amadores, mas já com uma certa consciência do valor do património, fomos até ao fundo do rio».

Da moeda, Helder Mendes lembra-se que foi feito «um modelo de gesso, para que ela pudesse ser estudada».

O antigo mergulhador e cineasta, que é das poucas pessoas que alguma vez viram a moeda de perto, considera «mais do que justo, nem podia ser de outra maneira» a devolução da moeda de ouro romana a Portimão. «Na Caixa Geral de Depósitos, onde ela estava desde os anos 70, é que a moeda não fazia nada, Ninguém a podia ver e admirar, ninguém a podia estudar. Agora, no Museu de Portimão, é um património de todos que poderá ser usufruído por todos».

 

Quem é Faustina?

Faustina Junior (125-175)

Annia Galeria Faustina Minor, filha do Imperador Antonino Pio e de Faustina Senior, foi esposa do Imperador Marco Aurélio, de quem teve 13 filhos, dos quais se destacam Commodus, último Imperador da Dinastia Antonina e Lucilla, esposa do Imperador Lúcio Vero.

Acompanhou o marido nas suas campanhas militares, sendo bastante popular e respeitada pelos soldados. Marco Aurélio atribuiu-lhe o título de Mater Castrorum, a protetora do acampamento militar.

Em 175, numa campanha militar na Cappadocia, Turquia, sofreu um acidente que a vitimou. Foi divinizada, e a sua estátua colocada no Templo de Vénus, em Roma.

Esta moeda de ouro, “aureus”, foi cunhada entre os anos de 152 e 156 da nossa era, durante a vigência de seu pai, o Imperador Antonino Pio.

No anverso, mostra o busto de Faustina à direita, com o cabelo ondulado, apanhado sobre a nuca; apresenta a legenda FAUSTINA AUG. P II AUG FIL, ou seja, Faustina Augusta Pia, filha de Augusto, título ostentado pelo Imperador em curso, Antonino Pio.

No reverso, uma pomba caminhando, e a legenda CONCORDIA.

 

 

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