Negócios crescem de Portimão para a Europa e para o Médio Oriente

Em tempos de crise, falar de empresas que crescem, expandem os seus negócios e se internacionalizam, pode parecer estranho. Para […]

Em tempos de crise, falar de empresas que crescem, expandem os seus negócios e se internacionalizam, pode parecer estranho. Para mais quando não se trata de empresas de grandes dimensões, nem sediadas nos centros de decisão, mas antes de uma microempresa e de uma PME, ambas com sede em Portimão.

Mas foi tudo isso que aconteceu esta segunda-feira, em mais uma Beta Talk, no Café-concerto do Teatro Municipal de Portimão. Os protagonistas foram Pedro Castro Gonçalves, da Mercearia Bio, e Luís Caetano, da Burguer Ranch.

A Mercearia Bio, criada em 2007 por Pedro Gonçalves quando estava desempregado da sua área de trabalho e de formação de sempre (a hotelaria e restauração), vende produtos alimentares biológicos, através de uma loja online, com entrega ao domicílio, e de uma loja física, situada no armazém da Companheira (Portimão), hoje aberta todos os dias. No início, o projeto contou com o apoio do CRIA, a Divisão de Empreendedorismo e Inovação da Universidade do Algarve.

«Ao contrário de outras áreas, esta é uma área de negócio que, nesta altura, está em expansão e que ainda tem muito para dar em termos de crescimento», garantiu o empresário nascido no Porto mas radicado no Algarve, de 40 anos.

É que, enquanto em países como a Alemanha a alimentação biológica representa 10% de todo o mercado alimentar, em Portugal ainda nem sequer se atingiu o patamar do 1%.

Esse potencial de crescimento pode constatar-se pelos números: «este ano, a nossa faturação passou de 150 mil euros para 200 mil, um aumento de 30%», explicou Pedro Gonçalves. «Depois de cinco anos de prejuízo acumulado, finalmente há pouco tempo a minha contabilista disse-me: parece que temos aqui algum lucro!».

Tendo a sua sede no Algarve, onde reside uma importante comunidade de estrangeiros, seria de esperar que a maior parte dos clientes da Mercearia Bio fossem alemães, holandeses ou ingleses, mas isso até nem é verdade, já que a maioria são mesmo os portugueses. «Em número, os clientes estrangeiros não têm a fatia maior, mas eles têm uma alimentação biológica mais consistente e, por isso, o seu gasto médio é superior ao dos portugueses».

E os produtos que mais se vendem são os hortícolas e as frutas frescas, fornecidos sobretudo por
produtores certificados da região. Apesar de a Mercearia Bio oferecer de tudo, desde massas, azeites e vinhos, até sumos, carnes, café, chá, laticínios, charcutaria, tudo com a chancela da produção biológica, o que mais se vende, em volume, são mesmo as batatas, as cebolas, as cenouras e as alfaces.

 

Mercearia Bio quer abrir «mercearia à moda antiga» e exportar

 

O projeto inicial de Pedro Gonçalves era abrir mesmo uma mercearia, «que fosse beber ao conceito da antiga mercearia portuguesa, embora recorrendo às tecnologias atuais, como a internet». O projeto de abrir uma loja física, pelo menos uma tão bonita com os sonhos de Pedro, foi ficando adiado, devido aos custos.

Mas agora o empresário diz que está a retomar essa intenção e talvez em breve abra uma verdadeira mercearia, «para aqueles clientes que nunca irão comprar-me os produtos através da loja online, na internet e mesmo para aqueles que, fazendo-o, gostam do contacto pessoal».

Quanto a localizações possíveis, Pedro Gonçalves garante que não será em Portimão. E porquê? Para já porque, explica o empresário, «Portimão não tem sido a cidade onde mais temos crescido», depois porque, apesar da crise, «as rendas são ainda muito altas numa boa localização no centro da cidade». Por isso, prefere uma localização «fora das cidades, com boas vias de acesso», por exemplo na zona de Lagoa. Mas tudo isso é, para já, um plano.

Também já passou pela cabeça do empreendedor «replicar o conceito» da Mercearia Bio, tanto mais que já tem clientes pelo país fora e faz entregas praticamente de Norte a Sul. Mas como fazer isso? «Através de franchising? Com lojas próprias?». Para já Pedro Castro Gonçalves ainda não decidiu.

«Temos também interesse na internacionalização do negócio através da exportação», acrescenta perante uma plateia de cerca de 40 pessoas que participaram em mais uma Beta Talk. «Os pequenos produtores biológicos portugueses têm dificuldade em internacionalizar-se e nós poderíamos ser o elo de ligação entre os vários produtores, criando uma carteira de produtos para exportar».

«Mas se quisermos expandir o negócio, teremos de encontrar um financiador e a banca não é solução!» A nível de financiamentos, Pedro salienta que todas as linhas de crédito do QREN têm a componente da exportação, por isso a expansão da Mercearia Bio «seria por aqui».

 

Internacionalização e em força

 

Internacionalização, e em força, é também o caminho que quer seguir a Burguer Ranch, a primeira cadeia de hamburguerias criada em Portugal e que tem sede em Portimão.

Luís Caetano, nascido em Joanesburgo, na África do Sul, e filho de pais madeirenses, criou o negócio em 1997 com um sócio, seu tio, que abriu o primeiro restaurante de hamburgueres na Praia da Rocha. A segunda loja foi aberta logo depois na Rua do Comércio, em Portimão, então o ponto de maior movimento da cidade.

Hoje a Burguer Ranch tem 27 lojas em todo o país (Continente e Açores), das quais nove no Algarve e 15 na Grande Lisboa, algumas delas em franchising.

Focando-se em abrir mais restaurantes e em vender mais hamburgueres, a Burguer Ranch foi crescendo sempre mais e mais…até 2010. «Estávamos mal acostumados a crescer todos os anos, loja a loja, hamburguer a hamburguer. De repente, quando houve este abrandamento na economia, tudo mudou. Tivemos que repensar tudo, que renegociar tudo: a gerência dos restaurantes, as rendas dos espaços, o pessoal, tudo!».

«Este tem sido o nosso trabalho em 2012: repensar, renegociar. Tivemos que o fazer para podermos avançar», diz Luís Caetano.

Este ano, apesar de tudo, a cadeia de fast-food de base algarvia decidiu expandir os seus negócios. E foi assim que, em parceria com franqueados especializados em eventos, o grupo decidiu apostar num mercado inteiramente novo, o dos grandes eventos e festivais de verão. Vai daí compraram um camião de 15 metros de comprimento e cinco de largura e transformaram-no num verdadeiro restaurante móvel, por forma a poder estar presente e vender os seus produtos nos eventos onde os consumidores estão.

A estreia do camião Burger Ranch On Tour deu-se no Carnaval de Torres Vedras, tendo depois passado pelos grandes festivais de verão. O maior sucesso foi no Rock in Rio. «Foi um sucesso total! Nunca vendemos tantos hamburgueres num dia como no Rock in Rio».

O sucesso do Burger Ranch On Tour mede-se não só pela quantidade de hamburgueres vendidos, como, sobretudo, pela notoriedade que trouxe à marca, a nível nacional. «É muito importante a marca estar no sítio certo!», garantiu o empresário.

 

Burguer Ranch abre em Abu Dhabi em maio ou junho de 2013

 

O próximo passado desta cadeia de fast-food algarvia, 100% de origem portuguesa, é agora a internacionalização. E não se pense que a Burguer Ranch decidiu apostar em Espanha ou no resto da Europa, para fazer mais do mesmo. Não! O objetivo é a região MENA (Middle East e North África, ou seja, Médio Oriente e Norte de África). «Tudo indica que o primeiro restaurante Burguer Ranch em Abu Dhabi vai abrir em maio ou junho de 2013», anunciou Luís Caetano.

Mas como é que começou esta aventura para a região emergente do Médio Oriente? Quando o negócio começou a arrefecer em Portugal, com a crise (a que Luís Caetano prefere chamar «abrandamento económico»), o empresário lembrou-se do contacto com um consultor inglês que tinha conhecido em 2006 numa feira internacional de Franchising e que lhe tinha sugerido, já nessa altura, precisamente vender o master da marca para outros mercados, nomeadamente na região MENA.

«Nós atuamos no segmento de mercado mais difícil do mundo, a competir com o major player de todo o mundo», a McDonald’s, que o empresário algarvio faz questão de nunca referir.

Só que, no difícil mercado do Médio Oriente, «onde já estão todas as grandes marcas», a Burguer Ranch tem algo que a diferencia e a valoriza aos olhos dos investidores locais e do próprios consumidores: o facto de não ser uma marca norte-americana, mas sim europeia, portuguesa!

Nas apresentações para potenciais investidores que Luís Caetano fez no Dubai, no ano passado, foi isso mesmo que enfatizou: «Somos europeus! Somos portugueses!». E pelos vistos a mensagem passou. «Conhecemos uma empresa da área do petróleo, mas também da restauração, e na semana seguinte já estávamos a assinar uma carta de intenções para abrir 107 restaurantes na região MENA», recorda o empresário portimonense.

Preparando essa internacionalização, e de modo a que a qualidade e o sabor Ranch Burguer sejam mantidos no Médio Oriente, «nos últimos seis meses temos estado a traduzir para inglês os nossos manuais de operação, as nossas normas HCCP». «É bastante gratificante ver que foi possível dar este passo de internacionalização e estou bastante orgulhoso por termos conseguido isto», sublinha.

Com os mesmos consultores ingleses, «brevemente poderemos explorar a oportunidade de evoluir para o mercado do Leste, a Rússia, a Polónia, a República Checa». E os planos não ficam por aqui: «em Angola já tivemos algum interesse, mas agora não. O que também estamos a ver é o mercado de Cabo Verde. Se expandirmos para lá, seremos a primeira marca de hamburgueres a estabelecer-se em Cabo Verde».

«Em tempos difíceis, muitas empresas mudam tudo, cortam tudo. Nós reduzimos em alguns aspetos do negócio, mas também investimos mais noutros. Para nos mantermos, há que saber como nos adaptarmos às novas condições, não podemos continuar a fazer sempre o mesmo, da mesma forma. Quando saí da faculdade, fiz um business plan. Mas depois mandei o business plan às urtigas! A realidade é diferente do que está escrito nesses business plans».

 

Conselhos: trabalho, trabalho, trabalho!

 

Pedro Castro Gonçalves: «se trabalhavam mais para os outros e agora, para vocês, em nome próprio, estão a trabalhar menos, então alguma coisa está a correr mal».

«Começar por pensar em grande, mas executar em pequeno e depois ir crescendo à medida do crescimento do próprio negócio».

Luís Caetano: «para lançar um negócio, não é importante fazermos tudo o que esse negócio implica. O que temos é que especializar-nos naquilo em que somos bons».

«Os empresários portugueses têm a mania de reclamar, de dizer sempre que está tudo mal. E agora até está! Mas já diziam isso quando estavam a ganhar fortunas. Aprendi muito com a cultura inglesa: se há um obstáculo, é preciso ultrapassá-lo».

 

Fotos de: João Jesus Etic_Algarve

 

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