Quando o Algarve não é só sol e praia

O que têm em comum as palavras areia, sol e tornado? Aparentemente nada, contudo na passada sexta-feira assistimos, no Barlavento […]

O que têm em comum as palavras areia, sol e tornado? Aparentemente nada, contudo na passada sexta-feira assistimos, no Barlavento algarvio, a fenómenos meteorológicos extremos (um tornado) que levaram a avultados prejuízos materiais e pessoais. Pois é, o Algarve não é só sol e praia, estando sujeito a fenómenos destes, nomeadamente pela sua proximidade ao oceano.

Os cerca de 300 dias de sol que vivemos todos os anos na região algarvia deixam de parte 65 dias em que chove e muito. Será que estamos preparados para este tipo de fenómenos intensos e de curta duração? Muito provavelmente não, até porque, se nos deslocarmos de carro ao longo das estradas algarvias e olharmos à nossa volta, encontramos ribeiras, riachos e barrancos completamente impermeabilizados e alguns até canalizados, o que em situações de chuva intensa, como a que se verificou na passada sexta-feira, causa graves danos materiais e até pessoais, com a destruição de hortas, estradas e pontes ou até mesmo a perda de vidas humanas.

As cidades do litoral algarvio não estão minimamente preparadas para subidas repentinas do nível da água devido a chuvas intensas. Basta chover com intensidade meia hora e assistimos a cheias em Faro, Tavira, Portimão e Albufeira.

Esta falta de preparação, em minha opinião, deve-se a dois fatores: primeiro a proliferação urbana sobre os leitos de cheia e muitas vezes sobre o próprio leito das ribeiras (caso da baixa de Albufeira ou da área do sapal em Portimão), em segundo a falta de condições de drenagem dessas mesmas áreas.

Estes dois fatores juntos levam, claro está, a prejuízos avultados e nem mesmo os piores exemplos, como o caso da Madeira em 2010, faz com que os decisores políticos entendam que o sistema hídrico de um território é altamente dinâmico sendo completamente irresponsável a sua canalização ou impermeabilização.

Em jeito de conclusão, fenómenos meteorológicos extremos como chuvas intensas ou até mesmo tornados, como o que devastou Lagoa e Silves na passada sexta-feira, não podem ser previstos, mas certamente podem ser minimizados os efeitos devastadores que estes fenómenos provocam, com a aplicação de políticas de gestão do território, que não visem apenas a componente física do planeamento, mas que introduzam a componente estratégica, com a incorporação de cenários deste tipo, fazendo com que até a resposta a estas situações seja muito mais eficiente.

 

Autor: Tiago Águas é licenciado em Arquitetura Paisagista pela Universidade do Algarve

 

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