Aljezur quer estratégia para tirar partido do surf

No concelho de Aljezur, há mais de uma dezena de lojas ligadas ao surf e ao bodyboard e outras tantas […]

No concelho de Aljezur, há mais de uma dezena de lojas ligadas ao surf e ao bodyboard e outras tantas escolas de surf. Há ainda hostels e outras unidades de alojamento viradas para os surfistas. O surf é uma atividade que atrai milhares de pessoas de toda a Europa – e não só – à Costa Vicentina, ao longo de todo o ano.

Por todas estas razões, a Câmara Municipal de Aljezur quer que seja definida uma estratégia para o surf, que deve até ter âmbito nacional. Nesse sentido, a autarquia aprovou já uma proposta, que enviou para o Ministério do Ambiente, para a Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), para as Capitanias e para as outras Câmaras Municipais ligadas ao tema, no Algarve, mas também no Norte e no Centro do país.

«Há uma enorme desarticulação na forma como o surf é tratado na zona Norte, Centro ou Sul do país. O que queremos não é que seja criada uma Bíblia, mas que haja regras comuns e, sobretudo, uma verdadeira estratégia para o surf», salientou José Amarelinho, presidente da Câmara de Aljezur, em declarações ao Sul Informação.

«O surf é um produto muito importante para nós, aqui na Costa Vicentina. Mas falta um fio condutor. Há vários atores e várias formas de desenvolver a atividade, mas não estamos todos a trabalhar para o mesmo lado».

O autarca algarvio considera que, a nível nacional, se tem vindo a «implementar estratégias de forma desgarrada. Havia um projeto de criar vários Centros de Alto Rendimento de Surf ao longo da costa, mas acabou por apenas surgir o de Peniche. No Algarve, até se previa dois centros, um na Praia do Amado (Aljezur) e outro no concelho de Vila do Bispo. Mas não vão avançar, por falta de dinheiro».

Amarelinho lamenta também o facto de as autoridades e entidades oficiais «puxarem cada uma para seu lado»: «cada Capitania tem a sua forma de abordar a questão, enquanto o Instituto de Conservação da Natureza e a Agência Portuguesa de Ambiente têm responsabilidades, mas pouco fazem. O ICN e a AP têm de vir a jogo para estabelecer, com as Câmaras Municipais, regras para esta atividade, que tem impactos no litoral e que, no caso de Aljezur, até se desenvolve numa zona de Parque Natural. Não podem é ficar numa postura de simplesmente proibir ou não fazer nada».

 

Polis têm projetos mas está num impasse

Uma esperança para que as coisas avançassem tinha surgido com o Polis Litoral Costa Sudoeste, mas este programa tem estado numa fase de impasse. José Amarelinho salienta que este Polis já definiu o que é preciso fazer e as estruturas de apoio a criar. «Agora é preciso passar dos projetos à implementação no terreno, é necessário agora lançar os concursos pela APA».

«Todos os anos há milhares de surfistas que visitam as nossas praias – Amado, Odeceixe, Amoreira, Arrifana – apenas por causa da fama dos seus hot spots de surf. São surfistas que vêm de todo o país, de toda a Europa e até de fora. São pessoas que vêm durante todo o ano, porque o surf não é uma atividade sazonal. Ainda há dias estava o tempo muito cinzento, mas o mar estava ótimo para o surf e havia mais de 50 surfistas no mar, na Arrifana. Para a prática do surf o tempo estava fantástico».

«Mas é preciso que, quando chegam cá, essas centenas, milhares de surfistas encontrem estruturas apropriadas e com uma linguagem única, até para limpar a cara das praias, que às vezes mais parecem um autêntico caos. As próprias escolas de surf e as associações que estão nessas praias e que há anos trabalham aí têm interesse em fazer esses projetos».

Sobre a questão das regras, Amarelinho dá o exemplo da praia da Arrifana, que é utilizada por várias escolas de surf e que tinha três corredores para surf, mas também é visitada por famílias, que apenas querem tomar banho. Por isso, «houve que conciliar, que articular. Na época balnear passada só funcionaram dois corredores de surf e a coisa correu bem. Há que haver regras, mas essas regras têm que ser definidas também em conjunto com as escolas e associações de surf, que conhecem o terreno e o mercado».

Questão que se coloca sempre que se fala do surf é a do campismo e caravanismo selvagem junto às praias, nomeadamente junto à Praia do Amado, onde, em certos dias, mais parece que ali aterrou uma multidão de nómadas.

«O Polis prevê a criação de parques de campismo de apoio. Mas a questão tem que ser tratada de forma cuidadosa: não se pode indicar uma localização exclusiva para este tipo de equipamentos, até porque, se calhar, o terreno que o Polis indicar é privado e o dono pode não querer construir lá um parque de campismo ou então pede muito dinheiro, e tudo volta a ficar parado. O que se deve fazer é convidar eventuais investidores a apresentar os seus projetos para autocaravanismo e campismo e depois o Polis terá de avaliar esses projetos, de acordo com as contingências do ordenamento do território».

De qualquer modo, sublinha o autarca de Aljezur, «nenhuma infraestrutura de parque de campismo ou de autocaravanismo deve ficar colada à praia, dentro da praia. Há boas localizações mais póximas das povoações, um pouco mais para o interior».

No Amado, por exemplo, José Amarelinho defende que o futuro parque se faça «junto ao aglomerado urbano. Assim, as tendas ficam lá. Durante o dia, os carros dos surfistas ficam estacionados no parque junto à praia, mas à noite recolhem à estrutura criada para os acolher, com todas as condições. E com isso trazem mais movimento às lojas e restaurantes da povoação».

 

Surf é importante para a economia local

O que é certo é que, defende, «é necessário que algo se faça e que surjam projetos de privados!». «Estas estruturas vão ser muito importantes para regrar o estar junto às praias e haver respeito entre todos». E também para criar algum emprego.

Sim, porque, para a Câmara de Aljezur, o surf é já encarado como uma atividade económica importante no seu concelho. «Há mais de uma dezena de empresas sediadas aqui, criadas por nados e criados em Aljezur. Há lojas, escolas de surf, alojamentos. Isto mexe com o tecido económico do concelho, e isso acontece ao longo de todo o ano. Por isso temos que criar condições».

«Por nós, estamos disponíveis para estudar, com outros municípios, com outras entidades, uma estratégia para o surf no Algarve e em Portugal. O que é preciso é que isso não seja um fogo fátuo como aconteceu coma Carta de Desporto de Natureza, que, depois de tanta discussão e de alguma polémica, ficou em águas de bacalhau».

«Há dificuldades que nós sentimos no dia a dia, as mesmas que sentem as escolas, as associações e os surfistas. Deve ser o Ministério do Ambiente, que tutela o litoral, a liderar este processo. Mas se não quiser ou não puder fazê-lo, então que o diga claramente, porque haverá com certeza quem o queira fazer», concluiu o presidente da Câmara de Aljezur.

A proposta da autarquia termina precisamente assim: «Vimos assim manifestar a urgência da realização de um estudo aprofundado sobre a realidade do Surf, no nosso país, assim como a necessidade de criar uma estratégia nacional para o mesmo. O Mar e as suas ondas não se esgotam, nem têm épocas. Interessa, assim, explorar este produto. Criando uma regulamentação, uma estratégia, equipamentos e infraestruturas, numa aposta concreta e forte, num produto que é seguramente uma mais-valia enquanto desporto, enquanto produto turístico, enquanto valor económico-financeiro, para o nosso país, para a região e para o nosso concelho».

 

Leia aqui a proposta da Câmara de Aljezur para uma Estratégia para o Surf

 

 

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