Movimento Arade debateu associativismo e cultura em Silves

Refletir sobre Silves e depois intervir. Estes são, em resumo, os objetivos do Movimento Arade, que foi criado no ano […]

Refletir sobre Silves e depois intervir. Estes são, em resumo, os objetivos do Movimento Arade, que foi criado no ano passado e que este sábado, dia 26, promoveu a sua segunda iniciativa, o primeiro debate do ciclo «A Cultura em Silves», tendo como tema «Repensar o Associativismo Hoje».

Paulo Pina, um dos promotores do Arade – Movimento de Reflexão e Intervenção Cívica, explicou ao Sul Informação que esta nova estrutura, para já ainda informal, está «aberta a todos» e está «assente na liberdade de quererem entrar ou sair em qualquer momento».

O primeiro debate, que contou com sala cheia na Biblioteca Municipal de Silves, teve como convidados Dália Paulo, diretora regional de Cultura do Algarve, Paulo Penisga, professor, criativo e dinamizador cultural/Galeria Zem Arte, e ainda Luís Guerreiro, chefe da Divisão de Cultura e Turismo da Câmara Municipal de Loulé. A moderação esteve a cargo de Paulo Pires.

Perante uma plateia onde estavam presentes muitas das pessoas ligadas ao movimento associativo e cultural de Silves, Paulo Pina salientou que «a temática da Cultura é muito querida à comunidade silvense», por isso o movimento considerou que este seria «um tema interessante para começar a debater, para mais na sua ligação ao associativismo».

Dália Paulo, por seu lado, começou por salientar que, na sua opinião, «o associativismo nasce porque as pessoas se querem implicar na vida pública» e assim contribuir «para a vida da polis, para refletir e agir».

Enquanto diretora regional de Cultura, Dália Paula salientou que «para nós, que estamos do lado das instituições, é importante que haja estas associações, esta sociedade civil forte que nos confronte».

Paulo Penisga sublinhou o «muito que o concelho de Silves deve à vida associativa» e salientou que as associações são constituídas por «pessoas inquietas, que não se contentam com a sua vidinha. A sociedade mudou muito, mas a vida associativa continua a ser muito pertinente».

Luís Guerreiro, chefe da Divisão de Cultura e Turismo da Câmara Municipal de Loulé, disse que é importante saber «como é que as associações se relacionam com o poder local. Até agora era uma lógica de subsídio, de dependência». Mas a crise pode alterar isso.

De facto, um dos temas que esteve em debate foi o do financiamento das atividades das associações, nomeadamente as que estão ligadas à Cultura. Paulo Penisga defendeu que «não há associativismo sem ser subsidiado».

Para que não vivam na dependência dos subsídios, em especial os das Câmaras Municipais, o que podem as associações fazer? Pelo que foi dito no debate, isso passaria por várias soluções, a aplicar em simultâneo: cobrar entradas nas atividades que promovem (e isso deu logo azo a discussão sobre se a Cultura deve ou não ser gratuita), recorrer a voluntários mesmo para as tarefas mais especializadas, procurar outras fontes de financiamento, através, por exemplo, de candidaturas a programas nacionais e internacionais.

Dália Paulo recordou o caso de algumas associações «que fazem questão de ser inteiramente livres, que têm orgulho de viver sem apoios oficiais» e apontou o exemplo da Associação de Músicos de Faro, «que vive apenas das quotas dos seus associados».

Paulo Pires, o moderador, salientou que «a Cultura é muito mais que dinheiro, mas para ela também é preciso dinheiro». Uma equação difícil de resolver, sobretudo em tempos de crise, durante os quais um dos primeiros setores a sofrer cortes é o da Cultura.

Luís Guerreiro sublinhou que, para além das questões do dinheiro e do financiamento, as associações, em especial as da área cultural, «têm de apostar na criatividade, no talento e na inovação».

A este propósito, também foi falada a questão da profissionalização das associações, um tema que gerou controvérsia, uma vez que parece ter na sua génese uma contradição. Acabou por se concluir que o que se queria falar era sobre a necessária «qualificação» das pessoas que estão nas associações, para além da habitual «carolice».

«As associações têm que ter rigor e profissionalismo», disse Luís Guerreiro, recordando o «grande grau de exigência e de qualificação» que é necessário para preparar uma candidatura a fundos nacionais ou comunitários, por exemplo no caso do QREN.

Paulo Penisga acrescentou que, hoje em dia, «as associações devem ter qualquer coisa de espírito empresarial», no sentido da «qualificação das pessoas que fazem a sua gestão e que são responsáveis pelo planeamento de onde se vão buscar as receitas».

Da audiência, alguém recordou que hoje há «voluntários disponíveis para dar apoio às associações, mesmo em áreas muito especializadas», como as das finanças, da preparação de candidaturas e das tarefas de gestão. «As associações têm que se organizar para saber aproveitar esses voluntários especializados, que são bem diferentes dos carolas de antes, que estavam disponíveis para tudo», disse uma das participantes no debate.

Tendo em conta a falta de preparação da maioria das associações para lidar com as exigências atuais, será que as entidades oficiais podem dar apoio? Luís Guerreiro respondeu que sim, e deu o exemplo da Câmara de Loulé, mas acrescentou: «preparadas estão, só que muitas não o estão a fazer».

Dália Paulo falou do exemplo da Direção Regional de Cultura, que recebe e encaminha pedidos de associações nessa área, mas sublinhou igualmente casos como o do Gabinete do Associativismo, criado em 2011 na Câmara de Albufeira, «para potenciar os recursos e para pôr as associações a falar umas com as outras».

E voltou a falar-se de qualidade, de amadorismo versus profissionalismo, tendo a diretora regional de Cultura defendido que, em sua opinião, «ser amador não é ter falta de qualidade, é amar o que ali se está a fazer»… e fazê-lo mesmo sem ganhar dinheiro com isso…

Quase a terminar, Luís Guerreiro falou naqueles que considera ser os três pilares fundamentais da Cultura: «a liberdade, a descentralização e a qualidade». Frisou que «a liberdade de criar é fundamental» e que, por isso, «as Câmaras Municipais e as outras entidades oficiais, por mais regulamentos e gabinetes de apoio que tenham, só têm é que criar as condições para que os criadores, sejam eles associações, sejam pessoas individuais , possam ter liberdade para fazer o seu trabalho e para criar».

Em fevereiro, em data e local ainda a marcar, o Movimento Arade irá promover o segundo debate deste ciclo «A Cultura em Silves», desta vez mais centrado na vida das associações, convidando responsáveis de várias delas e também da Câmara local.

«Este ciclo de debates é importante, para pôr as pessoas a falar sobre os problemas e as soluções para Silves. Mas nós não queremos só refletir, queremos também intervir», garantiu Paulo Pina.

O Movimento Arade, que integra na sua génese pessoas como Paulo Pina e Francisco Matos (ex-presidente da Câmara), entre muitas outras, ainda está a definir as iniciativas que quer programar ao longo deste ano. «As ideias estão a surgir», garantiu Paulo Pina.

O Movimento surgiu «de conversas de café, em que falávamos sobre tudo e mais alguma coisa referente a Silves e aos problemas do nosso concelho. E um dia começámos a pensar em dar mais alguma formalidade a estas conversas e criar o movimento», disse ainda aquele responsável.

Comentários

pub