Os empresários também podem ter um anjo da guarda

Não é só no mundo dos sonhos que há anjos da guarda. Também os há na vida real: são os […]

Não é só no mundo dos sonhos que há anjos da guarda. Também os há na vida real: são os business angels, os anjos dos negócios, investidores privados em empresas que estão a dar os primeiros passos (as start ups).

Esta é uma figura que nasceu nos Estados Unidos, se espalhou pelo mundo inteiro e até já chegou à região algarvia, através da associação Algarve Business Angels (ABa). João Pires, presidente dos ABa, revelou ao Sul Informação que, na região, já há 22 destes investidores especiais, «mas temos uma target list de mais 31». «Estamos em processo de angariação de novos business angels no Algarve e eles existem».

E o que são e fazem estes Business Angels? São «investidores privados e informais de capital de risco», «indivíduos que têm alguma disponibilidade financeira para investir, mas que têm sobretudo capital de conhecimento».

Falando na conferência «O Algarve e as Perspetivas Financeiras», em Tavira, na sexta-feira passada, João Pires explicou que o que estes anjos dos negócios fazem «não é um apoio, não é um financiamento, é um investimento de um indivíduo, com o seu dinheiro, que entra para o capital social de uma empresa e vai ser sócio e por vezes até vai trabalhar nessa empresa. Quem investe é particularmente exigente, porque vai lá por o seu dinheiro».

Apesar de ser hoje a região do país onde a crise é mais aguda – tem a taxa de desemprego mais alta de Portugal e é aqui que mais tem crescido o endividamento das empresas -, o Algarve está em desvantagem em relação às restantes regiões portuguesas no que diz respeito à possibilidade de investimento através dos Business Angels.

É que a comunidade de Business Angels tem, neste momento, ao dispor dos empreendedores portugueses a quantia de 42 milhões de euros, através de um fundo de capital de risco no âmbito do COMPETE. O problema é que o Algarve, por ser considerado uma região “quase rica” (em phasing-out), está fora da possibilidade de acesso àquele fundo. «Temos que ter este fundo operacionalizado também para o Algarve. Não pode haver discriminação», sublinhou João Pires.

Apesar deste constrangimento importante, os BA algarvios não baixam os braços e continuam à procura de «negócios com capacidade de crescimento» onde investir. «Junto do CRIA [o Gabinete de Empreendedorismo da Universidade do Algarve], estamos a incentivar um determinado tipo de empreendedorismo que terá mais possibilidade de interessar aos nossos investidores», explicou o responsável pelos BA algarvios.

«A Algarve Business Angels propõe-se atuar em três vertentes essenciais: incrementar o número de Business Angels na região, nomeadamente aproveitando a comunidade estrangeira residente no Algarve; atuar no meio ambiente empreendedor regional, por forma a ter mais projetos e empreendedores preparados, para receber meios financeiros de Business Angels; sensibilizar as entidades locais e regionais no sentido de incrementar o desenvolvimento de programas de apoio ao empreendedorismo, segundo as melhores práticas do que ocorre noutras regiões do país», acrescentou João Pires.

No âmbito da preparação dos empreendedores, João Pires realça a importância da «aliança estratégica com a Universidade do Algarve», através do professor Carlos Cano Vieira.

Tendo como objetivo afirmar a importância dos Business Angels, num momento crítico do país, como «elementos chave na criação e expansão de empresas de elevado potencial de crescimento», a FNABA – Federação Nacional de Associações de Business Angels promoveu na semana passada, em Portimão, a conferência de abertura da Semana Nacional de Business Angels.

A iniciativa marcou também o início de funções da nova estrutura da Algarve Business Angels, que se afirma como estando «em condições de ser o interlocutor certo ao nível dos investidores privados (Business Angels)».

«Atualmente, devido à crise, os custos de investimento relacionados com a criação e implementação de uma empresa são significativamente mais baixos. Se antes, por exemplo custava 100, agora devido à conjuntura pode custar 40, 50 ou 60. Também existe mais disponibilidade de talento (recursos humanos) de qualidade, o que é um outro fator de relevo na decisão de se avançar com uma nova empresa. Neste momento, para muitos investidores, os produtos bancários já não são suficientemente interessantes, do ponto de vista da rentabilidade versus risco. O mercado de capitais também não se apresenta como alternativa de investimento. A dívida soberana que sempre foi um refúgio deixou de o ser. Pelo que ser Business Angel, investindo em start ups, acaba por ser uma hipótese interessante para cada vez mais investidores», explicou, nessa conferência Paulo Andrez, o português que é presidente da European Business Angels Network.

Por seu lado, Francisco Banha, presidente da FNABA, acrescentou que «naturalmente que os Business Angels são parte essencial de um ecossistema empreendedor que se quer forte, dinâmico e multifacetado. E vejo como algo muito significativo o facto de termos tido todos juntos na assistência, empresários, empreendedores, Business Angels, professores, representantes de organismos públicos e alunos. Isto indicia que o Algarve acolhe com muita recetividade, o incremento da ação dos Business Angels na região».

«Com esta nova estrutura, a Algarve Business Angels está agora em condições para, de forma organizada e efetiva, agregar os potenciais investidores que desejam ter acesso a ideias de negócio de elevado potencial de crescimento. Desta forma, a Aba está em condições de acolher os projetos dos empreendedores que necessitem de investimento, para de forma assertiva apresentá-los aos seus Business Angels», disse Domingos Silva, BA algarvio.

Como em tudo no mundo atual, o sucesso no mundo dos negócios não passa por fazer mais do mesmo. Na conferência «O Algarve e as Perspetivas Financeiras», em Tavira, João Pires recordou os exemplos algarvios de investimentos recentes e inovadores no azeite, nos frutos vermelhos e na flor de sal para concluir que o que é preciso fazer é pensar «as nossas ideias de negócio em torno do que o mercado quer». Uma chave aparentemente simples para o sucesso de uma empresa ou ideia de negócio que, se for inovadora e tiver potencial de crescimento, poderá ficar sob as asas dos anjos dos negócios.

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