Bióloga portuguesa vence prémio americano por olhar as células por dentro

Mónica Bettencourt-Dias, investigadora principal do grupo de Regulação do Ciclo Celular do Instituto Gulbenkian de Ciência*, recebeu a bolsa “Keith […]

Mónica Bettencourt-Dias, investigadora principal do grupo de Regulação do Ciclo Celular do Instituto Gulbenkian de Ciência*, recebeu a bolsa “Keith R. Porter” da Sociedade Americana de Biologia Celular (ASCB).

Este prémio anual foi estabelecido em 1999 e reconhece a excelência do trabalho de um biólogo celular no início ou meio da sua carreira científica e tem como objetivo encorajar outros jovens e cientistas a prosseguir os estudos nesta área. A bolsa poderá ser utilizada a partir de Janeiro de 2013.

Keith R. Porter, que morreu em 1997, é considerado por muitos o pai da biologia celular. Foi o primeiro cientista a observar células inteiras no microscópio electrónico e um dos primeiros a estudar a estrutura dos flagelos, entre muitas outras estruturas das células.

Os antigos estudantes deste cientista criaram um fundo em 1981, “The Keith R. Porter Endowment for Cell Biology”, em reconhecimento pelo seu enorme contributo no campo da biologia celular e educação de jovens cientistas. Este fundo promove a comunicação e educação de jovens cientistas neste campo. O prémio de 5000 dólares permite organizar atividades educativas ligadas à biologia celular, como seja o apoio à realização de uma conferência.

O trabalho do laboratório de Mónica Bettencourt-Dias foca-se no estudo da multiplicação e movimento das células. As células têm um esqueleto que organiza a localização dos seus diversos componentes, tal como as estradas de uma cidade.

O seu laboratório tem elucidado como é que o esqueleto das células é formado, em particular o papel dos centrossomas, estruturas muito pequenas nas células. Os centrossomas ajudam as células a multiplicarem-se e a formarem os seus flagelos, permitindo-lhes moverem-se.

Alterações nestas estruturas estão associadas com doenças como o cancro e infertilidade.

A comunicação de ciência é também uma área a que Mónica Bettencourt Dias dá mais atenção, tendo feito um curso de dois anos em Inglaterra e organizado várias atividades para promover esse campo.

Mónica Bettencourt-Dias diz que “é uma honra receber um prémio com o nome do cientista que descobriu as estruturas com que trabalhamos”.

“Não sendo norte americana, nem trabalhando lá, é uma honra ter o nosso trabalho reconhecido pela comunidade científica Americana. É um prémio muito prestigiante, tendo sido antes atribuído a cientistas que admiro imenso. Recebi um email a dizer que tinha havido uma nomeação e votação, não fazia a mínima ideia- foi uma surpresa muito simpática antes do Natal”.

A bolsa Keith R. Porter foi anunciada na conferência anual da ASCB (15-19 Dezembro 2012), em São Francisco, a maior e mais importante conferência mundial na área da biologia das células.

O trabalho do laboratório de Mónica Bettencourt-Dias já foi reconhecido com vários prémios europeus para jovens cientistas, como da Eppendorf (2007), da Organização Europeia de Biologia Molecular (EMBO- 2009) e do Conselho Europeu de Investigação (ERC-2010), tendo já este ano vencido, pela segunda vez, o Prémio Pfizer de Investigação Básica. Esta é a primeira vez que recebe um prémio norte-americano.

 

Sobre Mónica Bettencourt-Dias

Mónica Bettencourt-Dias, 39 anos, lidera o laboratório de Regulação do Ciclo Celular do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), em Oeiras.

Mónica Bettencourt-Dias licenciou-se em Bioquímica pela Universidade de Lisboa e fez o doutoramento em regeneração cardíaca na University College London, Reino Unido.

Após o doutoramento, fez investigação na Cambridge University, Reino Unido, mudando-se em 2006 para o IGC para criar o seu próprio grupo de investigação. Mónica Bettencourt-Dias tem uma pós-graduação em Comunicação de Ciência pelo Birkbeck College, Reino Unido.

O grupo de investigação que lidera tem publicado artigos relevantes na área da divisão e mobilidade celular tendo sido premiado com bolsas de instalação da Câmara Municipal de Oeiras e da EMBO (Organização Europeia para a Biologia Molecular), Crioestaminal, Eppendorf e EMBO Young Investigator Award, uma bolsa do Programa Harvard-Portugal da Fundação para a Ciência e Tecnologia e outra do Conselho Europeu de Investigação.

Por duas vezes venceu o prémio Pfizer em Investigação Básica.

 

Autora: Inês Domingues
Comunicação de Ciência e Relações Externas/ Instituto Gulbenkian de Ciência
Ciência na Imprensa Regional – Ciência Viva

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