Crescimento ou desenvolvimento?

Na semana passada, foi divulgado um estudo, desenvolvido pela Universidade da Beira Interior, sobre as cidades com maior qualidade de […]

Na semana passada, foi divulgado um estudo, desenvolvido pela Universidade da Beira Interior, sobre as cidades com maior qualidade de vida, estudo esse em que a região do Algarve dominou os trinta primeiros lugares, com onze municípios.

Em primeiro lugar, não consegui perceber quais os parâmetros de classificação para que se alcançasse tais conclusões (ainda aguardo a publicação definitiva do estudo) e em segundo lugar duvido muito daquilo que é considerada a qualidade de vida, nomeadamente quando assistimos, por exemplo, no Município de Portimão à degradação dos espaços verdes que carecem de manutenção ou até mesmo às ruas cheias de buracos (para não falar em pormenor do acesso ao centro de saúde em terra batida) e, mesmo assim este município aparece classificado em 13º lugar. Será que há qualidade de vida com os espaços de recreação e lazer dados ao abandono? Com um acesso a um equipamento de prestação de serviços de saúde em terra batida e degradado? Ou com uma situação económica desastrosa?

Este tipo de estudos remete a minha caixa de pensamentos para a questão que dá o título a este artigo. Será que o Algarve é uma região desenvolvida ou não passa de uma região crescida? É que sem dúvida alguma que crescemos, e muito (no litoral), possuímos atualmente estruturas de apoio e resposta ao turismo, algumas delas em duplicado e até em triplicado (por exemplo, na área de Portimão existem 3 salas de espetáculo).

A diferença entre estes dois termos parece ténue, contudo, ao olharmos para ambas as definições percebemos que as diferenças são mais que muitas. O desenvolvimento pressupõe a passagem de um estado atual a um estado aperfeiçoado, enquanto crescer significa apenas isso mesmo, crescer, aumentar ou expandir.

Como já referi atrás, a atividade turística foi a grande impulsionadora do crescimento da região algarvia, nomeadamente quando falamos de empreendimentos turísticos, campos de golfe, centros comerciais e outras estruturas. Contudo, não vivemos só do turismo, apesar de este sector ser da maior importância para a região, e é necessário pensar nas pessoas que cá vivem que querem uma região desenvolvida de forma ordenada e não uma região crescida, pobre (o valor das candidaturas dos nove municípios algarvios ao PAEL representa 25% do total de candidaturas do país), desordenada e com a maior taxa de desemprego do país.

O Algarve foi a primeira região do país a ter um Plano de Ordenamento do Território (Plano de Ordenamento Paisagístico do Algarve, 1969) e afirma-se como a região mais desordenada, com prédios amontoados em cima de moradias, que, por sua vez, se encontram amontoadas em cima de arribas, um ecossistema sensível e altamente dinâmico. Nem os espaços ditos “naturais” escapam, como referi no último artigo.

Desta forma, vou mais uma vez à minha caixa de pensamentos e pergunto: Qual a razão de termos legislação e planos se estes não são postos em prática? Será que devemos deixar de investir em Planos, ou devemos começar a respeitar os planos que temos e punir os interesses de alguns?

Siga com a punição de interesseiros, que os Planos são imprescindíveis para o ordenamento correto do nosso território e da nossa paisagem. Os pensamentos egocêntricos dos especuladores imobiliários e companhia só se preocupam em encher os próprios bolsos e não estão minimamente preocupados com o desenvolvimento da nossa região, sim nossa, porque como algarvios temos o dever de nos insurgirmos contra tudo aquilo que representa ameaça ao meio em que vivemos, devendo promover o desenvolvimento da nossa região e não o crescimento e proliferação de empreendimentos turísticos sem qualquer coerência.

Ultimamente começou a dar-se maior importância a factores de desenvolvimento, nomeadamente quando se olha para os produtos locais com o objetivo de os comercializar dentro e fora de portas. O meio rural votado ao abandono durante anos, alvo de um êxodo extremo, afirma-se atualmente como a solução mais imediata para obter algum ganho no que diz respeito ao desenvolvimento económico e social da região. Ao nível ambiental, andamos ainda devagar, mas a temática ambiental, infelizmente, anda sempre lá atrás.

O Algarve tem tudo para ser uma região de excelência e com níveis de qualidade de vida bastante elevados. Só depende da mentalidade e vontade do poder local e do poder central mudar a situação que se vive atualmente nesta região.

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